Brasil muito mais complexo
O crescimento da economia brasileira nos
últimos 10 anos incorporou 40 milhões de brasileiros para o mercado
consumidor. Isso provocou muitas mudanças, em todos os sentidos. O país
tem mais de sete milhões de micro e pequenas empresas, corresponde a 25%
do PIB. Cada vez mais os brasileiros querem trabalhar por conta
própria.
Najar Tubino
Como diz o dicionário: abrange e encerra
muitos elementos ou partes. Que não deixou de ser o país de contrastes,
ainda carrega sinais de miséria, e cada vez mais foge do complexo de
vira-lata. Resolvi buscar uns números para apoiar a ideia. Não consigo
entender muito sobre o crescimento da economia brasileira, baseada nos
dados do PIB. Principalmente depois de ler sobre as diferenças de
metodologia para cálculo, por exemplo, do setor de serviços. Metodologia
que o IBGE está a caminho de alterar. Assim como os dados definitivos
do PIB só sairão em 2014. Desde 2010 os dados são provisórios. Mas a
ideia também envolve definir algumas características dos brasileiros,
sempre baseadas em números gerais. Por exemplo: ser o segundo maior
mercado mundial de produtos pet, atrás dos EUA. Ou ser o terceiro maior
mercado na área de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, atrás dos
EUA e do Japão. E ser o quarto maior mercado de automóveis do mundo.
O crescimento da economia brasileira nos últimos 10 anos incorporou 40 milhões de brasileiros para o mercado consumidor. Isso provocou muitas mudanças, em todos os sentidos. O país tem mais de sete milhões de micro e pequenas empresas, corresponde a 25% do PIB. Cada vez mais os brasileiros querem trabalhar por conta própria. E pretendem ganhar dinheiro com CNPJ, facilitado por um programa do governo federal, que exige menos burocracia, menos impostos e cobertura da previdência social aos que faturam até R$36 mil por ano. O último número que consegui do SEBRAE indicava 1,5 milhão de empreendedores formalizados. Em primeiro lugar na área do vestuário (11%) e em segundo, na área de beleza e estética.
Mulheres com carteira assinada
O número de salões de beleza no país cresceu 78% em cinco anos, período que vai de 2005 a 2010, saindo de 309 mil para 550.590. O número de trabalhadores deste segmento cresceu de 1.237.680 (2005) para 2.202.360 (2010) e os gastos com higiene pessoal, perfumaria e cosméticos evoluíram de R$8,9 bilhões em 2002, para R$43,4 bilhões em 2010. O Euromonitor, que faz pesquisa nessa área em todo o mundo, diz que o mercado no Brasil nos segmentos citados abrange US$43 bilhões, daí a justificativa do terceiro lugar. Tem uma informação fundamental para entender estes números. Segundo Renato Meirelles, do Instituto Data Popular, no período de 2002 a 2011 o número de mulheres com carteira assinada aumentou de 9,5 milhões para 14,7 milhões.
“- De item de desejo, a beleza passou a fazer parte da cesta de consumo básico das pessoas e é um mercado que não depende de crédito, pois vive da própria renda dos brasileiros”, diz a diretora da Beauty Fair, maior feira de cosméticos do país, realizada em São Paulo, que na edição do ano passado faturou mais de R$500 milhões.
Grande parte desse crescimento do setor de higiene e beleza alcança índices de quase 20% ao ano, está ligado a uma prática comum aos brasileiros – a venda porta a porta. São em torno de 2,7 milhões de revendedoras, que as empresas rebatizaram de consultoras. Entretanto, trata-se do terceiro canal de comercialização usado no Brasil, atrás dos supermercados e das mercearias. Sem contar que em 2011 o porta a porta vendeu 25 milhões de livros. E que uma empresa do Guarujá está vendendo botijões de gás, usando as consultoras da Avon. Até o Boticário, que tem três mil lojas e é a maior rede brasileira, adotou a prática.
Sete milhões de micro e pequenas empresas
Para encerrar esta sessão, os dados do Pet Shop. O Brasil tem 28 milhões de cães e 10 milhões de felinos e conta com 25 mil lojas pet, um mercado que deverá faturar em 2013 R$15,4 bilhões com uma expansão de 8,3% - a média mundial é de 8,5% para um mercado de US$102 bilhões. Quase 70% dos gastos são relativos à alimentação, segmento que crescerá 4,9%.
Os dados retratam o consumo dos brasileiros, porque justamente é o objetivo do texto. O mercado consumidor que sustenta a economia, e que os analistas da mídia e os agentes do sistema financeiro vivem falando aos quatro ventos que tem limites. E que vai travar. Porém, os brasileiros além de obterem mais renda nos últimos 10 anos, também se reorganizaram. Não querem trabalhar apenas com carteira assinada e ter patrão, mesmo que seja a multi globalizada. Por isso, micro e pequenas empresas se expandiram e chegaram a mais de sete milhões e são responsáveis por 25% do PIB – significa cinco vezes mais o percentual da indústria automobilística no PIB total, que é de 5% - no setor industrial as montadoras representam 22%. E mais: os pequenos negócios são responsáveis por 40% da massa salarial. Os dados são do SEBRAE.
55,2% dos empreendedores da classe C
Em abril, por exemplo, foram criados 140,2 mil empregos, sendo 87 mil gerados pelas micro e pequenas empresas. Entre abril de 2012 e abril de 2013 foram gerados 948,7 mil empregos, 99% gerados por micro e pequenas empresas. Fundamental: 55,2% desses pequenos negócios são de empreendedores da classe C, e 37,5% das classes A e B, apenas 7,3 % das classes D e E.
“- O entendimento, diz o presidente do SEBRAE, Luiz Barreto, é de que negócio próprio mais do que um emprego permitirá a elevação dos padrões econômicos”. É o sonho dos brasileiros, segundo uma pesquisa do Global Entrepremeur Ship Monitor (GEM), realizada em 2012, onde 44% apontavam esta aspiração.
Agora, vamos aumentar a escala. Chegamos ao paraíso do consumo, o templo do capitalismo globalizado, ao shopping center. Me sinto um marciano dento de um shopping. Recentemente entrei num deles em Porto Alegre, para ir ao cinema. É duro suportar aquele cheiro de gordura hidrogenada, das pipocas estouradas com margarina. Pior é o preço. Mas a questão são os números, o tamanho desse negócio no Brasil. Em 2004 eram 325. Em dezembro de 2013 serão 503 – crescimento desse ano é de 41 novos shoppings, o maior número em 14 anos. No ano passado as vendas nas lojas subiram 10,65%, quase o dobro das vendas de supermercados, que registraram 5,3%. A previsão das vendas de 2013 é uma elevação de 12%. Em 2003 as vendas totalizaram R$36 bilhões e 10 anos depois saltaram para R$120 bilhões.
Rumo ao interior
São quase três mil lojas nesses estabelecimentos e o setor emprega 887 mil funcionários, em termos nacionais o varejo emprega 6,7 milhões. Em 2012, os shoppings receberam a visita de 398 milhões de pessoas, é como se cada brasileiro fosse duas vezes ao mês no templo. Os números são da Associação Brasileira de Shopping Center, que adianta os números de 2014– mais 32 empreendimentos. A meta agora são cidades de porte médio entre 80 e 300 mil habitantes. A ABRASCE junto com o IBGE compilou o potencial econômico dessas cidades. Reúnem uma população de 40,6 milhões de habitantes e tem crescido 4% ao ano em média. Elas têm uma renda de R$31,6 bilhões ao mês e R$10,4 bilhões disponíveis para gastar no varejo por mês
Atualmente as cidades do interior abrigam o maior número de shoppings (234), comparado com as capitais (228), sem contar os de 2013, somente 15 ficarão nas capitais. Além da renda, da facilidade de terrenos, menos burocracia, facilidade de construção, custos menores, são os motivos da transferência. Por exemplo, Porto Feliz, 130 km de São Paulo, com 240 mil habitantes na região de influência, vai ter um shopping, porque a Toyota construiu uma fábrica em Sorocaba, emprega 1.500 funcionários, e construirá uma de motores em Porto Feliz, com investimento de R$1 bilhão até 2015. Rio Grande (RS) está na mesma posição, a cidade do polo naval. E assim vai ampliando a base do consumo, também registrando a descentralização das indústrias. Para encerrar: no primeiro quadrimestre de 2013 as três maiores donas de shopping center – Multiplan, Iguatemi e BR Malls – captaram R$2 bilhões no mercado financeiro, em “plena crise”.
Maio bateu recorde na venda de carros
Último capítulo: a indústria automobilística. Pois em maio de 2013 foram vendidos 348,1 mil veículos, incluindo carros, utilitários, caminhões e ônibus. É o maior volume da história da indústria, e que deve fechar o ano com vendas acima de 3,7 milhões. A capacidade industrial brasileira vai sair de 4,5 milhões/ano para 5,4 milhões/ano, contando com a instalação das fábricas da Nissan, Chery, Jac Motors e BMW. O aumento reflete o novo regime automotivo brasileiro, que concede isenções e incentivos às indústrias instaladas aqui e restringe os importados. Contou com a produção de duas novas fábricas – da Toyota em Sorocaba e da Hyundai em Piracicaba -, com a ampliação da GM em Gravataí (RS), passou de 230 mil para 380 mil e é a quarta maior fábrica da multi no mundo. Além disso, a Fiat contratou mais 600 trabalhadores e aumentou a produção em 150 carros/dia em Betim. A Honda, em Sumaré, prolongou a jornada mais duas horas, porque os modelos da empresa venderam 24% mais.
A Renaut terminou a expansão da fábrica no Paraná, agora vai produzir 100 mil veículos por ano. A Hyundai, com a produção do HB20, quarto mais vendido no mercado, em setembro criará o terceiro turno, porque as vendas aumentaram 99%. A Toyota, com o modelo Ethios cresceu 51%, e trabalha com capacidade total – 70 mil veículos. A Mitsubishi, em Catalão, sul de Goiás vai dobrar a produção até 2015 para 100 mil e está instalando os fornecedores na área industrial – cerca de 10 a 15 empresas. O mercado de caminhões, que no ano passado caiu 20%, pela implantação do Euro5, motor que emite menos gases estufa, e o diesel usado emprega menos enxofre, mas custa mais caro, agora já voltou a crescer, deverá aumentar de 7 a 9%, em 2013.
O aumento na produção de veículos no primeiro semestres do ano foi de 18,3%. Na área agrícola aconteceu o mesmo, com a esperada de outra safra recorde – de 220 milhões de toneladas. O primeiro semestre fechou com a venda de 32.500 tratores e 3.929 colheitadeiras, respectivamente, aumentos de 27% e 69% comparado com 2012, ano de seca. A expectativa da indústria de máquinas agrícolas são vendas de 36 mil unidades, batendo recorde de 2010 quando atingiram 35 mil.
Sem trilho para ferrovias
As vendas de ônibus, no primeiro trimestre, aumentaram 56,8% totalizando 9.933, ante os 6.333 do ano passado. A produção maior foi de ônibus urbano – 8.191, 58,2%maior – comparado com 5.178 no mesmo período de 2012.
“- Diz um analista do setor de transporte: além dos eventos como copa do mundo e olimpíadas e do PAC da Mobilidade estendido para outras cidades, motivo do crescimento, outros programas do governo federal como PAC Equipamentos, Programa Caminho da Escola, além de ações como prolongamento do FINAME, para financiamento de ônibus a juros competitivos, desenham um bom quadro para os fabricantes de veículos de transporte coletivo, inclui ainda os corredores para ônibus articulados e biarticulados, os chamados BRTs, que estão sendo concluídos”.
No tema transporte coletivo incluí a produção de trens, afinal, para aumentar a oferta de transporte público, precisa da fábrica que produza os equipamentos ou importaremos tudo? Trilho, por exemplo, somente importado. Dizem os industriais que não há demanda no país, que compense instalar uma laminadora. Resultado: 11 mil novos quilômetros de ferrovias que estão sendo construídas, com trilhos da Ásia, da Europa dos EUA. O Brasil tem uma malha de 29 mil km e durante a década de 1990 produziu 111 locomotivas. Em 2011, foram produzidas 113. A última vez que o país fabricou mais de 100 locomotivas num ano foi em 1977. Agora a indústria, reforçada pela implantação de novas fábricas, como da canadense Bombardier e da Hitachi pretende vender 100 locomotivas ao ano. As ferrovias em construção: Transnordestina, Norte-Sul, Ferrovia da Integração Oeste-Leste e Ferrovia da Integração Centro-Oeste.
Num país desse tamanho construir dez locomotivas por ano entre 1990 a 1999 é demais para minha cabeça. Fica fácil de entender a crise do transporte público.
O crescimento da economia brasileira nos últimos 10 anos incorporou 40 milhões de brasileiros para o mercado consumidor. Isso provocou muitas mudanças, em todos os sentidos. O país tem mais de sete milhões de micro e pequenas empresas, corresponde a 25% do PIB. Cada vez mais os brasileiros querem trabalhar por conta própria. E pretendem ganhar dinheiro com CNPJ, facilitado por um programa do governo federal, que exige menos burocracia, menos impostos e cobertura da previdência social aos que faturam até R$36 mil por ano. O último número que consegui do SEBRAE indicava 1,5 milhão de empreendedores formalizados. Em primeiro lugar na área do vestuário (11%) e em segundo, na área de beleza e estética.
Mulheres com carteira assinada
O número de salões de beleza no país cresceu 78% em cinco anos, período que vai de 2005 a 2010, saindo de 309 mil para 550.590. O número de trabalhadores deste segmento cresceu de 1.237.680 (2005) para 2.202.360 (2010) e os gastos com higiene pessoal, perfumaria e cosméticos evoluíram de R$8,9 bilhões em 2002, para R$43,4 bilhões em 2010. O Euromonitor, que faz pesquisa nessa área em todo o mundo, diz que o mercado no Brasil nos segmentos citados abrange US$43 bilhões, daí a justificativa do terceiro lugar. Tem uma informação fundamental para entender estes números. Segundo Renato Meirelles, do Instituto Data Popular, no período de 2002 a 2011 o número de mulheres com carteira assinada aumentou de 9,5 milhões para 14,7 milhões.
“- De item de desejo, a beleza passou a fazer parte da cesta de consumo básico das pessoas e é um mercado que não depende de crédito, pois vive da própria renda dos brasileiros”, diz a diretora da Beauty Fair, maior feira de cosméticos do país, realizada em São Paulo, que na edição do ano passado faturou mais de R$500 milhões.
Grande parte desse crescimento do setor de higiene e beleza alcança índices de quase 20% ao ano, está ligado a uma prática comum aos brasileiros – a venda porta a porta. São em torno de 2,7 milhões de revendedoras, que as empresas rebatizaram de consultoras. Entretanto, trata-se do terceiro canal de comercialização usado no Brasil, atrás dos supermercados e das mercearias. Sem contar que em 2011 o porta a porta vendeu 25 milhões de livros. E que uma empresa do Guarujá está vendendo botijões de gás, usando as consultoras da Avon. Até o Boticário, que tem três mil lojas e é a maior rede brasileira, adotou a prática.
Sete milhões de micro e pequenas empresas
Para encerrar esta sessão, os dados do Pet Shop. O Brasil tem 28 milhões de cães e 10 milhões de felinos e conta com 25 mil lojas pet, um mercado que deverá faturar em 2013 R$15,4 bilhões com uma expansão de 8,3% - a média mundial é de 8,5% para um mercado de US$102 bilhões. Quase 70% dos gastos são relativos à alimentação, segmento que crescerá 4,9%.
Os dados retratam o consumo dos brasileiros, porque justamente é o objetivo do texto. O mercado consumidor que sustenta a economia, e que os analistas da mídia e os agentes do sistema financeiro vivem falando aos quatro ventos que tem limites. E que vai travar. Porém, os brasileiros além de obterem mais renda nos últimos 10 anos, também se reorganizaram. Não querem trabalhar apenas com carteira assinada e ter patrão, mesmo que seja a multi globalizada. Por isso, micro e pequenas empresas se expandiram e chegaram a mais de sete milhões e são responsáveis por 25% do PIB – significa cinco vezes mais o percentual da indústria automobilística no PIB total, que é de 5% - no setor industrial as montadoras representam 22%. E mais: os pequenos negócios são responsáveis por 40% da massa salarial. Os dados são do SEBRAE.
55,2% dos empreendedores da classe C
Em abril, por exemplo, foram criados 140,2 mil empregos, sendo 87 mil gerados pelas micro e pequenas empresas. Entre abril de 2012 e abril de 2013 foram gerados 948,7 mil empregos, 99% gerados por micro e pequenas empresas. Fundamental: 55,2% desses pequenos negócios são de empreendedores da classe C, e 37,5% das classes A e B, apenas 7,3 % das classes D e E.
“- O entendimento, diz o presidente do SEBRAE, Luiz Barreto, é de que negócio próprio mais do que um emprego permitirá a elevação dos padrões econômicos”. É o sonho dos brasileiros, segundo uma pesquisa do Global Entrepremeur Ship Monitor (GEM), realizada em 2012, onde 44% apontavam esta aspiração.
Agora, vamos aumentar a escala. Chegamos ao paraíso do consumo, o templo do capitalismo globalizado, ao shopping center. Me sinto um marciano dento de um shopping. Recentemente entrei num deles em Porto Alegre, para ir ao cinema. É duro suportar aquele cheiro de gordura hidrogenada, das pipocas estouradas com margarina. Pior é o preço. Mas a questão são os números, o tamanho desse negócio no Brasil. Em 2004 eram 325. Em dezembro de 2013 serão 503 – crescimento desse ano é de 41 novos shoppings, o maior número em 14 anos. No ano passado as vendas nas lojas subiram 10,65%, quase o dobro das vendas de supermercados, que registraram 5,3%. A previsão das vendas de 2013 é uma elevação de 12%. Em 2003 as vendas totalizaram R$36 bilhões e 10 anos depois saltaram para R$120 bilhões.
Rumo ao interior
São quase três mil lojas nesses estabelecimentos e o setor emprega 887 mil funcionários, em termos nacionais o varejo emprega 6,7 milhões. Em 2012, os shoppings receberam a visita de 398 milhões de pessoas, é como se cada brasileiro fosse duas vezes ao mês no templo. Os números são da Associação Brasileira de Shopping Center, que adianta os números de 2014– mais 32 empreendimentos. A meta agora são cidades de porte médio entre 80 e 300 mil habitantes. A ABRASCE junto com o IBGE compilou o potencial econômico dessas cidades. Reúnem uma população de 40,6 milhões de habitantes e tem crescido 4% ao ano em média. Elas têm uma renda de R$31,6 bilhões ao mês e R$10,4 bilhões disponíveis para gastar no varejo por mês
Atualmente as cidades do interior abrigam o maior número de shoppings (234), comparado com as capitais (228), sem contar os de 2013, somente 15 ficarão nas capitais. Além da renda, da facilidade de terrenos, menos burocracia, facilidade de construção, custos menores, são os motivos da transferência. Por exemplo, Porto Feliz, 130 km de São Paulo, com 240 mil habitantes na região de influência, vai ter um shopping, porque a Toyota construiu uma fábrica em Sorocaba, emprega 1.500 funcionários, e construirá uma de motores em Porto Feliz, com investimento de R$1 bilhão até 2015. Rio Grande (RS) está na mesma posição, a cidade do polo naval. E assim vai ampliando a base do consumo, também registrando a descentralização das indústrias. Para encerrar: no primeiro quadrimestre de 2013 as três maiores donas de shopping center – Multiplan, Iguatemi e BR Malls – captaram R$2 bilhões no mercado financeiro, em “plena crise”.
Maio bateu recorde na venda de carros
Último capítulo: a indústria automobilística. Pois em maio de 2013 foram vendidos 348,1 mil veículos, incluindo carros, utilitários, caminhões e ônibus. É o maior volume da história da indústria, e que deve fechar o ano com vendas acima de 3,7 milhões. A capacidade industrial brasileira vai sair de 4,5 milhões/ano para 5,4 milhões/ano, contando com a instalação das fábricas da Nissan, Chery, Jac Motors e BMW. O aumento reflete o novo regime automotivo brasileiro, que concede isenções e incentivos às indústrias instaladas aqui e restringe os importados. Contou com a produção de duas novas fábricas – da Toyota em Sorocaba e da Hyundai em Piracicaba -, com a ampliação da GM em Gravataí (RS), passou de 230 mil para 380 mil e é a quarta maior fábrica da multi no mundo. Além disso, a Fiat contratou mais 600 trabalhadores e aumentou a produção em 150 carros/dia em Betim. A Honda, em Sumaré, prolongou a jornada mais duas horas, porque os modelos da empresa venderam 24% mais.
A Renaut terminou a expansão da fábrica no Paraná, agora vai produzir 100 mil veículos por ano. A Hyundai, com a produção do HB20, quarto mais vendido no mercado, em setembro criará o terceiro turno, porque as vendas aumentaram 99%. A Toyota, com o modelo Ethios cresceu 51%, e trabalha com capacidade total – 70 mil veículos. A Mitsubishi, em Catalão, sul de Goiás vai dobrar a produção até 2015 para 100 mil e está instalando os fornecedores na área industrial – cerca de 10 a 15 empresas. O mercado de caminhões, que no ano passado caiu 20%, pela implantação do Euro5, motor que emite menos gases estufa, e o diesel usado emprega menos enxofre, mas custa mais caro, agora já voltou a crescer, deverá aumentar de 7 a 9%, em 2013.
O aumento na produção de veículos no primeiro semestres do ano foi de 18,3%. Na área agrícola aconteceu o mesmo, com a esperada de outra safra recorde – de 220 milhões de toneladas. O primeiro semestre fechou com a venda de 32.500 tratores e 3.929 colheitadeiras, respectivamente, aumentos de 27% e 69% comparado com 2012, ano de seca. A expectativa da indústria de máquinas agrícolas são vendas de 36 mil unidades, batendo recorde de 2010 quando atingiram 35 mil.
Sem trilho para ferrovias
As vendas de ônibus, no primeiro trimestre, aumentaram 56,8% totalizando 9.933, ante os 6.333 do ano passado. A produção maior foi de ônibus urbano – 8.191, 58,2%maior – comparado com 5.178 no mesmo período de 2012.
“- Diz um analista do setor de transporte: além dos eventos como copa do mundo e olimpíadas e do PAC da Mobilidade estendido para outras cidades, motivo do crescimento, outros programas do governo federal como PAC Equipamentos, Programa Caminho da Escola, além de ações como prolongamento do FINAME, para financiamento de ônibus a juros competitivos, desenham um bom quadro para os fabricantes de veículos de transporte coletivo, inclui ainda os corredores para ônibus articulados e biarticulados, os chamados BRTs, que estão sendo concluídos”.
No tema transporte coletivo incluí a produção de trens, afinal, para aumentar a oferta de transporte público, precisa da fábrica que produza os equipamentos ou importaremos tudo? Trilho, por exemplo, somente importado. Dizem os industriais que não há demanda no país, que compense instalar uma laminadora. Resultado: 11 mil novos quilômetros de ferrovias que estão sendo construídas, com trilhos da Ásia, da Europa dos EUA. O Brasil tem uma malha de 29 mil km e durante a década de 1990 produziu 111 locomotivas. Em 2011, foram produzidas 113. A última vez que o país fabricou mais de 100 locomotivas num ano foi em 1977. Agora a indústria, reforçada pela implantação de novas fábricas, como da canadense Bombardier e da Hitachi pretende vender 100 locomotivas ao ano. As ferrovias em construção: Transnordestina, Norte-Sul, Ferrovia da Integração Oeste-Leste e Ferrovia da Integração Centro-Oeste.
Num país desse tamanho construir dez locomotivas por ano entre 1990 a 1999 é demais para minha cabeça. Fica fácil de entender a crise do transporte público.
(*) Najar Tubino é jornalista
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