Lindbergh: “Não vão me tirar dessa eleição”
Por Aluysio Abreu Barbosa e Alexandre Bastos
O senador Lindbergh Farias (PT) recebeu a equipe da Folha
em seu escritório na cidade do Rio e já foi logo deixando claro que não
vai abrir mão da candidatura ao governo do estado. “Eles querem nomear
o novo governador. Isso não é democracia”, disparou. Ele também falou
sobre a violência, defendendo as UPP’s e prometendo instalá-las também
em Campos e Macaé, além de garantir a manutenção de Beltrame na
secretaria estadual de Segurança, caso se eleja governador em 2014.
Apontando o fim do ciclo Sérgio Cabral (PMDB) no Estado, na
contrapartida federal, Linbdbergh não se constrangeu na aparente
contradição de afirmar que o PT, após 10 anos no poder, estaria ainda
no começo de um novo ciclo, na qual garante não projetar ele mesmo na
presidência da República. Em relação aos aliados na região, o senador
elogiou o vereador Marcão (PT), o médico Makhoul e a ex-vereadora
Odisséia (PT). Além disso, apontou o prefeito de Macaé, Dr. Aluízio
(PV), como um futuro líder regional. Sobre as críticas que tem recebido
do deputado federal Anthony Matheus (PR), o senador disse, sorrindo: “O
Garotinho acusa todo mundo o tempo todo. Isso já é uma coisa
psicológica. Não dá nem para acompanhar”.
Folha da Manhã – Em entrevista à Folha o vice-governador
Luiz Fernando Pezão afirmou que confia muito na aliança entre PMDB e
PT. Como o senhor analisa essa confiança do Pezão?
Lindbergh Farias – Em uma democracia existe disputa de
ideias, de projetos e alternância de poder. Isso é a essência da
democracia. O PT vai ter candidato, nós vamos ter a nossa candidatura e
eu acho que é um erro o PMDB ficar dizendo que o Lindbergh não pode ser
candidato. Tem uma coisa aqui que é uma coisa democrática. Eles vão
mostrar os trabalhos que fizeram e nós vamos mostrar as nossas
propostas. As pessoas tem que ter o direito de escolher. Não acho
correta essa estratégia de tentar tirar o outro candidato.
Folha – Mas com o Vladimir Palmeira deu certo
Lindbergh – Mas esse caso do Vladimir aconteceu lá atrás e
criou um grande trauma no PT nacional, no PT estadual. Isso foi muito
ruim para o Rio de Janeiro. Mas eu faço a seguinte pergunta: Eles estão
com medo de que? Qual é a insegurança? Acho muito ruim começar um
debate com alguém dizendo que não posso ser candidato. Por que não
posso? Por que estou na frente? Não é assim que funciona. Acho até que
eles estão errando. Com isso estão me fortalecendo. Os eleitores do Rio
querem escutar propostas diversas. Ninguém pode tirar o direito do povo
de escolher o novo governador. Não pode ser nomeação, imposição de cima
para baixo.
Folha — E a justificativa da aliança nacional. Os
peemedebistas alegam que, nas últimas eleições, em diversas partes do
país o partido abriu mão de ter candidato para apoiar petistas.
Lindbergh – Em todos os lugares do país as pessoas estão
podendo se candidatar. Este é o único lugar do Brasil que está
acontecendo isso. O PMDB vai lançar candidato em São Paulo e o PT
também. Na Bahia, a mesma coisa. Vamos ter cenários com várias
candidaturas da mesma base aliada. É correto pedir para tirar um
candidato que está na frente?
Folha — Em 2009 o senhor esteve em Campos e afirmou que
seria candidato ao governo do Estado. Porém, acabou recuando. Como
garantir que desta vez será diferente?
Lindbergh – Este é um argumento que me auxilia muito. Na
eleição passada era um momento de reeleição do governador Sérgio
Cabral. Nós tivemos uma conversa com o presidente Lula e recuei e me
candidatei ao senado. A verdade é que eles querem o Pezão agora e
depois vão querer o Eduardo Paes. Eles tem um projeto grande.
Folha – Se não for candidato nessa o senhor perde o bonde da história?
Lindbergh – É claro que a gente perderia esse bonde. E nós
não aceitamos isso. Eles tem um projeto hegemônico de muito e muito
tempo e a gente não pode ficar sempre abrindo mão.
Folha – Mas o PT tem um projeto parecido no governo federal…
Lindbergh – O Cabral diz que o Lula teve direito de
escolher a candidata dele e, por isso, ele pode escolher o Pezão. Mas o
Lula não impediu ninguém de disputar a eleição nem impôs de cima para
baixo. O que acontece aqui no Rio é que eles estão querendo ganhar a
eleição antes. Mas isso não vai colar. Eles vão ter que disputar.
Folha — O senhor teve uma conversa com o ex-presidente
Lula. Ele realmente pediu para pegar mais leve e evitar ataques
contundentes ao governador Cabral e ao vice Pezão?
Lindbergh – O que o presidente nacional do PT e o
ex-presidente Lula querem é que eu não seja o primeiro combate. Não vou
ficar de bate boca. Quero uma campanha com propostas. Não vou ficar
fazendo campanha agressiva.
Folha – Seria a versão Lindbergh paz e amor?
Lindbergh – É por aí (risos). Eu quero mostrar as minhas
diferenças. O Rio de Janeiro não é só Zona Sul e Barra da Tijuca. Os
investimentos estão muito concentrados aqui. Não estão pensando na
região metropolitana e no interior do jeito que deveria ser pensado. O
que eu quero fazer no Rio é o que o Lula fez no Brasil. Lula olhou para
o povo mais pobre e o Brasil deu um salto. Lula pensou no Brasil como
um todo. O país cresceu 4%, mas o Nordeste cresceu 8%. No caso do Rio,
o que podemos fazer pela região Noroeste, que é uma região que está
diminuindo, perdendo espaço. Não tem um único hospital público no
Noroeste.
Folha – O PT é parceiro do governo Cabral. Por que esses
projetos, que na sua opinião estão pendentes, não foram desenvolvidos
em parceria durante este governo?
Lindbergh – O PT tem contribuições importantes neste
governo. O deputado Carlos Minc é secretário de Meio Ambiente e fez um
grande trabalho. E o governo Cabral é um governo que em várias áreas
também avançou muito. Não estamos aqui para dizer que nada está dando
certo. Houve avanço, mas a gente acho que precisa de mais avanços
ainda. Principalmente na vida do povo mais pobre e do trabalhador. Eu
diria o seguinte. Fernando Henrique Cardoso, lá atrás, teve um papel no
que diz respeito a instabilidade monetária. O lula chegou e fez a
inclusão social. O Brasil deu um novo salto. Vamos manter pontos do
governo Cabral. Mas queremos redirecionar.
Folha – E a sua opinião sobre as UPPs?
Lindbergh – Eu acho que a tese da pacificação das
comunidades é o grande caminho. Porque antigamente o que acontecia. A
polícia entrava dando tiro para todos os lados e depois saía. A ideia
da polícia entrar e ficar, recuperando a área para o estado é uma tese
fundamental. Mas do jeito que foi feito você acaba privilegiando uma
determinada região da cidade do Rio. Zona Sul, Tijuca. E sabe o que
estamos vendo? A migração de traficantes para o interior do estado.
Isso é fato. Você vai a Macaé e já vê as facções. Não poderia agir aqui
sem antes fortalecer os batalhões do interior. Não houve preocupação
com a migração dos bandidos. Temos que levar essa política com força
para o interior e região metropolitana do Rio.
Folha – Eleito governador o senhor pensa em UPPs para Campos e Macaé?
Lindbergh – Claro. Macaé e Campos são polos fundamentais.
Não só as UPPs, mas também o fortalecimento dos batalhões. Hoje, os
novos policiais estão nas UPPs do Rio. E, no interior, os batalhões
estão muito envelhecidos. Outro ponto importante é que a entrada não
pode ser só da polícia. Temos que entrar também com a escola em tempo
integral, cultura, saneamento, cursos de formação profissional
vinculados a empregos que são necessários em cada área.
Folha — O secretaria de Segurança Pública, José Mariano Beltrame é um nome que o senhor manteria?
Lindbergh – É um nome que seria mantido, sim. Respeito
muito o Beltrame e ele tem dito isso. Ele diz que não basta entrar só
com a polícia. A polícia sozinha não resolve. Temos que entrar com as
outras áreas.
Folha – Gostaria de ter o Beltrame como vice?
Lindbergh – Não é por aí. Ao acompanhar as notícias sobre
ele ser vice ou candidato, eu tenho a seguinte opinião. Acho que ele é
um nome que deve ser preservado. Ele deveria continuar como secretário
de Segurança, com seu perfil técnico. E a gente tinha que manter o
Beltrame independente de quem entrar.
Folha – Em entrevista à Folha o Pezão disse que é cedo e,
citando o senador Dornelles, afirmou que discutir eleição em ano ímpar
é coisa de quem não tem voto.
Lindbergh – Mas eles só falam nisso. O governador visita
Brasília e, em vez de falar outras coisas, só fala em tirar o
Lindbergh. Isso não está sendo bom para a campanha deles. Eu só peço
que eles parem de tentar me tirar e me deixem seguir o meu caminho. O
meu nome está bem posicionado nas pesquisas e todo mundo sabe disso.
Estou no meu momento. É a vez do PT. Vamos tentar diminuir a
temperatura. Não vou negar avanços que existiram no governo.
Folha – Dentro do próprio PT há quem defenda a
candidatura do Pezão, como o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves e um
grupo de Duque de Caxias.
Lindbergh – Meu nome foi aprovado no diretório nacional por
unanimidade. Cinco deputados federais estão comigo. Molon, Benedita,
Luiz Sérgio, Edson Santos e Bittar. Todos os deputados estaduais do
partido participam da caravana ao meu lado. O Rodrigo Neves foi
secretário do Cabral e esse negócio de Duque de Caxias nem existe. Não
tem força alguma. É uma turma do PMDB que entrou no PT. Não tem voto
algum.
Folha – E a cantada que eles deram no Luiz Sérgio, que teria sido sondado para ser vice do Pezão?
Lindbergh – Ele está ao nosso lado. Como eu disse,
deputados federais e estaduais estão comigo. Inclusive, o fato de não
termos candidato ao governo nos últimos anos tem diminuído as nossas
bancadas.
Folha – Quais são os aliados desse seu projeto em Campos?
Lindbergh — Em Campos vamos ter a candidatura do Makhoul.
Temos bons nomes em Campos. O Makhoul vai ter o apoio do prefeito
Aluízio, de Macaé. Esse Aluízio é uma grande figura. Quando olho para o
Aluízio eu vejo um grande futuro para este estado. Uma renovação. Cara
nova. É de gente como ele que a gente precisa. Ele vai dar um banho em
Macaé. Temos em Campos a ex-vereadora Odisséia e o vereador Marcão, que
é um cara seríssimo. Olho para o futuro de Campos e vejo Marcão se
destacando.
Folha — Em entrevista ao Cláudio Nogueira, da rádio
Continental, om senhor afirmou que as políticas do deputado federal
Anthony Matheus estão ultrapassadas. Como o senhor avalia a situação
política do município de Campos?
Lindbergh – Não tenho nada contra Garotinho e Rosinha. Só
acho que eles se perdem em uma coisa. Montar só máquinas de voto sem
fazer políticas públicas. Não tem nada que justifique um município rico
como Campos, com os recursos dos royalties que recebe, ser o último
colocado no ranking do Ideb. Dos 92 municípios do estado, Campos é o
último. Eu teria vergonha. Educação é a base de tudo. Essa região tem
tudo para crescer. Um ponto importante é o Porto do Açu. Espero que
essa crise financeira seja passageira e o projeto continue. A
presidenta Dilma vai ajudar a criar uma nova situação para a região.
Mas tudo isso passa por investimentos em Educação e qualificação
profissional e parcerias com universidades.
Folha – A coluna do Ilimar Franco publicou uma nota informando
que o PR lançaria a prefeita Rosinha e não o deputado federal Anthony
Matheus ao governo do estado. Em seu blog, Anthony acusou o senhor de
ter plantado a nota. Como tem recebido esses ataques do deputado?
Lindbergh – O Garotinho acusa todo mundo o tempo todo
(risos). É uma pessoa que fica difícil até de conversar. Ele começa a
falar, a atacar os outros, falar mal e ironizar. Isso já é uma coisa
psicológica. Não dá nem para acompanhar.
Folha – Uma coisa psicológica ou psiquiátrica?
Lindbergh – Ele tem essa coisa, anda muto agressivo. Ele
diz que é evangélico. Então, como evangélico ele deveria ser mais
calmo, escutar as pessoas. Eu tenho relação com todo mundo aqui no
estado do Rio. Mas o que eu não gosto é dessa agressividade. Eu não sou
assim no meu dia a dia. Não dá para conviver com uma pessoa amarga, que
parece estar sofrendo. É hora de construir, de somar, de olhar para
frente. Ser agressivo não é o caminho. É um projeto político
ultrapassado. E uma coisa eu garanto a vocês. Eu não acompanho o blog
do Garotinho. Tenho mais coisa para fazer na minha vida.
Folha – O senhor acha que depois de vencer essa batalha
política e entrar no páreo, haverá uma espécie de batalha jurídica?
Inclusive, já foi divulgado um dossiê com declarações de uma ex-chefe
de gabinete do seu governo em Nova Iguaçu que fala em desvio de
dinheiro.
Lindbergh – Tem gente fazendo jogo sujo com chantagem e
dossiês. Mas sou um sujeito preparado para o embate. Comecei garoto no
movimento estudantil. A primeira briga que eu arrumei foi com o então
presidente da República, Fernando Collor. Em Nova Iguaçu enfrentei
coronéis e a máquina. Querem me tirar do jogo de todo jeito. Confio
muito no discernimento de cada pessoa. As pessoas vão ver um brilho nos
nossos olhos. Vão ver a vontade de construir coisas novas. Vão ver a
energia. Eu sinceramente acho que está se encerrando um ciclo e começa
um novo ciclo. Mas é um novo ciclo que vai fazer mais e de forma
diferente.
Folha – Ao falar em encerrar um ciclo do PMDB no Rio o
senhor não repete um discurso dos adversários do PT, que nacionalmente
falam em encerrar um ciclo que começou com Lula e agora é seguido pela
presidente Dilma?
Lindbergh – Ainda existem muitos desafios para a presidenta
Dilma. A lutra contra a desigualdade. Abrir caminhos para o filho do
trabalhador que nunca teve a oportunidade de cursar uma universidade
neste país. Nós do PT ainda temos muito trabalho na defesa do povo mais
pobre deste país. Não estamos em esgotamento de ciclo. Está apenas
começando. O nosso papel não é só acabar com a miséria absoluta. O que
defendemos é uma grande democracia popular. Queremos é ver o filho do
trabalhador ocupando espaços que eram impossíveis. Nacionalmente temos
um projeto muito claro. E aqui no Rio vamos construir um discurso.
Temos que ter um governador que seja um líder nacional.
Folha – Já que o ciclo federal está apenas começando, será que no futuro há espaço para Lindbergh na presidência?
Lindbergh – Quem pensava assim era um ex-prefeito de Campos
(risos). Sonhava com isso desde garotinho. E talvez isso é que lhe
traga tanta amargura. Não penso nisso. Eu penso é no governo do estado.
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