domingo, 2 de novembro de 2008

ELEIÇÕES AMERICANAS - Os candidatos e os "rumores sórdidos"

Argemiro Ferreira.

Em um dos websites que melhor cobrem a campanha presidencial de 2008 e a política dos EUA, o Politico.com fez um balanço dos rumores levianos que circulam contra os candidatos na Internet. E que levam pessoas - talvez algumas até sem maldade ou má intenção, mas muitas apenas empenhadas em explorar a boa fé alheia ou fazer jogo sujo - a reclamar a atenção da mídia em geral para aqueles boatos.

A vítima mais freqüente das intrigas e esforços sórdidos de difamação, claro, é o democrata Barack Obama, mas também John McCain é alvo de ataques. Na reta final da campanha, nos últimos dias, o esforço subterrâneo redobrou. E leitores cobram informações dos jornais e outros veículos, em especial da TV. Às vezes leitores são enérgicos, exigindo a cobertura, a pretexto de que os boatos não podem ser ignorados.

Veículos como a Fox News mostram-se algumas vezes favoráveis à disseminação de boatos lançados claramente para denegrir Obama, talvez para vê-lo despencar da liderança nas pesquisas. Mas o Politico.com revelou a informação surpreendente de que esse canal do império Murdoch de mídia julgou "absolutamente falso" pelo menos um boato difamatório - o que acusava Michelle Obama de ter sido radical no passado.
O ativismo conservador religioso

Alguém que tenha acompanhado a total irresponsabilidade da grande mídia do Brasil (organizações Globo, "Veja", Estadão & cia.) durante a campanha presidencial de 2006, quando os veículos acabaram humilhados por causa da obsessão de mudar a tendência do eleitorado e impedir a reeleição do presidente Lula, poderia estranhar que veículos dos EUA não sejam tão levianos na cobertura eleitoral.

Curiosamente, um brasileiro que escreve para jornais do Rio e São Paulo está em processo de assimilação pela direita religiosa dos EUA através de um "ativista conservador cristão". E envia regularmente ataques à mídia, dos dois países, por omitir os boatos suspeitos. Ao mesmo tempo, veicula ele próprio os rumores selvagens que a mídia americana rejeita como maluquice sem pé nem cabeça.

Não por coincidência, claro, ele abraça com entusiasmo baboseiras que fazem a festa no submundo dos "talk shows" de rádio, onde as falsidades são veiculadas com aparência de verdades eternas. A essa gente referia-se o Politico.com no texto publicado agora - um balanço do que chamou de "os mais sórdidos rumores" da campanha de 2008, sobre os quais seus leitores têm perguntado e pedem informações.
A certidão de nascimento de Obama

Em matéria de sordidez, o boato que deixa longe todos os outros continua a ser o da certidão de nascimento de Obama. Primeiro alegou-se que o candidato não tinha a tal certidão. Depois que o documento foi exposto no website do candidato, mostrando que ele de fato nasceu no Havaí, onde morava a mãe americana e o pai do Quênia, adaptou-se o rumor. Hoje este passou a atacar a certidão como falsa.

Para ser presidente, não basta ser americano: é preciso ser americano nato. E os boateiros juram que Obama nasceu no Quênia. O rumor já circulava, durante as primárias, em blogs que apoiavam Hillary Clinton. Agora existe até ação judicial, na Filadélfia, iniciada por um advogado, Philip Berg - o mesmo que no passado tinha denunciado o governo Bush como cúmplice do terrorismo do World Trade Center.

O Politico.com citou o website Annenberg Political Fact Check, que provou a autenticidade da certidão de nascimento com documentação farta e até ampliações de detalhes Não há qualquer dúvida, mas Berg disse há seis dias no "talk show" do extremista Michael Savage que "em um ou dois dias" mostraria gravação na qual a avó queniana de Obama jura ter ele nascido no Quênia. Ao menos por enquanto ainda não mostrou.
O caso Odinga e outros boatos

A Jerome Corsi, autor de um dos livros que difamam Obama (depois de ter feito o mesmo com John Kerry em 2004, em outro livro), é atribuído o boato de que o premier do Quênia, Raila Odinga, que se diz primo distante do candidato, teve apoio de Obama para chegar ao cargo. Na versão de Corsi, os dois conspiraram ainda para "impor a lei islâmica no Quênia" - o que não faz sentido, pois são cristãos (Odinga é anglicano).

Boatos envolvendo McCain estão longe de ter a mesma gravidade. Um deles refere-se a suposto palavrão ofensivo que ele teria dito em 1992, referindo-se à esposa Cindy - e citado depois pela revista "Vanity Fair". Na mesma linha, falou-se de conduta imprópria e insultos de McCain a turistas certa vez em Fiji. Mesmo se fossem boatos com fundamento, o que não é o caso, parece coisa sem maior relevância.

O boato que poderia ser mais sério - mas foi considerado falso pelo mesmo FactCheck que investigou a certidão de nascimento de Obama - referia-se à suspeita de conduta irresponsável de McCain como piloto, que teria causado um acidente grave. Não há prova de que seja verdade. Se fosse o caso, não passaria de um excesso como tantos que ocorrem com pilotos jovens. E, afinal, acidentes acontecem.
Fonte: Tribuna da Imprensa.

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