Médico que duvida de estrangeiros tem filhos “importados” de Cuba
por Conceição Lemes, a partir da dica do leitor Marcus Vinícius Simioni
Quem passa pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) nem precisa perguntar qual a posição da entidade sobre a “importação” de médicos estrangeiros.
O banner cobrindo praticamente toda a frente do edifício-sede sede, em Porto Alegre, fala por si só.
Com 15 mil associados — apenas estão fora da base Santa Maria, Rio Grande, Novo Hamburgo e Caxias –, seu presidente é o médico Paulo de Argollo Mendes. Há 15 anos no poder, ele reeleito para mais um mandato, o triênio 2013-2015.
“Acordo ‘demagógico’ e ‘ideológico’’, classificou Argollo em 7 de maio, dia seguinte à revelação do ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, de que o governo brasileiro negociava um pacto para trazer 6 mil médicos cubanos.
Em entrevista ao Viomundo, Argollo reforça: “Nós somos frontalmente contrários à vinda médicos estrangeiros, é enganação, pura demagogia. Se um médico estrangeiro cometer eventual barbaridade, quem vai pagar? É uma insegurança absoluta para o próprio paciente”.
Ele acrescenta: “O governo quer trazer médicos pela porta dos fundos, dispensando o Revalida [ Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos, criado e feito pelo governo federal]. Eu fico achando que eles são incompetentes, pois se não fossem, o governo não evitava o Revalida. São médicos de segunda classe para tratar pacientes de segunda, porque é assim que o governo enxerga os pacientes do SUS”.
Felizmente, em tempos de internet, as máscaras caem muito rápido.
O presidente do Simers tem dois filhos médicos. De 1997 a 2004, cursaram medicina no Instituto Superior de Ciências Médicas de Camagüey, em Cuba.
Naquela época, papai Argollo derretia-se em elogios a Cuba e à medicina cubana.
Documentos como o acima, obtidos pela Renovação Médica, possibilitaram a inscrição no Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), de dezenas de médicos cubanos, sem prova de revalidação.
Em 2005, os filhos de Argollo formados em Cuba, em ações separadas, entraram na Justiça contra a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, porque a UFRGS se recusou a validar automaticamente o diploma de médico de ambos.
Pleitos: registro automático do diploma independentemente do processo de revalidação e indenização de R$ 20 mil a título de danos morais sofridos. Na época, não existia ainda o Revalida. Cada universidade federal fazia a sua própria validação.
– Não é contrassenso o senhor execrar a “importação” de médicos, já que seus filhos estudaram em Cuba, entraram na Justiça para não fazer a revalidação do diploma no Brasil e ainda cobraram da Universidade Federal do Rio Grande do Sul R$ 20 mil por danos morais? – esta repórter questionou-lhe.
“Não”, diz candidamente Argollo. “Primeiro, porque eles validaram o diploma se eu não me engano em Fortaleza; foi a primeira universidade federal que abriu inscrição. Segundo, quando foram para Cuba, havia um acordo bilateral entre Brasil e Cuba para revalidação automática de diplomas. Enquanto eles estavam lá, o governo Fernando Henrique revogou esse convênio. Então, eles tinham o direito adquirido.”
Realmente, Brasil e Cuba eram signatários de um acordo, cujos Estados-Parte assumiram o compromisso de registro automático dos diplomas emitidos pelas instituições de ensino superior. No Brasil, a decisão foi promulgada pelo decreto presidencial nº 80.419, de 27 de setembro de 1977.
Porém, em 15 de janeiro de 1998, o Brasil comunicou à Unesco o término do pacto, que foi extinto exatamente um ano depois. Em 30 de março de 1999, o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) revogou o decreto nº 80.419/77.
Reiteradas decisões da Justiça Federal negaram os pleitos dos irmãos Argollo; a um deles o juiz determinou ainda o pagamento das custas e honorários advocatícios da outra parte. Alguns trechos delas:
Será que, em função disso, a priori, os filhos mereceriam ser tachados de incompetentes e médicos de segunda classe, como o pai-sindicalista tenta carimbar hoje os “estrangeiros”?
Argollo, relembramos, acusou ainda o anunciado acordo Brasil-Cuba de ser “ideológico”.
Então, será que quando os filhos estudaram no Instituto Superior de Ciências Médicas de Camagüey, ele não sabia que o regime político de Cuba é o comunismo? Ou será que foi enganado pela propaganda vermelha?
Quem passa pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) nem precisa perguntar qual a posição da entidade sobre a “importação” de médicos estrangeiros.
O banner cobrindo praticamente toda a frente do edifício-sede sede, em Porto Alegre, fala por si só.
Com 15 mil associados — apenas estão fora da base Santa Maria, Rio Grande, Novo Hamburgo e Caxias –, seu presidente é o médico Paulo de Argollo Mendes. Há 15 anos no poder, ele reeleito para mais um mandato, o triênio 2013-2015.
“Acordo ‘demagógico’ e ‘ideológico’’, classificou Argollo em 7 de maio, dia seguinte à revelação do ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, de que o governo brasileiro negociava um pacto para trazer 6 mil médicos cubanos.
Em entrevista ao Viomundo, Argollo reforça: “Nós somos frontalmente contrários à vinda médicos estrangeiros, é enganação, pura demagogia. Se um médico estrangeiro cometer eventual barbaridade, quem vai pagar? É uma insegurança absoluta para o próprio paciente”.
Ele acrescenta: “O governo quer trazer médicos pela porta dos fundos, dispensando o Revalida [ Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos, criado e feito pelo governo federal]. Eu fico achando que eles são incompetentes, pois se não fossem, o governo não evitava o Revalida. São médicos de segunda classe para tratar pacientes de segunda, porque é assim que o governo enxerga os pacientes do SUS”.
Felizmente, em tempos de internet, as máscaras caem muito rápido.
O presidente do Simers tem dois filhos médicos. De 1997 a 2004, cursaram medicina no Instituto Superior de Ciências Médicas de Camagüey, em Cuba.
Naquela época, papai Argollo derretia-se em elogios a Cuba e à medicina cubana.
Documentos como o acima, obtidos pela Renovação Médica, possibilitaram a inscrição no Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), de dezenas de médicos cubanos, sem prova de revalidação.
Em 2005, os filhos de Argollo formados em Cuba, em ações separadas, entraram na Justiça contra a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, porque a UFRGS se recusou a validar automaticamente o diploma de médico de ambos.
Pleitos: registro automático do diploma independentemente do processo de revalidação e indenização de R$ 20 mil a título de danos morais sofridos. Na época, não existia ainda o Revalida. Cada universidade federal fazia a sua própria validação.
– Não é contrassenso o senhor execrar a “importação” de médicos, já que seus filhos estudaram em Cuba, entraram na Justiça para não fazer a revalidação do diploma no Brasil e ainda cobraram da Universidade Federal do Rio Grande do Sul R$ 20 mil por danos morais? – esta repórter questionou-lhe.
“Não”, diz candidamente Argollo. “Primeiro, porque eles validaram o diploma se eu não me engano em Fortaleza; foi a primeira universidade federal que abriu inscrição. Segundo, quando foram para Cuba, havia um acordo bilateral entre Brasil e Cuba para revalidação automática de diplomas. Enquanto eles estavam lá, o governo Fernando Henrique revogou esse convênio. Então, eles tinham o direito adquirido.”
Realmente, Brasil e Cuba eram signatários de um acordo, cujos Estados-Parte assumiram o compromisso de registro automático dos diplomas emitidos pelas instituições de ensino superior. No Brasil, a decisão foi promulgada pelo decreto presidencial nº 80.419, de 27 de setembro de 1977.
Porém, em 15 de janeiro de 1998, o Brasil comunicou à Unesco o término do pacto, que foi extinto exatamente um ano depois. Em 30 de março de 1999, o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) revogou o decreto nº 80.419/77.
Reiteradas decisões da Justiça Federal negaram os pleitos dos irmãos Argollo; a um deles o juiz determinou ainda o pagamento das custas e honorários advocatícios da outra parte. Alguns trechos delas:
A colação de grau do autor ocorreu em 2004 (fl. 31), ou seja, em momento posterior à revogação do Decreto Presidencial nº 80.419/77, de modo que inexiste direito adquirido ao registro do diploma independentemente de processo de revalidação.
…
…como, no caso, o demandante não possuía, ao tempo da edição do Decreto nº 3.007/99, o diploma expedido pela universidade estrangeira, não há como pretender valer-se das disposições da convenção internacional para eximir-se do cumprimento dos requisitos exigidos pela legislação pátria.
…
Resolução nº 1, de 28 de Janeiro de 2002, a realização de avaliação é necessária para verificar o real preparo do estrangeiro. Nesse sentido, deve o autor prestar a referida avaliação para obter a revalidação de seu diploma.
Conclusão: os filhos de Argollo são médicos ” importados” de Cuba e tentaram entrar pela porta dos fundos, já que não queriam validar o diploma no Brasil.Será que, em função disso, a priori, os filhos mereceriam ser tachados de incompetentes e médicos de segunda classe, como o pai-sindicalista tenta carimbar hoje os “estrangeiros”?
Argollo, relembramos, acusou ainda o anunciado acordo Brasil-Cuba de ser “ideológico”.
Então, será que quando os filhos estudaram no Instituto Superior de Ciências Médicas de Camagüey, ele não sabia que o regime político de Cuba é o comunismo? Ou será que foi enganado pela propaganda vermelha?
Carlos Augusto Dória · Economista pleno na empresa Petrobras
Que hipocrisia! Graças a Internet hipócritas como esse Dr. Argolo são desmascarados.
Jane Argollo · Seguir · Quem mais comentou · Coordenadora na empresa Ponto de Cultura La Integracion
ninguei escolhe pai, são socialistas e tem muito orrgulho de ter estudado em Cuba. Foi uma decisão que eu mãe deu todo apoio. Costumo dizer que fiz medicina por duas vezes com o pai e com os filhos não tem comparação, não porque são meus filhos mas porque Cuba é sem duvida melhor. Azenha pediria que não envolvese meus filhos nesta historia podre que é a corporação medica brasileira por favor já basta a vergonha que sentimos os cincos uma nora Cubana outra Venezuela, chavista e fidelistas, não nos mescle com esta gente não sei são gente sei se são gente. Azenha nos poupe disto que já não esta facil, em fim é pai.
Erre Vefe
Sra. Jane, primeiramente obrigado, não tem preço poder ler depoimento de quem está diretamente envolvida no problema. Lamento, mas entendo que queira estar fora da discussão, a mídia conservadora não poupa ninguém. Em todo caso, parabéns a todos, brasileiros, cubanos, venezuelanos e todos que possam e queiram contribuir com um mundo mais humano nestes tempos atuais.
Everson Francisco de Oliveira · UNISA
A Sra. tem todo meu respeito, seu gesto de coragem e franqueza deveria servir de exemplo para parte da classe médica que apoiam esse absurdo em detrimento da população carente. Parabéns Senhora. (Sou um Zé Ninguém que assiste de perto o sofrimento de muitos por falta de médico para atendimento público)
Antonio Pereira Barbosa · Seguir · Vice President na empresa Afrafep · 572 assinantes
O povão que mora no interiorzão do país é objeto da discussão entre governo e classe médica, regra geral. Registre-se as honradas posições médicas favoráveis ao programa MAIS MÉDICO. Mas, este mesmo povão tá fora do debate por questões políticas, de poder. Continua pagando impostos, para formar médicos, com novas tecnologias, novos interesses mercadológicos, capitalistas. Para pagar impostos, financiar universidades públicas e financiar universidades particulares; pobre é ótimo. Porém, para receber serviços humanitários, de solidariedade, específico dos médicos ao ser humano, trava-se um debate estéril e desagregador. Um país que não anda. Uma gente que sofre. Os médicos precisam reencontrar-se com o ser mais importante de suas vidas profissionais, que são os seres humanos, estes sim, capital acima de quaisquer valores.
Helena Meilsmidth Chacon · Quem mais comentou
ESTE MÉDICO NÃO FEZ O JURAMENTO DE HIPÓCRATES. FEZ O JURAMENTO DE HIPÓCRITA. Paulo Chacon.
Luis Roberto Tizoco · Seguir · Comentaristas e Colunista de Meio Ambiente na empresa Radio 94 FM Bauru
Viva a liberdade de expressão das Redes Sociais...ou vcs acreditam que isso vai aparecer em algum telejornal ou em qualquer jornalão impresso deste país?
Milena Barbosa · Advogada/Lawyer na empresa Ordem dos Advogados do Brasil
Quanta hipocrisia desse senhor! Creio que a solução seja bem simples: assim como os bacharéis de Direito devem passar no exame da OAB para só então poderem exercer a Advocacia, que os médicos - todos eles, formados no Brasil ou 'importados' - façam o mesmo, que também tenham o exercício da medicina condicionado à aprovação em exame de proficiência. Ora, quer dizer que pra advogar é necessário provar ter competência para tanto, mas para tratar da saúde das pessoas não?? A solução me parece bastante óbvia da mesma forma que é bastante óbvio o porquê de sua inconveniência para os profissionais em questão. Mais da metade dos médicos foram reprovados em exame do Conselho de SP e ainda assim eles exercerão a medicina. E é assim, com profissionais desqualificados, que a saúde brasileira vai se afundando cada vez mais...
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/ 2012/12/ futuros-medicos-reprovados- em-exame-vao-poder-exercer -profissao.html
Dayse Alves · FMU enfermagem
Se a classe médica que reside no Brasil, recusa a atender seu semelhante.... Ainda não entendi o pq os estrangeiros não podem fazer o que eles não querem fazer"Atender a População Brasileira"... Patético....
Marcelo Petistacontrafarsadomensalão Bancalero · Seguir · Quem mais comentou · Editor-chefena empresa Blogueiro · 334 assinantes
Quem pagou pelo banner Dr. Coxinha?
Rogerio Ceni · UNILIVRE - Universidade Livre do Meio Ambiente
Ê LÊ LÊ... É MUITA falta de estratégia e inteligência p/ uma categoria que se diz tão "importante", rsrs.
Rodrigo Gonçalves
Impressionante como a corporação parece prevalecer sobre todas as coisas. Ao ler o depoimento de Jane Argollo, não compartilho esta mensagem, por respeito a família, aos filhos e sua ideologia. Apenas externo meu repúdio a incoerente e hipócrita posição do Sr. Presidente do SIMERS e minha saudação a competente nota do Viamundo.
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