Irmã Teresa Forcades
Publicado originalmente na BBC.
O
mosteiro de St. Benet está entre os mais belos e tranquilos lugares.
Para chegar lá, você precisa rumar pelas paisagens lindas da montanha
sagrada de Montserrat.
A
irmã Teresa Forcades, estrela improvável de programas de entrevistas,
do Twitter e do Facebook, tem tido dificuldade em parar de pregar. Tão
grande é a demanda por seu tempo e sua bênção que o email de seu
secretário aqui no mosteiro sempre retorna uma resposta automática de
que a caixa de entrada está cheia.
Irmã
Teresa parece sempre estar em pelo menos dois lugares ao mesmo tempo.
Ela tem os olhos brilhantes, é confiante, quase alegre. Sua inglês
perfeito - morou durante alguns anos na Universidade de Harvard - parece
de alguma forma fora de lugar nos claustros humildes deste local
sereno.
Não
há nenhum político parecido com ela. Ela nunca está sem o hábito de
freira e diz que tudo que faz vem de uma profunda fé cristã e devoção.
No entanto, tem sido crítica da Igreja e dos homens que a dirigem.
Os
seguidores de seu movimento, Proces Constituint, com aproximadamente 50
mil catalães, são principalmente esquerdistas não-crentes. Ela não quer
um cargo e diz que não vai criar um partido político, mas é
inegavelmente uma figura política em uma missão - derrubar o capitalismo
internacional e alterar o mapa de Espanha.
Seu programa de 10 pontos, elaborado com o economista Arcadi Oliveres, pede:
• A estatização de todos os bancos e medidas para coibir a especulação financeira
•
O fim de cortes de empregos, salários mais justos e pensões, menos
horas de trabalho e pagamentos para os pais que ficam em casa
• Uma "democracia participativa" genuína e medidas para coibir a corrupção política
• Habitação decente para todos e um fim a todas as execuções de hipotecas
• A reversão de cortes de gastos públicos e renacionalização de todos os serviços públicos
• Direito de um indivíduo ser dono de seu próprio corpo, incluindo o direito da mulher de decidir sobre o aborto
• Políticas econômicas "verdes" e a nacionalização das empresas de energia
• O fim da xenofobia e a revogação das leis de imigração
• Meios de comunicação públicos sob controle democrático, incluindo a internet
• “Solidariedade" internacional, sair da Otan e a abolição das forças armadas em uma futura Catalunha livre
Com
um talento natural para falar em público, e mente afiada de uma
militante, ela não teria superado a vida monástica? Suas irmãs não
estariam cansadas das visitas constantes, eu me pergunto?
Ela
interrompe a nossa primeira entrevista para cumprimentar uma delegação
de ativistas pela independência da Catalunha, que vieram prestar
homenagem ao mosteiro.
Enquanto espero, as irmãs que param para conversar não têm dúvida de que
o seu talento e sua fama são "dons de Deus" e que ela está abrindo
caminho para um futuro mais jovem e mais feminista para a Igreja
Católica.
Elas
são apenas três dezenas de mulheres que vivem uma vida tranqüila de
oração, mas esta é a base do poder político da Irmã Teresa. Ela é o
embaixador delas para o mundo secular e, muitas vezes turbulento além da
montanha. Diferentemente da maioria dos partidos políticos, movidos
pela rivalidade, o círculo íntimo de Irmã Teresa a ama
incondicionalmente.
Quando
eu viajo para vê-la buscando apoio para o novo movimento em uma praça
da cidade, o lugar está lotado. Ela agarra a multidão com idéias
radicais que assustam muitos políticos tradicionais na Espanha. Ela
admira Gandhi e algumas das políticas do falecido Hugo Chávez, na
Venezuela, e de Evo Morales, da Bolívia.
Mas é o modelo econômico secular das monjas beneditinas, criando bens úteis para vender, que ela cita mais apaixonadamente.
Depois
de um intervalo de duas semanas, eu subo a estrada sinuosa para o
mosteiro para uma última visita. Irmã Teresa foi a uma conferência
religiosa no Peru, onde é inverno, e voltou para casa com um resfriado.
Bispos fiéis ao Vaticano têm criticado suas posições radicais sobre
tudo, do aborto aos bancos.
Tornou-se uma batalha por onde passa. Pelo menos por enquanto, seu bispo em casa não a proibiu de continuar.
Na
capela, ela cumprimenta minha esposa e os dois filhos pequenos
calorosamente. Ela me disse que, quando era adolescente, abraçou o
celibato.
É outra contradição que percebo: ela está perdendo uma vida em que pode amar livremente e tudo o mais que isso implica?
Ela
me diz que se apaixonou três vezes desde que se tornou freira, mas sua
devoção a Deus e ao mosteiro continua forte como sempre.
"Enquanto
a minha vida religiosa for cheia de amor, eu vou estar aqui", ela diz.
"Mas no momento em que esta vida se transformar num sacrifícios... Então
é será meu dever abandoná-la."
Por ora, ao que parece, o caso de amor da Catalunha com talvez a figura política mais improvável do mundo vai muito bem.
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