terça-feira, 25 de junho de 2013

O CAPITALISMO DO EIKE BATISTA

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o capitalismo convive com mercado promíscuo, porém rejeita a
prepotência de Eike Batista, aumentada com o prejuízo da falsa
riqueza
Eike está tecnicamente "quebrado". As empresas do Grupo X
devem mais que o valor do patrimônio. Em março corrente suas
ações em Bolsa valiam R$ 8 bilhões e as dívidas passavam de R$
16 bilhões, sem levar em conta as da holding EBX (com capital
fechado) e dívidas pessoais do controlador.
O maior credor e investidor é o BNDES,com R$ 6 bi e mais R$ 3 bi
em vias de ser aprovado para a MMX, com dinheiro do Fundo de
Amparo ao Trabalhador - FAT. O segundo é a Caixa Econômica
Federal (CEF), com R$ 2 bi, com R$ 0,7 bi do Fundo de Garantia
do Trabalhador - FGTSja seguir os Bancos ltaú, com R$ 1,46 bij
o Bradesco, com R$ 1,25 bij o Santander R$ 0,68 bij e, o BTGPactuai,
com pelo menos R$ 2 bi, mas diante do risco, igual ao
agiota, tomou o controle das empresas, pois quem parte reparte e
fica com a maior parte. O magnata, que detinha 700/0 do capital,
com a nova administração, pOderá ficar com 200/0, ou menos.
Falta apurar bônus e dívidas com os bancos estrangeiros e com a
Receita Federal.
As IPOs do Grupo X levantaram em nossa Bolsa, cerca de R$ 26
bi. Portanto, o governo ajuda na gastança de seu único filho
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pródigo, mais que quatro anos da Bolsa Família (R$ 11,5 bi, em
2011), que tirou da miséria absoluta milhões de brasileiros.
o espectro que assombra o capitalismo
Ora, como é possível que apenas este escriba tenha visto que o
rei está nu? Extrai pouco petróleo, com custo maior que a receita.
Vende papéis de minas virtuais, portos complicados sem calado e
todo mundo calado. Leiam aqui:
(http://www.brasiI247.com/Dt/247/portfolio/96157/Eike-o_
ouro-de-M idas-gorou! -Eike-ouro- Midas-gorou. htmi
http://www.brasiI247.com/pt/247/ri0247/38788/i
http://www.brasiI247.com/pt/247/portfolio/68457/i
http://www.brasil247.com/pt/247/economia /1571l)
Tudo é uma farsa, propaganda mística inglória, seja no nome, no
Hotel inacabado ou na Marina, cujas obras as empresas X pintam
qual o batom de sua marca falida e bordam no fracassado iate
Pink Fleet. E ainda quer doar à Marinha o barco que está à deriva
na orla do Rio de Janeiro, com a logomarca do sol inca e o lema
na proa: Spirit of Brazil.
Viva Marx!
É o novo espírito do capitalismo, sem capital.
Numa década (do primeiro governo Lula, em 2005, ao terceiro
ano do governo Dilma, 2013) houve uma assustadora ascensão
das empresas X, seguida de violenta queda da fortuna virtual de
Eike Batista. Inclusive, galgou o topo da relação nacional de ricos
e a sétima na lista mundial. Não! Não, isso não é possível ser feito
com trabalho honesto, nem com negócios lícitos. Seria a total
desmoralização do princípio elementar do capitalismo: dinheiro
gera dinheiro, com o trabalho alheio.
Do nada, o especulador mineral, usando da lei de acesso ao
subsolo pátrio, livre ao primeiro requerente de uma área não
onerada, ou por compra de direitos e de expectativa de direitos
minerais, pode de fato fazer fortuna. Pura apropriação da
acumulação primitiva do capital. Porém, a mineração, qualquer
garimpeiro sabe, é uma atividade de risco, que aumenta na
atividade empresarial, nas mãos de neófitos sem capacidade
técnica. Por isso, além de um emaranhado de X, as empresas se
tornaram as incógnitas desta equação em que a conta não fecha.
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Em 2010, cada ação da OGX valia R$ 23,00, agora, em 04 de
março de 2013, entrou em liquidação nas lojas de R$ 1,99. O
mercado cria e destrói os mitos!
o começo da malandragem
O negócio de mineração de Eike Batista começou - conforme
consta no Iivreco "O X da Questão", que pagou para escreverem
para ele - intermediando a venda de diamante em Antuérpia e
atuando na compra de ouro azougado na Amazônia. Mercados
exclusivos de contrabandista. Qualquer um pode desafiar Eike a
mostrar notas fiscais compatíveis com o dinheiro que alega ter
ganhado neste mercado negro. Inclusive, Eike Batista contou do
roubo de 500 mil dólares, sem apontar o Boletim de Ocorrência -
BO, e a contabilização do empréstimo, do novo empréstimo de
igual valor e do pagamento do primeiro milhão de dólares.
Tampouco há inquérito policial do tiro que levou nas costas por
causa desse roubo, pois não justifica alegar que, neste caso, o
outro tem cem anos de perdão.
Cortina de fumaça
logo veio a praga de índio, com os primeiros seis milhões de
dólares tirados no garimpo, com o suor do trabalho de famélicos,
desclassificados do ouro. Eike Batista era o rei do garimpo,
responsável pela compra de boa parcela do ouro do Rio Tapajós. É
criminoso confesso da poluição pelo mercúrio usado na proporção
de uma até quatro vezes em cada quilo de ouro recuperado no
garimpo. A fumaça de mercúrio sublimado era tal que em plena
floresta havia nevoeiro do tipo do fog londrino. O índio ficava
assustado com o milagre, com medo de ver transformado - o
silvícola, agora, já conhecia o poder do ouro - todo o metal
amarelo em espírito maligno. Daí veio a maldição do Pajé,
segundo o folclore nas rodas de garimpo, que tudo que Eikeguera
usa nome indígena dá azar. Podem verificar: Biguaçu, Peruíbe,
Itaguaí, Itatiaiuçu, Açu, Waimea e vai por aí.
Testa-de-ferro e o primeiro bilhão
A fortuna fácil, depois do primeiro milhão, veio com a parceria
com as multinacionais, Anglo American e a Rio Tinto, nas minas
que a "Constituição Cidadã" (1988) vedou ao capital estrangeiro
exclusivo. A antiga prática de usar testa-de-ferro na mineração
ficou provada quando Eike Batista açambarcou áreas marginais
do metal, na região da Reserva Ecológica da Serra do Cipó - MG,
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incorporadas na MMX.Vendeu na planta as futuras jazidas para a
Anglo American, por 5,5 bilhões de dólares, conforme o balanço
de 2007. Porém, no caixa da empresa entrou só U$ 704 milhões,
parte do sinal de U$ 1.15 bi e o restante, caso fosse mantido o
interesse, deveriam ter sido pagos em 2009. No balanço deste
ano, não aparece a entrada do dinheiro, mas, conforme havia sido
previsto em 2007, seria constituída a empresa Newco, com troca
de ações. Entretanto, surgem outras empresas, a IronX,
Centennial Asset Minning Fund LLCe "Anglo American pie", com
sede num notório paraíso fiscal, o estado norte-americano de
Delaware. Neste estado, o segundo menor dos Estados Unidos,
com apenas 850.000 habitantes, contadores alugam escritórios
para sede de empresas que, quando não produzem no país, não
precisam pagar imposto, nem apresentar balanço. Portanto, é
estranho, uma empresa nacional, com sócio controlador
brasileiro, precisar receber o pagamento das concessões minerais
brasileiras por parte de empresa inglesa constituída aqui, com
outra filial na África do Sul, com nova filial nos EUA, sem vínculo
com os interesses da venda.
A Receita Federal, em janeiro de 2013, numa campanha contra
grandes sonegadores, autuou a MMX, por irregularidades
contábeis cometidas em 2007, na astronômica cifra de R$ 3,78
bilhões. Não pode ser pela sonegação de imposto sobre a venda
de minério, pois este tributo é estadual e diferido no produto
exportado. Ademais, a empresa não era e não é grande produtora
de minério e tem dado prejuízos crescentes (R$ 792,4 milhões em
2012). O lucro da MMX ocorreu apenas em 2007 (R$ 400
milhões), quando contabilizou a entrada da venda para os
ingleses.
Então, uma vez que nos balanços posteriores não aparece a
complementação do pagamento feito pela Anglo American, a
multa, tudo indica, foi atribuída por constatar a sonegação da
maior parte dos 5,5 bilhões de dólares da transação, mais ou
menos 11 bilhões de reais, sobre os quais incide o imposto da
ordem de 34%, mais multa e correção. Não pagar tributos pode
não ser crime, mas sonegar, após ter sido declarado no balanço e
na mídia, é complicado.
Negócio para inglês ver
Para piorar a situação, há denúncias, bem fundamentadas, de que
a venda, em vez de ter sido uma esperteza, como "um negócio da
China", na verdade foi "negócio para inglês ver". Não há
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concretude na operação. A Anglo American argumenta que
precisava, urgente, de uma grande mina de ferro - as ocorrências
compradas não são magníficas e vai demorar para produzir -, que
surge do nada. Lembra um conto de fada, seme~hante à lavagem
e expatriação de dinheiro gerado nas minas da Africa do Sul. Faz
sentido. Acabado o apartheid, com o presidente Nelson Mandela
as empresas colonialistas temiam pelo óbvio, o verdadeiro blackpower,
a nacionalização das minas da África do Sul. O perigo
continuou com Jacob Zuma. O trabalho desumano nas minas
precisava cessar.
A Anglo American é o melhor exemplo da usurpação da
acumulação primitiva do capital. Desde 1917, apropriou-se do
ouro, diamante, platina, cromo, cobre e do ferro. Por isso, temia a
expropriação de suas minas e a nacionalização parcial ou total
das empresas. Todas as empresas nesta situação procuraram
formas de expatriar dinheiro. Logo, não é impossível que tal
tenha ocorrido com o auxílio do Midas brasileiro.
A Anglo American neste caso, em vez de ter sido enganada, por
ter pagado mais do que valia a futura mina, conforme voz
corrente no mercado, teria usado o parceiro como "laranja" para
expatriar a mais-valia. Então, Eike Batista, teria recebido, pelo
serviço prestado, o seu primeiro bilhão de reais.
Com parte do dinheiro arrecadado na operação "Serra do Sapo" _
a principal ocorrência da negociação, com pouco minério de alto
teor de ferro (65%), razoável quantidade de minério friável de
ferro de baixo teor (itabirito mole) e grande quantidade de
itabirito duro, que ainda não é considerado minério - Eike Batista
comprou pela MMX, na Serra do Itatiaiuçu - MG, várias
concessões minerais.
No balanço de 2007, estão indicadas as aquisições das Empresas
AGV e Minerminas (U$ 224 milhões), e da Usiminas (U$ 115,6
milhões) no total de U$ 339,6 milhões. Tais valores são elevados
para minas cujo minério rico já foi extraído, com pátios e
barragens com material ferrífero de granulação fina descartado
na época. Agora, Eike Batista, está relavrando despojos e divulga
que possui: "as maiores, as melhores e as mais bem localizadas
jazidas do Quadrilátero Ferrífero". Únicas, inclusive com logística,
com contrato com ferrovia e porto próprio em Itaguaí, na Baía de
Sepetiba - Guanabara.
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Portanto, se Eike Batista com menos de 10% da operação,
comprou "minas melhores" a venda é outro X da questão.
Também não são maravilhas, pois estavam abandonadas, mas,
com os rejeitos, já está produzindo 4 milhões de toneladas/ano e
planeja chegar a 40 milhões. Projeto maior que o da Anglo
American, que pretende exportar 26 Mta., com investimentos de
mais U$ 8 bilhões, para preparar as minas, o mineroduto de 525
km e ver se consegue terminar o Terminal S-1 no Porto Açu. Há
um impasse no porto, previsto para entrar em operação em 2010,
mas as suas obras precisam de mais dois anos para concluir o
quebra-mar (calado de 18 metros), com necessidade de dragar
um longo canal (com 26 m de profundidade) continuamente, se
quiser operar com navios chinamax (300 mil toneladas ou
maiores).
Para confirmar o preço inflacionado da venda das concessões
minerais, na mesma região, no Morro do Pilar, com semelhante
potencial de ocorrências de ferro , em março de 2013, foi
divulgado o projeto de mesma dimensão, com menor custo, da
Mineradora Manabi, que adquiriu por R$ 546 milhões ativos
minerais da empresa Morro do Pilar Mineração.
Quanto ao Porto Sudeste, neste local havia uma pedreira
abandonada. Eike precisava de mais de 2 milhões m3 de rocha
para o quebra-mar do Porto Açu, onde, por ser praia grande, não
possui material adequado, nas proximidades. Tentou extrair a
pedra em Itaguaí, mas depois foi buscar ao norte, a 60 kms de
distância, que devido a tanto caminhão na estrada teve de fazer
um viaduto e os veículos pesados têm de passar por dentro da
cidade. Com isso os preços foram lá para o céu.
Foi deste modo, com o TS-1 no Porto Açu indefinido, que Eike
resolveu fazer o TS-2. Junto à praia, com necessidade de
dragagem de um longo canal, com uso de caixões de areia, em
parte das laterais, que também servem de quebra-mar, para este
puxadinho.
A pedreira de Itaguaí, uma ideia luminosa de Eike, num passe de
mágica, por um túnel para facilitar o acesso ferroviário, virou
Porto Sudeste. Porém, nossas ferroviais estão sucateadas e não
há como assegurar que não vai ter vagão de minério
descarrilhado no caminho. A estrada de ferro de Minas para Rio
ou São Paulo, vagão carregado usa o ramal da mal lembrada
Ferrovia do Aço e no retorno o leito da velha ferroviária Central
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do Brasil. Há mais ferrovia: a antiga Estrada de Ferro Leopoldina
(arrematada por Eike Batista), não é nem lembrada.
O gargalho de logística não está nos portos e, sim nas ferrovias.
Em Porto Açu, não foi construído nada de concreto para ligar com
a Ferrovia Vitória Minas ou ao Sul com a Rio-Minas. E, quanto
tempo vai precisar para fazer 40 km de ferrovia e alargar a bitola
da Ferrovia Centro-Atlântica - FCA?
E o petróleo e gás? É uma brincadeira de menino rico. Pode
alguém que nunca viu petróleo entrar no mercado desafiando a
Petrobras e os mesmos trustes que acabaram com o nosso
Monteiro lobato e fazem as guerras no mundo? Não foi preciso
nem boicotar a OGX, pois a inexperiência é total e o peixe morre
pela boca.
Do quadrilátero ao octógono e as barras de ferro
Meus compatriotas e senhoras idosas dos Fundos de Pensão
estrangeiros que acreditaram na lábia de Eike Batista: eu fico
indignado, com o engodo e o prejuízo do Erário e de investidores.
Pois, de graça, sem ter nada contra o Eike Batista, como
profissional da Geologia e cidadão tenho mostrado a fragilidade
dos projetos das empresas do Grupo X. O prejuízo nos balanços
de 2012 é preocupante e pode abalar o capitalismo: OGX - R$
1.138,7 milhões (petróleo e gás); MMX - R$ 792,4 milhões
(mineração); MPX - R$ 434,2 milhões (energia); OSX - R$ 26,3
milhões (construção naval).
É triste constatar que o porto de Santana no Amapá, que Eike,
com sua mineradora MMX, "modernizou" e vendeu para a Anglo
American, literalmente desabou, em 28 de março de 2013,
provocando pelo menos seis mortes e enormes prejuízos
financeiros. Improviso que os ingleses vão "pagar o pato". A
Anglo American, de fato, nos últimos anos, vinha - com elevados
custos - diminuindo o índice de acidentes em suas minas no
mundo, cujo programa acaba de sofrer um duro golpe.
Este porto operava, desde 1953, nas barrancas do Rio Amazonas,
para navios de 40.000 t de minério de manganês, da exaurida
mina da Serra do Navio. Eike Batista havia conseguido os direitos
minerais de pequenas ocorrências de ferro, assim como a Estrada
de Ferro da ICOMI, que foi leiloada e o Porto de Santana. Este
projeto da MMX foi alvo da "Operação Midas", da Polícia Federal
que quase levou Eike Batista à prisão. A Anglo American recebeu
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este projeto no pacote das minas de ferro e estava tentando sair
fora, mas o acidente complicou a situação. É o exemplo de
atuação profissional de Eike Batista, pois o porto foi ampliado,
sem estrutura, passando para escala de minério de ferro, que
implica volume maior de estocagem e carga no pátio. O peso das
pilhas de minério fez deslizar o porto e ajuda a colocar no
mercado o Eike Batista na corda bamba como os pilares da ponte
do Porto Açu.
Entretanto, os analistas não viram nada de irregular nos projetos
do Grupo X, mesmo os especialistas de bancos particulares, de
corretoras, da CVM e particularmente, da CEF, do BNDES e dos
Fundos de Pensão. Incrível! Projetos vendidos como sólidos e
bons exemplos de administração e arrojo empresarial, de repente
desmancham no ar. Alguns projetos poderiam dar certo, mas no
estilo do Senhor X, tudo pode entrar em falência. O Brasil não
merece, nem suporta golpe de tamanha grandeza, tampouco o
mercado.
Agora, bateu o desespero, o conselheiro da roda da fortuna fácil,
empresário com visão de 3600, o brasileiro mais rico do pobre
País, com promessa de chegar ao topo mundial, está na lona do
octógono, que patrocina as lutas de UFC, sangrando a ponto de
mostrar as vísceras e perder a peruca. O mercado acordou tarde e
o "Governo do Trabalhador", não pode usar o dinheiro do
trabalhador, mal guardado no FGTSe no FAT, para tentar salvar o
inimigo número um de quem trabalha. Exige-se uma
manifestação da CVM, dos Bancos Oficiais, da ANP, da ANTAQ, do
DNPM, dos Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e do
Ministério Público. Volta à luta, Luísa!
*Jornalista e geólogo; ex-professor da USPe da UFMG.

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