sábado, 15 de junho de 2013

MOVIMENTO PASSE LIVRE - Desaprendemos a sonhar.



Olha o que eu recebi. Minha geração que lutou contra a ditadura militar sendo acusada de reprimir os
 
 jovens que representam hoje o que fomos ontem.
 
Com a bestial repressão da PM paulista, o Movimento Passe Livre passou a reivindicar mais do que
 
isso: a luta agora pelo direito de se manifestar, de expor suas opiniões, de defender os direitos de
 
expressão livremente.
 
Prender jovens porque carregavam garrafas de vinagre ou e acusá-los de formação de quadrilha é
 
uma coisa extremamente ridícula.
 
No meu tempo de luta contra a ditadura, já se usava o vinagre para reduzir os efeitos do gás
 
lacrimogêneo, como também carregávamos bolas de gude para derrubar os cavalos dos PM que nos
 
 atacavam.
 
Voltando ao que me foi enviado:
 
Carlos


O Brasil está vivendo um momento único, como não acontecia há décadas. Para nossa geração isso é
 
um sinal de que estamos acordando políticamente, estamos voltando às ruas para exigir nossos
 
 direitos.
 
A imprensa e a polícia tentam nos classificar como vândalos, mas não é verdade. É uma desculpa

 para usar uma força policial violenta e brutal. A grande maioria de nós é contra a violência, só

queremos um país livre para exercer a nossa cidadania.


Por isso nós lançamos este abaixo-assinado, pedindo para a Presidenta Dilma vir à público garantindo o direito de nos manifestarmos.


Não se trata mais somente do aumento das tarifas de ônibus, já é muito mais do que isso: por uma

outra cidade, um outro Brasil.

Mas estamos com medo!

Vários amigos apanharam da Polícia Militar, presenciamos cenas absurdas de repressão e lemos
 
notícias de que manifestantes serão tratados como terroristas, sobre gente presa por formação de
 
quadrilha e por portar vinagre. Enquanto isso, só ouço evasivas e absurdos dos meus governantes
 
diretos -- Fernando Haddad e Geraldo Alckmin.
 
Talvez você não concorde especificamente com o protesto contra o aumento da passagem. Mas
 
todos temos que defender o direito de nos manifestarmos. Por que se hoje é contra a passagem,
 
amanhã poderá ser para defender um direito seu.
 
Por favor, assine, é nos manifestando que este país vai mudar! Não podem tirar o nosso direito! 

Obrigada,
 
Olívia de Castro e Marília Persoli
Change.org
Dear carlos,

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Olívia de Castro, Marília Persoli
 
 
Por Andre Borges Lopes
 
 
AOS QUE AINDA SABEM SONHAR

O fundamental não é lutar pelo direito de fumar maconha em paz na sala da sua casa. O fundamental não é o direito de andar vestida como uma vadia sem ser agredida por machos boçais que acham que têm esse direito porque você está "disponível". O fundamental não é garantir a opção de um aborto assistido para as mulheres que foram vítimas de estupro ou que correm risco de vida. O fundamental não é impedir que a internação compulsória de usuários de drogas se transforme em ferramenta de uma política de higienismo social e eliminação estética do que enfeia a cidade. O fundamental não é lutar contra a venda da pena de morte e da redução da maioridade penal como soluções finais para a violência. O fundamental não é esculachar os torturadores impunes da ditadura. O fundamental não é garantir aos indígenas remanescentes o direito à demarcação das suas reservas de terras. O fundamental não é o aumento de 20 centavos num transporte público que fica a cada dia mais lotado e precário.
O fundamental é que estamos vivendo uma brutal ofensiva do pensamento conservador, que coloca em risco muitas décadas de conquistas civilizatórias da sociedade brasileira.
O fundamental é que sob o manto protetor do "crescimento com redução das desigualdades" fermenta um modelo social que reproduz – agora em escala socialmente ampliada – o que há de pior na sociedade de consumo, individualista ao extremo, competitiva, ostentatória e sem nenhum espaço para a solidariedade.
O fundamental é que a modesta redução da nossa brutal desigualdade social ainda não veio acompanhada por uma esperada redução da violência e da criminalidade, muito pelo contrário. E não há projeto nacional de combate à violência que fuja do discurso meramente repressivo ou da elegia à truculência policial.
O fundamental é que a democratização do acesso ao ensino básico e à universidade por vezes deixam de ser um instrumento de iluminação e arejamento dos indivíduos e da própria sociedade, e são reduzidos a uma promessa de escada para a ascensão social via títulos e diplomas, ao som de sertanejo universitário.
O fundamental é que os políticos e grandes partidos antigamente ditos "libertários" e "de esquerda" hoje abriram mão de disputar ideologicamente os corações e mentes dos jovens e dos novos "incluídos sociais" e se contentam em garantir a fidelidade dos seus votos nas urnas, a cada dois anos.
O fundamental é que os políticos e grandes partidos antigamente ditos "sociais-democratas" já não tem nada a oferecer à juventude além de um neo-udenismo moralista que flerta desavergonhadamente com o autoritarismo e o fascismo mais desbragados.
O fundamental é que a promessa da militância verde e ecológica vai aos poucos rendendo-se aos balcões de negócio da velha política partidária ou ao marketing politicamente correto das grandes corporações.

O fundamental é que os sindicatos, movimentos populares e organizações estudantis estão entregues a um processo de burocratização, aparelhamento e defesa de interesses paroquiais que os torna refratários a uma participação dinâmica, entusiasmada e libertária.
O fundamental é que temos em São Paulo um governo estadual que é francamente conservador e repressivo, ao lado de um governo federal que é supostamente "progressista de coalizão". Mas entre a causa da liberação da maconha e defesa da internação compulsória, ambos escolhem a internação. Entre as prostitutas e a hipocrisia, ambos ficam com a hipocrisia. Entre os índios e os agronegócio, ambos aliam-se aos ruralistas. Entre a velha imprensa embolorada e a efervescência libertária da Internet, ambos namoram com a velha mídia. Entre o estado laico e os votos da bancada evangélica, ambos contemporizam com o Malafaia. Entre Jean Willys e Feliciano, ambos ficam em cima do muro, calculando quem pode lhes render mais votos.
O fundamental é que o temor covarde em expor à luz os crimes e julgar os aqueles agentes de estado que torturaram e mataram durante da ditadura acabou conferindo legitimidade a auto-anistia imposta pelos militares, muitos dos quais hoje se orgulham publicamente dos seus crimes bárbaros – o que nos leva a crer que voltarão a cometê-los se lhes for dada nova oportunidade.
O fundamental é que vivemos numa sociedade que (para usar dois termos anacrônicos) vai ficando cada vez mais bunda-mole e careta. Assustadoramente careta na política, nos costumes e nas liberdades individuais se comparada com os sonhos libertários dos anos 1960, ou mesmo com as esperanças democráticas dos anos 1980. Vivemos uma grande ofensiva do coxismo: conservador nas ideias, conformado no dia-a-dia, revoltadinho no trânsito engarrafado e no teclado do Facebook.
O fundamental é que nenhum grupo político no poder ou fora dele tem hoje qualquer nível mínimo de interlocução com uma parte enorme da molecada – seja nas universidades ou nas periferias – que não se conforma com a falta de perspectivas minimamente interessantes dentro dessa sociedade cada vez mais bundona, careta e medíocre.
Os mesmos indignados que se esgoelam no mundo virtual clamando que a juventude e os estudantes "se levantem" contra o governo e a inação da sociedade, são os primeiros a pedir que a tropa de choque baixe a borracha nos "vagabundos" quando eles fecham a 23 de Maio e atrapalham o deslocamento dos seus SUVs rumo à happy-hour nos Jardins.
Acuados, os políticos "de esquerda" se horrorizam com as cenas de sacos de lixo pegando fogo no meio da rua e se apressam a condenar na TV os atos de "vandalismo", pois morrem de medo que essas fogueiras causem pavor em uma classe média cada vez mais conservadora e isso possa lhes custar preciosos votos na próxima eleição.
Enquanto isso a molecada, no seu saudável inconformismo, vai para as ruas defender – FUNDAMENTALMENTE – o seu direito de sonhar com um mundo diferente. Um mundo onde o ensino, os trens e os ônibus sejam de qualidade e gratuitos para quem deles precisa. Onde os cidadãos tenham autonomia de decidir sobre o que devem e o que não devem fumar ou beber. Onde os índios possam nos mostrar que existem outros modos de vida possíveis nesse planeta, fora da lógica do agribusiness e das safras recordes. Onde crenças e religião sejam assunto de foro íntimo, e não políticas de Estado. Onde cada um possa decidir livremente com quem prefere trepar, casar e compartilhar (ou não) a criação dos filhos. Onde o conceito de Democracia não se resuma à obrigação de digitar meia dúzia de números nas urnas eletrônicas a cada dois anos.
Sempre vai haver quem prefira como modelo de estudante exemplar aquele sujeito valoroso que trabalha na firma das 8 da manhã às 6 da tarde, pega sem reclamar o metrô lotado, encara mais quatro horas de aulas meia-boca numa sala cheia de alunos sonolentos em busca de um canudo de papel, volta para casa dos pais tarde da noite para jantar, dormir e sonhar com um cargo de gerente e um apartamento com varanda gourmet.
Não é meu caso. Não tenho nem sombra de dúvida de que prefiro esses inconformados que atrapalham o trânsito e jogam pedra na polícia. Ainda que eles nos pareçam filhinhos-de-papai, ingênuos em seus sonhos, utópicos em suas propostas, politicamente manobráveis em suas reivindicações, irresponsavelmente seduzidos pelos provocadores de sempre.
Desde a Antiguidade, esses jovens ingênuos e irresponsáveis são o sal da terra, a luz do sol que impede que a humanidade apodreça no bolor da mediocridade, na inércia do conformismo, na falta de sentido do consumismo ostentatório, nas milenares pilantragens travestidas de iluminação espiritual.
Esses moleques que tomam as ruas e dão a cara para bater incomodam porque quebram vidros, depredam ônibus e paralisam o trânsito. Mas incomodam muito mais porque nos obrigam a olhar para dentro das nossas próprias vidas e, nessa hora, descobrimos que desaprendemos a sonhar.
Por implacável

Do Estadão.com

Atos são marcados em 27 cidades no exterior em apoio a protestos no Brasil

Brasileiros que vivem fora do País marcaram eventos por rede social
Paulo Saldaña
Dezenas de manifestações estão sendo organizadas em outros países em apoio aos protestos contra aumento de tarifa de ônibus realizados no Brasil, principalmente depois do ato de quinta-feira, dia 13, marcado pela ação violenta da Polícia Militar. Há eventos marcados pelo Facebook em pelo menos 27 cidades da Europa, Estados Unidos e América Latina.
A organização está sendo feita por brasileiros que moram em outros países e muitas contam com a confirmação online de milhares de pessoas, como é o caso do ato organizado em Dublin, na Irlanda. O ato, marcado para as 13 horas de domingo, dia 16, tem confirmação de 1.191 pessoas.
"Os brasileiros que vivem na Irlanda também estão indignados com o tratamento oferecido por seus governantes nos últimos tempos e que eclodiu após o anúncio do abusivo aumento da tarifa", informa release do evento. Uma das organizadoras, a catarinense Andréa Cordeiro, de 32 anos, diz que tem acompanhado atenta as manifestações no Brasil. "Ficamos chocados com as ações da polícia. É uma junção de coisas: não só o aumento de uma passagem, mas todo um sistema falho", diz ela sobre os motivos da convocação. Andréa morou em São Paulo por 22 anos e passa uma temporada em Dublin para aperfeiçoar o inglês. 
Muitas das manifestações convocadas pela rede social estão ligadas ao evento chamado Democracia Não Tem Fronteiras. Em geral, os atos estão marcados para terça-feira, dia 18. Veja abaixo a lista de eventos:
PARIS
https://www.facebook.com/events/147318595459350/147355748788968/?notif_t...
VALENCIA:
https://www.facebook.com/events/136456916554894/136463359887583/?notif_t...
MADRID:
https://www.facebook.com/events/625940557418200/
LONDRES:
https://www.facebook.com/events/183382041822867/?ref=3
LISBOA:
https://www.facebook.com/events/131690073703767/?context=create
BERLIM:
https://www.facebook.com/events/165396716966531/
TURIM:
https://www.facebook.com/events/261371487339249/261371490672582/?notif_t...
COIMBRA:
https://www.facebook.com/events/200661703420881/
DEN HAAG
https://www.facebook.com/events/363696367086327/
PORTO:
http://www.facebook.com/events/645859998777392/
BARCELONA
https://www.facebook.com/events/202433683240284/
DUBLIN*
https://www.facebook.com/events/268625579944061/
(16 de Junho)
MUNIQUE
https://www.facebook.com/events/367062640060027/367157030050588/?notif_t...
LA CORUNA
https://www.facebook.com/events/506258462756431/
BRUXELAS
https://www.facebook.com/events/594266403939531/?notif_t=plan_user_invited
BOLOGNA
https://www.facebook.com/events/468817986538368/
FRANKFURT
https://www.facebook.com/events/175117009324268/
HAMBURG
https://www.facebook.com/events/341611152632858/
BOSTON
https://www.facebook.com/events/238595646265111/?context=create
CHICAGO
https://www.facebook.com/events/474892132587144/
NOVA YORK
https://www.facebook.com/events/464704513623013/?ref=3
TORONTO
https://www.facebook.com/events/128677670672718/?notif_t=plan_user_invited
MONTREAL*
https://www.facebook.com/events/185780441587055/
(16 de Junho)
VANCOUVER
https://www.facebook.com/events/186329608197344/
EDMOND
https://www.facebook.com/events/153694814817084/
CIDADE DO MEXICO
https://www.facebook.com/events/163069633872720
BUENOS AIRES
https://www.facebook.com/events/193499234142111/
 
 
 
 

Retrato dos jovens agitadores, a partir do texto histórico

O artigo “Jovens vão às ruas e nos mostram que desaprendemos a sonhar”, do nosso comentarista André Borges Lopes, entrará para a história do ativismo online brasileiro como um marco. Hoje de manhã bateu em 202 mil leituras. A divulgação se deu exclusivamente através das redes sociais e liberou o grito engasgado na garganta de milhares de jovens por todo o país.
Dei-me conta do fenômeno alertado por minha filha de 15 anos, que soube por colegas de várias partes do país, através de sua página do Facebook.
De lá para cá, pelo Twitter, Facebook e no espaço dos comentários do post, o texto inspirou os jovens a colocarem para fora sentimentos, expectativas, convicções, que permitem entender esse momento mágico, caótico, de transbordamento de energia que marcará, daqui para sempre, o nascimento de uma nova geração política.
Como o comentário da Ana Paula Cordeiro, colocado na 6a feira passada:
“Esse foi o elogio que meu pai nunca me fez e nunca me fará. Obrigada”.
A seguir, alguns dos comentários selecionados.
Camila Coutinho
Postado em: 14/06/2013 – 23:21
O texto é absolutamente brilhante e é quase a transcrição dos meus pensamentos.
Ontem, durante o acontecimento dos protestos, eu estava em casa assistindo a cobertura ao vivo dos canais de notícias e a única coisa na qual conseguia pensar era em como gostaria de estar lá, o que não daria pra ter me juntado a multidão. Uma coisa dentro de mim parecia querer sair pra fora, uma vontade que carrego desde muito cedo, quando comecei a ver o mundo como ele realmente é, a ver que temos neste país uma mídia extremamente tendenciosa e manipuladora, capaz de mudar os rumos do país, alienar o povo a ponto de enfiar-lhes guela a baixo uma porção de programas imbecis, enquanto programas com alguma opinião e conteúdo são transmitidos apenas nos horários em que quase ninguém assiste. Senti a necessidade de sair na rua e gritar pra todo mundo o que pouca gente enxerga.
Em um relato de um manifestante nas redes sociais, que falava sobre a repressão sofrida, sem motivo, um senhor comentava sobre levar o conhecimento científico e educação política para a periferia, ou algo parecido. Esse comentário fez sentir que minhas ideias não são tão malucas assim.
(...) Posso ser pessimista demais ao pensar que não importa quem estiver no poder nada vai mudar, mas acredito no que vejo nas ruas, acredito quando vejo um fio de esperança vindo de um comentário, seja ele nas redes sociais, no trem ou na porta da uma escola porque então eu sei que, se estiver maluca de acreditar que o povo pode mudar a realidade, pelo menos não estou sozinha.
Ana Paula Cordeiro
sex, 14/06/2013 - 21:28
Esse foi o elogio que meu pai nunca me fez e nunca me fará. Obrigada.
christiane
sex, 14/06/2013 - 18:19
Incrível que você escreveu!!! Você foi exato, claro e muito sensível na sua interpretação do momento que estamos vivendo. Estamos cansados de pensamentos conservadores com condutas inflexíveis e triste em ver uma sociedade oprimida e obrigada a ficar em uma situação de conformismo para toda a série de abusos que assola o nosso país.
Hugo C
sex, 14/06/2013 - 17:31
Certo ou errado, o seu texto reflete com perfeição o modo como eu vejo as coisas no atual cenário. Para mim foi um grande prazer e alívio poder lê-lo. Obrigado
Larissa Andrade
sex, 14/06/2013 - 00:44
Texto perfeito e completo. E tenho muito orgulho de ser uma jovem que vai a luta,que não desaprendeu a sonhar,apesar de tudo!
Maria Lua
sex, 14/06/2013 - 00:24
Tenho 17 anos e estudo História numa universidade estadual. Achei o texto genial e queria separar frases para colar na minha parede.
O que me chamou a atenção em primeiro lugar foi o título, porque a algum tempo eu notei que minha geração tem dificuldade de sonhar de verdade, afogada como é na criação voltada para o consumo e auto-promoção. E também porque eu estou escrevendo um livro chamado "O povo que não sabia sonhar", uma distopia que trata justamente dessa situação limite, que infelizmente ainda acontece no nosso país, mesmo depois de tantas ditaduras...
Já estava achando tudo muito acertado, mas quando me deparei com "Vivemos uma grande ofensiva do coxismo: conservador nas ideias, conformado no dia-a-dia, revoltadinho no trânsito engarrafado e no teclado do Facebook." pensei: Esse cara sabe mesmo do que está falando! De que adianta reclamar todos os dias da corrupção se não consegue acreditar que pessoas comuns podem sair as ruas, não para vandalizar, mas para deixar claro que isso não é um mar de rosas, e não são só as "minorias" que sofrem. O cidadão médio sofre, os jovens sofrem, e não é porque tem casa e comida que não podem se manifestar.
Camila Pires
Ter, 11/06/2013 - 12:05
O melhor texto que li nos últimos tempos. São tantas as críticas que se fazem aos que se levantam contra o que está errado, seja protestando nas ruas, seja praticando ativismo via internet, que me pergunto se quem critica não está, na verdade, concordando com o que está imposto. Há uma cultura muito forte no Brasil de anti-politização. Reclamam que o brasileiro é acomodado, mas quando alguém se revolta, é comunista. Reclamam que o governo explora, mas quando alguém vai para a rua protestar, é um baderneiro vagabundo. No mundo todo, quem protesta tem direito de ser ouvido, e seu protesto é legitimado pelo restante da população. Porque aqui não pode ser assim também? A coxinhização é visível: cuidemos de nossas próprias vidas, e foda-se o resto. Como se fossemos ilhas, como se tudo não estivesse conectado. Este pensamento egoísta é o que causa todo nosso atraso. Enquanto não olharmos ao redor e compreendermos que não adianta nos fecharmos, seremos sempre terceiro mundo se for, piada no exterior.
Gabriela O. T.
ter, 11/06/2013 - 02:08
Texto bacana, infelizmente pecou no que diz respeito à luta das mulheres. Como jovem e inconformada que sou, preciso lembrar que - ressalvando o fato de, por nunca ter sofrido preconceito de gênero, ser realmente difícil para você se colocar no lugar das tantas "vadias" - as manifestantes feministas não lutam pelo direito de "serem prostitutas" ou "se vestirem como vadias". A ideia do movimento é justamente a de desprender rótulos aplicáveis unicamente a mulheres, tais como vadia, puta, biscate, entre outros, para tentar de alguma forma mudar o ideológico social que teima em julgar as mulheres pelo tamanho de suas saias e a culpá-las por qualquer violência sofrida por conta de sua aparência. Que fala que homens podem ter os seus mamilos expostos em cidades praianas, mas que mulheres que o façam estão "pedindo para ser estupradas", por exemplo. Não vou me aprofundar no assunto para não escrever outro texto do tamanho do seu, mas gostaria de fazer essa ressalva. Afora esses deslizes, o texto é realmente muito bom e inspirador.
Mari5555
seg, 10/06/2013 - 21:27
Primeiramente queria parabenizar o colunista e blogueiro André, pois além de escrever um texto muito bom, conseguiu tocar o ponto alto dessa questão:
"O fundamental é que estamos vivendo uma brutal ofensiva do pensamento conservador, que coloca em risco muitas décadas de conquistas civilizatórias da sociedade brasileira."
Antes de criticar, o que eu vi em vários comentários, por que vocês não vão as ruas lutar pelo que acham certo? Se querem saber onde eu estava nos outros acontecimentos eu digo a vocês, estava no meu berço, tenho 16 anos e esse foi o primeiro protesto que eu participei, antes que digam que fora 20 centavos, e sobre a inflação e várias baboseiras, e/ou que eu sou burguesa, eu moro numa comunidade onde demoro 1h e meia pra chegar a uma escola (onde para chegar uso um transporte coletivo que muitas vezes vai com a porta um palmo aberta por causa da superlotação), pois as que ficam perto da minha casa tem a média por sala de 50 a 60 alunos, eu gostaria de perguntar, o que o estudante é além do trabalhador do futuro?
O problema é que como ele diz no final do texto:
"Esses moleques que tomam as ruas e dão a cara para bater incomodam porque quebram vidros, depredam ônibus e paralisam o trânsito. Mas incomodam muito mais porque nos obrigam a olhar para dentro das nossas próprias vidas e, nessa hora, descobrimos que desaprendemos a sonhar."
Parem de esperar atitudes dos outros, por que nenhum de vocês não está lutando pelo que acha certo sem se importar com que os outros pensam? NÃO CHEGA DE COVARDIA? Gritar e e ficar apertados em uma rua onde não passam carros não traria atenção, antes de julgar as coisas e pessoas, entendam, ''as vezes se é preciso fazer um mal para a conquista de um bem maior'', é uma frase muito triste e muito antiga, que pertence a uma história muito longa, que agora eu não vou contar, quem sabe um dia não? (...)
Tarsila Araújo
seg, 10/06/2013 - 11:21
Este é o texto mais LÚCIDO que li nos últimos meses.
Estou feliz de ter encontrado alguém que pensa e reflete dessa maneira... eu concordo com tudo que foi dito sobre esses tantos assuntos!
"Vivemos uma grande ofensiva do coxismo: conservador nas ideias, conformado no dia-a-dia, revoltadinho no trânsito engarrafado e no teclado do Facebook."
Isso diz tudo. To cansada de conviver com essas pessoas que só enxergam o próprio umbigo. Cansada de pessoas passando reto na frente de mendigos dormindo na rua e achar que aquilo é normal. Achar que você, que estudou e teve educação, você mereceu isso e seus pais 'deram duro' para vocês terem tudo que tiveram. A educação deveria ser gratuita e de qualidade para todos. E isso é um direito, simples, mas que é completamente ignorado. Você, conversador e da classe média alta e que está lendo isso com os dentes cerrando de raiva do que estou dizendo, saiba que na Europa, onde você viaja e elogia tanto a cultura e a civilização daqueles países, 'bem melhor que o Brasil onde tudo pode e é sem lei', há vários países em que a educação é gratuita e de qualidade para o povo, para todos os cidadãos. Há vários países onde a desigualdade praticamente não existe. Onde a faxineira, o garçom ganham tão bem quanto uma pessoa que fez ensino superior. Porque o trabalho, não importa qual, é importante. Precisamos de todos eles para a economia funcionar. Precisamos de todos eles para nossa vida funcionar. Precisamos de quem limpe nossa casa, sirva nossas bebidas, empacote nossas compras, traga nossos carros no estacionamento, nos atenda nas lojas, do gerente do banco para cuidar das nossas finanças, do taxista e do motorista de ônibus também, que seja para trazer sua faxineira lá da periferia até a sua casa.
Enfim, feliz com esse texto e espero que ajude alguns coxinhas a pensarem melhor e fora do umbigo.
Bruna Potenza
seg, 10/06/2013 - 11:17
Trata-se daquele texto que não apenas te toca, mas que toca em vários lugares diferentes... trata-se mesmo de um toque, nada muito profundo, doloroso como um beliscão, porque se fossem vários beliscões sairia doída da leitura, e não foi isso que aconteceu... Por serem vários toques, em vários lugares, e em alguns lugares que estavam adormecidos em mim, a leitura foi maravilhosa porque eu senti novamente esses lugares dentro de mim... obrigada!
Giovanna Angeline
seg, 10/06/2013 - 09:00
André,
Eu realmente precisava ler isso. Faço parte destes movimentos mas não por uma luta unificada dos transportes, mas estou na luta por justiça, por um mundo melhor, ou na medida do possível, onde tenhamos direitos! Sou jovem, trabalho, estudo, e nao me importo em não ser uma conformada mediocre!
Obrigada mesmo,
Leandro Romano
seg, 10/06/2013 - 00:58
Como seria bom se todas as revistas, jornais e mídias em geral, publicassem seu texto magnífico. Eu como jovem também concedo meu rosto a tapas em protestos, ver um texto tão belo quanto o seu, me concede mais ânimo para lutar e sonhar a cada dia.
Obrigado.

Treinamento de guerra faz PM reagir com truculência a movimentos populares

Jornal GGNA repressão policial aos movimentos populares que ocupam as ruas de São Paulo está ficando cada vez mais sistemática. Nos últimos dias, o centro da capital paulista tem vivido momentos de tensão devido ao revide da Polícia Militar aos protestos contra a tarifa de ônibus municipal. Na quarta edição da manifestação do Movimento Passe Livre, ocorrida na quinta-feira (13), mais de 15 mil pessoas foram às ruas protestar.
A onda de manifestações começou na semana passada, por conta do aumento de 20 centavos na passagem – de R$ 3,00 passou a custar R$ 3,20 desde o último dia 2. Para conter o avanço da marcha, foram deslocados centenas de policiais da Tropa de Choque, Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) e a temida Rota (Ronda Ostensivas Tobias de Aguiar) para as imediações da avenida Paulista.
Em cima de uma multidão desarmada, a PM agiu com bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e de pimenta e balas de borracha. A truculência usada pela corporação, reconhecida como desmedida pelo prefeito Fernando Haddad e pelo ministro da Justiça José Eduardo Cardozo – ambos defensores da ação de segurança pública nas primeiras edições do protesto -, é reflexo de uma polícia com caráter militarista e sem autonomia crítica.
“A polícia tem um modelo que é militar, baseado em um pensamento em guerra. Ela não está voltada para manter o direito das pessoas, mas para ir para o enfrentamento, o conflito. O modelo de treinamento é para garantir a obediência, não forma os profissionais para pensarem e agirem de maneira crítica”, afirma Ariadne Natal, socióloga do NEV-USP (Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo).
A obediência, neste caso, é em relação a toda uma hierarquia cujo comando central é o Governo Estadual. Segundo ela, a polícia é um espelho do Estado: se o governo é mais aberto ao diálogo com a sociedade, a polícia tende a ir menos para o confronto contra civis.
“A polícia era uma Força Pública. Ela era habituada a manter a ordem, principalmente contra as camadas populares, e depois foi treinada, durante a Ditadura Militar, para combater guerrilha urbana. A PM não é só violenta em manifestações públicas, mas nas periferias também”, enfatiza.
Em relação à análise das manifestações, Ariadne afirma que a falta de treinamento resultou em um excesso de violência policial. “Houve relatos de pessoas que participaram da manifestação que mostram que houve um excesso. O que aconteceu não é o esperado de uma polícia bem treinada. O esperado é que a polícia faça o seu trabalho assegurando os direitos das pessoas. Não houve diálogo e negociação”.
Da periferia para o centro
As ações ocorridas nos protestos contra o aumento da tarifa ganharam proporções maiores, segundo o psicanalista e especialista em políticas para a juventude Jorge Broide. Para ele, os 20 centavos estão mostrando todas as indignações atuais da sociedade, inclusive o despertar da classe média.
“O que a PM faz com a juventude aqui [região central] é o que faz nos bairros periféricos. Essa violência atual é a mesma que agia na ditadura, quando éramos jovens e lutávamos. Essas ações não estão se criminalizando não só um movimento social, mas toda a juventude”.
Broide diz que a juventude de classe média que está aderindo s às manifestações está “sentindo e conhecendo a polícia que a juventude da periferia já conhecia”.  Para ele, está tendo um encontro entre essas duas juventudes.
“Eu acho que é positivo esse encontro, pois a minha interpretação é a de que a juventude da periferia está exausta da polícia, da falta de políticas públicas, de educação, de cultura. Nesses 20 centavos está tudo colocado”.
 

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