A Revolta dos Sargentos - 50 anos
Reunião da Associação dos Sargentos no Automóvel Clube (RJ) em 30 de março de 1961 Foto: Arquivo Nacional |
A Revolta dos Sargentos foi a rebelião promovida por cabos, sargentos e
suboficiais, sobretudo da Aeronáutica e da Marinha, em 12 de setembro
de 1963, em Brasília, motivada pela decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF) de reafirmar a inelegibilidade dos sargentos para os órgãos do
Poder Legislativo, conforme previa a Constituição de 1946.
A Carta de 1946 proibia, embora de forma pouco explícita, que os
chamados graduados das forças armadas (sargentos, suboficiais e cabos)
exercessem mandato parlamentar em nível municipal, estadual ou federal.
Nesse sentido, o direito à elegibilidade foi o móvel principal das
campanhas da categoria. Durante o mandato de João Goulart
(1961-1964), o movimento dos sargentos foi fortalecido devido à sua
participação durante agosto e setembro de 1961 na campanha da
legalidade, que garantira a posse de Goulart. Além disso, o movimento
apoiava as reformas de base (agrária, urbana, educacional,
constitucional etc.) preconizadas pelo governo.
Em 1962, os sargentos do então estado da Guanabara, São Paulo e Rio
Grande do Sul indicaram candidatos próprios para concorrer à Câmara
Federal, às Assembléias Legislativas e às Câmaras de Vereadores no
pleito de outubro. Se na Guanabara, o sargento do Exército Antônio Garcia Filho
elegeu-se deputado federal e, apesar do impedimento constitucional,
tomou posse em 1º de fevereiro de 1963, no Rio Grande do Sul e em São
Paulo, os candidatos eleitos – respectivamente Aimoré Zoch Cavalheiro e
Edgar Nogueira Borges, ambos sargentos do Exército - foram impedidos de
assumir seus mandatos de deputado estadual e vereador.
A questão da elegibilidade mobilizou a classe em 1963. No dia 12 de
maio, cerca de mil graduados reuniram-se no Rio de Janeiro para discutir
a situação. Durante a reunião, o subtenente Gelci Rodrigues Correia
declarou que a categoria não podia se comprometer a defender a ordem
reinante no país, pois ela "beneficia uns poucos privilegiados" e
referiu-se à possibilidade dos graduados "lançarem mão de seus
instrumentos de trabalho... para exigir as reformas de base do governo
federal". Em 23 de maio, o ministro da Guerra Amauri Kruel puniu Gelci com 30 dias de prisão.
No dia 11 de setembro, o STF confirmou a sentença do TRE gaúcho acerca
do impedimento da posse do sargento Aimoré, o que implicava que os
sargentos, suboficiais e cabos eram declarados definitivamente
inelegíveis. Na madrugada do dia 12, cerca de seiscentos graduados da
Aeronáutica e da Marinha se apoderaram dos prédios do Departamento
Federal de Segurança Pública (DFSP), da Estação Central da Rádio
Patrulha, do Ministério da Marinha, da Rádio Nacional e do Departamento
de Telefones Urbanos e Interurbanos. As comunicações de Brasília com o
resto do país foram cortadas. Vários oficiais foram presos e levados
para a base aérea de Brasília, foco da sublevação, onde também ficou
detido o ministro do STF Vítor Nunes Leal.
O presidente em exercício da Câmara dos Deputados, deputado Clóvis
Mota, foi recolhido ao DFSP. Os rebeldes, chefiados pelo sargento da
Aeronáutica Antônio de Prestes Paula, receberam o apoio de deputados da Frente Parlamentar Nacionalista, que compareceram à base aérea.
Cerca de 12 horas depois de sua eclosão, o levante foi sufocado por
tropas do Exército. No dia 13, Prestes de Paula foi preso pela Polícia
do Exército. Os prisioneiros, num total de 536, foram mandados
para o Rio de Janeiro, sendo alojados num barco-presídio ancorado na
baía de Guanabara. Outros líderes do movimento foram detidos no Rio, em
São Paulo e no Rio Grande do Sul. Em 19 de março de 1964, os 19
sargentos indiciados em inquérito policial-militar (IPM) foram
condenados a quatro anos de prisão.
Sérgio Lamarão
Nenhum comentário:
Postar um comentário