JB
O
grande perdedor desta segunda fase do julgamento do Mensalão é quem
pareceu ter sido o grande vencedor da primeira: Joaquim Barbosa.
Qualquer
que seja o voto do decano Celso de Mello nesta quarta-feira, e se ele
não ceder à abjeta pressão da mídia e de seus colegas conservadores e da
mídia deverá acolher os embargos infringentes, isso não muda.
A imagem de JB sofreu um devastador – e merecido – processo de desvalorização.
Primeiro,
e acima de tudo, os fatos demonstraram que ele tem conhecimentos
rudimentares de ética profissional – se é que tem algum.
Isso
se expressou, e coube ao DCM noticiar, na sem cerimônia com que ele
pagou a viagem de uma jornalista da Globo para a Costa Rica, onde ele
daria uma palestra tão irrelevante que quase ninguém lembra sobre que
versava.
Juízes
devem manter intransponível distância da mídia, e vice-versa, por
motivos óbvios. Ambos os lados – magistrados e mídia – têm que se
fiscalizar, em nome do interesse público. Há, em ligações entre juízes e
jornalistas, um enorme conflito de interesses.
Depois, JB deu um passo adiante e aproveitou a camaradagem indevida com a Globo para obter um emprego para o filho.
Outro
momento épico no mergulho no valetudo de JB foi a compra de um
apartamento em Miami mediante uma falácia: a de que o negócio fora feito
não por ele, mas por uma empresa. O objetivo, aí, era sonegar.
Que mensagem ele passa aos brasileiros com isso? Façam qualquer coisa -- inventem que têm uma empresa – para fugir dos impostos.
É o que se espera de um magistrado?
Não,
naturalmente. É desalentador que coisas assim tenham passado em branco
pela mídia tradicional, e a explicação reside exatamente nas relações de
mútua e descabida amizade.
Alguém
imagina que a Globo vá dar notícias desfavoráveis de JB? E a Veja?
Pesquise e tente encontrar alguma coisa, caso queira checar.
A
atitude de JB nesta segunda etapa do julgamento tem sido simplesmente
lastimável. Nas duas últimas sessões do STF ele fez uma patética cera – chicana, caso prefira – para empurrar a decisão para a frente.
O
objetivo, em ambas as ocasiões, parecia ser ganhar tempo para
influenciar decisões, depois da surpresa, para ele, do voto firme pelos
embargos infringentes com o qual Barroso mudou a dinâmica das decisões.
Fala
muito sobre o despreparo de JB, como magistrado, ignorar a existência
dos embargos infringentes em casos de julgamento direto pelo STF. A
Constituição consagra o direito de todo brasileiro a um duplo grau de
avaliação, e este é exatamente o espírito dos embargos.
Não se trata de inocentar pessoas, mas de reexaminar casos sob condições específicas previstas em lei.
A
pobreza do principal argumento de JB dispensa comentários: o tempo
gasto no julgamento. Em outras palavras, a morosidade da justiça.
Ora,
o que está em julgamento não é a velocidade da justiça – mas o acerto
em decisões que, a muitos, parecem absurdas e iníquas, tomadas para
agradar a turma de sempre do 1%.
Joaquim Barbosa teria discutido com amigos a possibilidade de renunciar ao cargo caso os embargos passem.
Não fará falta.
Qualquer reforma séria no STF – e eis algo urgente para o país – não será feita sob a égide de figuras como Joaquim Barbosa.
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