SÍRIA - Lawrence tinha razão.
Lourenço tinha razão
Bristol (EUA) - Acho que todos nós brasileiros
deveríamos encarar com humildade uma história como a da Síria, cuja
capital, Damasco, é uma das mais antigas cidades do mundo continuamente
habitadas e a caminho da qual Saulo de Tarso, diz-se, encontrou Jesus.
Atravessando os séculos, como parte da Mesopotâmia e da Assíria,
dominada pelos romanos (é interessante recordar que diversos imperadores
romanos eram sírios de nascença), pelos cristãos, depois pelos
muçulmanos, integrante do Império Otomano, a Síria foi uma das regiões
do mundo que potências ocidentais dividiram arbitrariamente de acordo
com seus próprios interesses, traçando fronteiras que não levavam em
consideração nem etnias, nem religiões, nem tribos, nem seitas, nem
costumes, nem lealdades.
O filme Lawrence of Arabia, em que Peter O’Toole teve o papel
principal, mostra bem este episódio, em que o inglês T. E. Lawrence
(foto) convenceu os árabes de que eles ganhariam a independência apenas
para saber depois que seus superiores tinham feito um acordo secreto com
a França em que a região seria dividida entre os dois países.
Foi o acordo Sykes-Picot, em que a França ficou com a Síria, entre
outras regiões, e o Reino Unido ficou com o Iraque, entre outras.
A Síria tornou-se um Mandato Francês e só ganhou sua independência em 1946, depois da Segunda Guerra Mundial.
Isto explica em parte porque o parlamento do Reino Unido, tão
interessado em se aliar aos Estados Unidos no Iraque, não aprovou agora
um ataque à Síria, enquanto a França, que se negou a se envolver no
Iraque, acude pressurosamente quando se trata de uma intervenção na
Síria, que considera sua “zona de influência”.
O conflito de 1914 a 1918 viu também a criação do Mandato Britânico
na Palestina, com a garantia, em documennto escrito, de Lord Balfour ao
Barão de Rothschild, poderoso banqueiro judeu de cujo financiamento a
continuação da guerra necessitava, de que a região seria eventualmente
entregue aos judeus, como acabou acontecendo.
Por que o Império Otomano conseguiu durante tantos séculos dominar a
região, enquanto as potências ocidentais, das quais os Estados Unidos
são o natural sucessor, são obrigadas a enfrentar uma permanente
instabilidade?
A reposta está na descentralização do Império Otomano, com as
diversas regiões e diferentes seitas e etnias, entre as quais se
incluíam cristãos (assírios, coptas, católicos, protestantes,
ortodoxos), judeus, curdos, árabes, persas, turcos, armênios, gregos,
ciganos, circacianos, cipriotas, tártaros, iazidis, sunis, alawitas,
xiitas e zoroastras, gozando de grande autonomia em suas áreas.
Mas o Império Otomano (leia-se Turquia) cometeu o erro fatal de se
aliar à Alemanha e ao Império Austro-Húngaro, derrotados na I Guerra
Mundial, e foi por isto parcelado entre os vencedores.
T. E. Lawrence, com seu conhecimento da região, disse que a catástrofe seria inevitável, exatamente como acontece agora.
Barack Obama encontra-se diante da decisão mais difícil de sua
administração. Por causa de interesses belicistas dos Estados Unidos,
corre o risco de enredar cada vez mais o país num labirinto que as
nações europeias criaram por não ouvirem a voz de homens conhecedores da
história da região, como foi T. E. Lawrence.
Pior: está praticando um ato ilegal, que ignora o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Inácio Werneck no Direto da Redação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário