quarta-feira, 31 de julho de 2013

UM POUCO DE HISTÓRIA DA POLÍTICA BRASILEIRA.

Hélio Fernandes na Tribuna da Imprensa

AS CONSPIRAÇÕES DE 63,
QUE APLAINARAM O CAMINHO
PARA O GOLPE DE 64


 Todo esse ano, rigorosamente histórico, foi consumido por conspirações. O maior conspirador foi o próprio vice João Goulart, transformado em presidente sem votos.
Para ele, o ano começou bem cedo (6 de janeiro), com a compra do plebiscito da volta ao presidencialismo. Foram investidas fortunas inacreditáveis, na cumplicidade de dar ao presidente todos os Poderes. Depois veio a tentativa de intervenção na Guanabara, minha prisão, sem sequer uma parada para reabastecimento, até os discursos subversivos de 1964. (Não chegarei até lá, termino em 1963.

OS GOVERNADORES
PRESIDENCIÁVEIS EM 65
SE INSURGIRAM CONTRA JANGO


Eram 6 governadores, todos candidatos a presidente em 1965. Consideravam que Jango preparava a “República Sindicalista”, sem votos, com ele comandando. Os seis governadores eram estes, por ordem de importância territorial ou econômica:

Ademar de Barros, governador de São Paulo – Já fora interventor, lançara oficialmente a candidatura a presidente. Na oportunidade, o Correio da Manhã, um dos mais importantes da época, “premiou” Ademar com um editorial que tinha o título: “Ladrão, não”. Ele protestou, disse que ia processar o jornal, ganhou outro, com o título complementar: “Ladrão, sim”. Magistral.
Magalhães Pinto, governador de Minas – Candidatíssimo, não tinha legenda, ao contrário de Ademar, dono do PSP. Não podia esquecer que em 1960, Juracy Magalhães, presidente da UDN, fora derrotado pelo próprio partido, que ficou com Janio, patrocinado por Lacerda. Magalhães rompeu publicamente com Jango, passou para a oposição, não era o seu estilo. Estava esperando alguma coisa, não muito distante. Acabou o governo em 1965, nomeado ministro do Exterior da ditadura.
Carlos Lacerda, governador da Guanabara – Não escondia suas ambições, acreditava nele mesmo e na sua capacidade de grande tribuno. Ligadíssimo aos militares, esperava o apoio deles, se enganou completamente. Logo em 64 (ainda antes do golpe) foi convidado para embaixador na ONU, recusou, acreditou em 1965, acabou preso e cassado.
Mauro Borges, governador de Goiás – Não havia reeleição, fazia um bom governo, coronel da reserva do Exército, esperava, como Lacerda, apoio da caserna. Também não foi apoiado, cassado e preso.
Ney Braga, governador do Paraná – Discreto, coronel da reserva, bom articulador e administrador, esperava que tudo isso o ajudasse. Não ajudou, mas não foi punido, terminou o governo tranquilamente.
Leonel Brizola, governador do Rio Grande – Seu mandato acabou nem antes, em 31 de janeiro de 1963. Já se prevenira, se elegera deputado pela Guanabara, com votação espetacular. De cada 5 eleitores, 3 votaram nele. Sem diálogo com Jango desde que este se recusara a nomeá-lo ministro da Fazenda, lançou a candidatura sem falar com ninguém. Contestado por causa do parentesco com Jango, respondeu: “Cunhado não é parente, Brizola para presidente”. Atingido duramente pelo golpe, ficou 15 anos no exílio. Moço, voltou em 1979, teve duas chances, não concretizadas.
Juscelino, ex-presidente – Não conspirava, mas se mantinha candidato. Em 1961, transferindo o governo a Janio, lançou sua candidatura a outro mandato em 1965. Quanta gente acreditava nessa eleição, cada vez mais distante e inexistente.

Jango desequilibrava

Ainda no limite de1963, o presidente governava não para o futuro do país, mas visivelmente para o seu próprio futuro. Isso irritava e concentrava os militares, principalmente os que sofreram a derrota em 1961, quando não puderam reempossar Janio Quadros.

Os militares em ação

O mais destacado conspirador militar de 1963 era o general Costa e Silva, comandante do II Exército (São Paulo). Liderando grande parte do Exército, agia ostensivamente, sabia que na sua condição e importância, nada lhe aconteceria.

1963 ACABA, MAS
1964 JÁ CHEGARA


Todos esses personagens que ocuparam 1963, muito antes dele acabar, já estavam ultrapassados. Nenhum deles percebeu, apesar das minhas repetidas advertências. Algumas, pessoalmente. Outras, jornalisticamente.

PS – Alexandre Magno gostava de dizer que “Alexandria estava a 300 milhas do delta do Nilo”. 31 de julho de 1963, visto em 31 de julho de 2013 (50 anos),está na mesma distância.
PS2 – 1964 está para 1963 com um retrato na parede, e ainda dói.
PS3 – Arbitrário, atrabiliário, autoritário e tão torturador quando o Estado Novo de 1937 a 1945, 1963 condena a memória a um exercício lancinante e dilacerante de recordação

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