terça-feira, 4 de novembro de 2008

INTRODUÇÃO AO COLAPSO DA WALL STREET.

Walden Bello.

“A compra aos bancos de 700 mil milhões de títulos de hipotecas sem cobertura é sobretudo um esforço desesperado para introduzir confiança no sistema, prevenindo a erosão da confiança nos bancos e nas outras instituições financeiras e evitando uma corrida em massa aos bancos como a que desencadeou a Grande Depressão de 1929”.

Muita gente em Wall Street e todos os outros, que somos nós, estamos ainda digerindo os magnos acontecimentos dos últimos dias. Evaporaram-se de entre mil a três mil milhões de dólares de activos financeiros. Para todos os efeitos, Wall Street foi nacionalizada. A Reserva Federal e o Departamento do Tesouro estão a tomar as mais importantes decisões estratégicas no sector financeiro e, com a salvação do American International Group (AIG), o governo dos EUA está agora à frente da maior empresa de seguros do mundo. A maior injecção de liquidez desde a Grande Depressão, com 700 mil milhões de dólares, está a ser desesperadamente preparada para salvar o sistema financeiro global.

As explicações habituais já não chegam. Acontecimentos extraordinários exigem explicações extraordinárias. Mas, primeiro…

Já passou o pior?
Não. Se alguma coisa é clara dos contraditórios movimentos da última semana (deixar cair a Lehman Brothers enquanto se resgatava o AIG e se engendrava a tomada de Merrill Lynch pelo Bank of America), é que não há estratégia para lidar com a crise, apenas respostas tácticas. É como ter um quartel de bombeiros a dar resposta a uma conflagração generalizada.

A compra aos bancos de 700 mil milhões de títulos de hipotecas sem cobertura é sobretudo um esforço desesperado para introduzir confiança no sistema, prevenindo a erosão da confiança nos bancos e nas outras instituições financeiras e evitando uma corrida em massa aos bancos como a que desencadeou a Grande Depressão de 1929.

Foi a ganância que provocou o colapso do centro nervoso do capitalismo global?
Claro que a velha ganância teve o seu papel. Foi isso que quis dizer Klaus Schwab, o organizador do Fórum Económico Mundial, festa anual da elite global nos Alpes suíços, quando disse numa entrevista de inícios deste ano: “Temos de pagar pelos pecados do passado.”

Terá sido o caso de Wall Street se ultrapassar a si própria?
Decididamente. Os especuladores financeiros ultrapassaram-se a si próprios ao criarem produtos financeiros cada vez mais complexos, como os derivados baseados na titularização e rendibilização de todas as formas de risco, incluindo instrumentos de futuros tão exóticos como os contratos financeiros bilaterais (“credit default swaps”) que permitem aos investidores apostarem na hipótese dos próprios devedores aos bancos não conseguirem pagar as suas dívidas! Foi este o negócio “multi-bilionário” não-regulado que deitou abaixo o AIG.

Em 17 de Dezembro de 2005, quando a International Financing Review (IFR) anunciou os seus prémios anuais de 2005, um dos mais prestigiados programas de prémios no negócio dos títulos, encontrou isto para dizer: “[a Lehman Brothers] não apenas manteve a sua presença no mercado global, como também liderou o espaço da sua especialidade através…do desenvolvimento de novos produtos e do desenho de transações adaptadas às necessidades dos aforradores… a Lehman Brothers é a mais inovadora no seu espaço de eleição, fazendo simplesmente coisas que não se vêem noutro lado.”

Sem comentários.

Terá sido falta de regulação?
Sim. Toda a gente reconhece agora que a capacidade da Wall Street para inovar e produzir instrumentos financeiros cada vez mais sofisticados andou muito à frente da capacidade de regulação do governo. Tal não se deveu à incapacidade do governo para regulamentar, mas sim porque a atitude neoliberal dominante de “laissez-faire” impediu o governo de preparar mecanismos de regulação efectivos.

Mas não haverá algo mais que está a acontecer?
Assistimos à intensificação de uma das crises ou contradições centrais do capitalismo global: a crise de superprodução, também conhecida como superacumulação ou supercapacidade.

Noutras palavras, o capitalismo tem tendência para acumular tremendas capacidades produtivas que ultrapassam a capacidade das populações para consumir, devido às desigualdades sociais que limitam o poder de compra popular, o que vai corroendo a rendibilidade.

Mas o que tem a crise de superprodução a ver com os recentes acontecimentos?
Muita coisa. Para perceber as ligações, temos que recuar no tempo até à chamada Idade de Ouro do capitalismo contemporâneo, o período de 1945 a 1975.

Era uma época de rápido crescimento, tanto nas economias centrais, como nas subdesenvolvidas, em parte desencadeado pela reconstrução em grande escala da Europa e do Leste asiático após a devastação da 2ª Guerra Mundial e em parte pela nova situação sócio-económica institucionalizada com o novo Estado keynesiano. Neste último, eram elementos-chave o forte controle estatal sobre a atividade do mercado, a agressiva utilização da política monetária para minimizar a inflação e a recessão, e um regime de salários relativamente elevados para estimular e manter a procura.

Então, o que correu mal?
Este período de alto crescimento chegou ao fim a meio dos anos setenta, quando as economias centrais foram apanhadas pela estagflação, ou seja, a coexistência de crescimento lento com inflação elevada, o que a economia neoclássica supunha não poder acontecer.

A estagflação contudo não foi senão o sintoma de uma causa mais profunda: a reconstrução da Alemanha e do Japão e o crescimento rápido de economias industrializadas, como o Brasil, Taiwan e a Coreia do Sul fizeram acrescentar imensa capacidade produtiva nova e aumentaram a competição global. Entretanto, as desigualdades sociais nos países e entre os países globalmente limitaram o crescimento do poder de compra e a procura, desse modo desgastando a rendibilidade. O aumento brutal do preço do petróleo nos anos setenta agravou essa tendência.

Como tentou o capitalismo resolver a crise de superprodução?
O capital tentou três caminhos de fuga ao problema da superprodução: a reestruturação neoliberal, a globalização e a financeirização.

O que foi a reestruturação neoliberal?
A reestruturação neoliberal tomou a forma de reaganismo e tatcherismo no norte e de ajustamento estrutural no sul. O objectivo era revigorar a acumulação de capital, o que era feito através de 1) retirada das restrições estatais ao crescimento, à utilização e à circulação do capital e da riqueza, e 2) redistribuição do rendimento das classes pobre e média para os ricos, segundo a teoria de que os ricos ficariam então motivados para investir e reativar o crescimento económico.

Esta fórmula redistribuía rendimento para os ricos e minava o rendimento dos pobres e da classe média. Portanto, reduziu a procura sem necessariamente levar os ricos a investirem mais na produção.

De facto, a reestruturação neoliberal, que se generalizou no norte e no sul durante os anos oitenta e noventa, teve um fraco registo em termos de crescimento: o crescimento global foi em média 1,1% nos anos noventa e 1,4% nos anos oitenta, enquanto tinha sido em média 3,5% nos anos sessenta e 2,4% nos anos setenta quando eram dominantes as políticas de intervenção estatal. A reestruturação neoliberal não conseguiu afastar a estagnação.

Como foi a globalização como resposta para a crise?
O segundo caminho que o capital global tomou para contrariar a estagnação foi a “acumulação extensiva” ou globalização. Tratou-se da integração rápida de áreas semi-capitalistas, não-capitalistas ou pré-capitalistas na economia de mercado global. Rosa Luxemburg, a famosa economista revolucionária alemã, viu isso há muito como necessário para aguentar a taxa de lucro nas economias metropolitanas através do acesso a trabalho barato, através de novos mercados ainda que limitados, através de novas fontes de produtos agrícolas e matérias-primas e através da revelação de novas áreas para investimento em infrastruturas. A integração é realizada através da liberalização do comércio, da remoção de barreiras à mobilidade do capital global e da abolição de entraves ao investimento estrangeiro.

A China é, evidentemente, o caso mais notório de área não-capitalista que foi integrada na economia capitalista global durante os últimos 25 anos.

Para contrariar o declínio dos lucros, muitas empresas da lista das 500 da Fortune deslocaram uma parte significativa das suas operações para a China, para tirarem vantagem do chamado “preço chinês,” a vantagem de custo do aparentemente inesgotável trabalho barato da China. Por volta de meados da primeira década do séc. XXI, cerca de 40-50% dos lucros das empresas americanas derivavam das operações e vendas no estrangeiro, especialmente na China.

Porque não conseguiu a globalização ultrapassar a crise?
Este caminho de fuga da estagnação exacerbou o problema da superprodução, porque ampliou a capacidade produtiva. Uma enorme quantidade de capacidade de fabrico foi acrescentada na China durante os útimos 25 anos, com efeitos depressivos nos preços e nos lucros. Sem surpresa, os lucros da empresas americanas pararam de crescer por volta de 1997. De acordo com um dos índices, a taxa de lucro das 500 mais da Fortune passou de 7,15% em 1960-69, para 5,3% em 1980-90 e para 1,32% em 2000-2002.

E sobre a financeirização?
Dados os limitados ganhos conseguidos através da reestruturação neoliberal e da globalização contra o impacto depressivo da superprodução, o terceiro caminho de fuga tornou-se muito decisivo para manter e elevar a rendibilidade: a financeirização.

No mundo ideal da economia neoclássica, o sistema financeiro é o mecanismo pelo qual os aforradores ou os que têm excedentes de fundos se juntam aos empreendedores que precisam desses fundos para investirem na produção. No mundo real do capitalismo recente, com o investimento na indústria e na agricultura dando baixos lucros devido à supercapacidade, grandes quantidades de fundos em excesso circulam e são investidos no sector financeiro. O sector financeiro activou-se portanto por si próprio.

O resultado é uma bifurcação maior entre uma economia financeira hiperativa e uma economia real estagnante. Conforme um executivo financeiro nota, “houve nos últimos anos um desligamento crescente entre a economia real e a economia financeira. A economia real cresceu… mas nada comparado com a economia financeira – até implodir.”

O que este observador não nos diz é que o desligamento entre as economias real e financeira não é acidental. A economia financeira explodiu precisamente para compensar a estagnação devida à superprodução da economia real.

Quais os problemas da financeirização como caminho de fuga?
O problema com o investimento em operações do sector financeiro é que é equivalente a extrair valor de um valor já criado. Pode gerar lucro, certamente, mas não cria mais valor. Só a indústria, a agricultura, o comércio e os serviços criam novo valor. É porque o lucro não tem como base valor criado que as operações de investimento se tornam muito voláteis e os preços das acções, das obrigações e de outras formas de investimento se podem afastar imenso do seu valor real. Por exemplo, nos anos noventa, os preços das acções das novas empresas da Internet subiram em flecha, levados sobretudo por avaliações financeiras em espiral ascendente baseadas em expectativas de rendibilidade futura. Os preços das acções caíram a pique em 2000 e 2001 quando essa estratégia ficou completamente fora de controle. Os lucros dependem portanto de se tirar vantagem das subidas de preços acima do valor dos bens, vendendo antes que a realidade imponha uma “correcção.” As correcções são de facto um regresso a valores mais realistas. O que promove as bolhas financeiras é a subida radical dos preços dos títulos muito acima de qualquer valor credível.

Porque é tão volátil a financeirização?
Com a rendibilidade a depender de golpes especulativos, não surpreende que o sector financeiro se lance de bolha em bolha, ou de uma mania especulativa para a seguinte.

E é porque é guiado pela mania da especulação que o capitalismo comandado pela finança tem experimentado montes de crises financeiras desde que os mercados de capitais foram desregulados e liberalizados nos anos oitenta.

Antes do actual colapso da Wall Street, as mais explosivas foram a série de crises dos mercados emergentes e a implosão da bolha especulativa das tecnologias nos EUA em 2000 e 2001. A crise dos mercados emergentes incluíu principalmente a crise financeira mexicana de 1994-5, a crise financeira asiática de 1997-8, a crise financeira russa de 1998 e o colapso financeiro da Argentina em 2001 e 2002, mas perturbou também outros países como o Brasil e a Turquia.

Um dos secretários do Tesouro do presidente Bill Clinton, o “wall-street’ista” Robert Rubin, previu há cinco anos que “futuras crises financeiras são quase de certeza inevitáveis e podem ser ainda mais graves.”

Como se formam, crescem e rebentam as bolhas?
Vejamos primeiro como exemplo a crise financeira asiática de 1997-8. Em primeiro lugar, a liberalização financeira e da conta capital teve lugar na Tailândia e noutros países a instâncias do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Departamento do Tesouro dos EUA. Depois, seguiu-se a entrada de fundos estrangeiros à procura de rápido e elevado retorno, isto é, dirigidos ao sector imobiliário e ao mercado de acções. Este superinvestimento fez cair os preços do imobiliário e das acções, o que levou ao pânico do levantamento de fundos. Em 1997, 100 mil milhões de dólares voaram das economias do leste asiático em poucas semanas.

Essa fuga de capitais levou a um resgate dos especuladores estrangeiros pelo FMI. O resultante colapso da economia real produziu uma recessão em todo o leste asiático em 1998. Apesar da enorme desestabilização, as instituições financeiras internacionais opuseram-se com argumentos ideológicos às tentativas para serem impostas regulações nacionais e globais ao sistema financeiro.

E quanto à actual bolha? Como se formou?
O actual colapso da Wall Street tem raízes na bolha das acções das tecnológicas de finais dos anos noventa, quando o preço das acções das novas empresas da Internet dispararam e a seguir caíram em 2000 e 2001, resultanto em perdas de 7 biliões de dólares de activos e na recessão de 2001-2.

A política de dinheiro fácil da Reserva Federal do tempo de Alan Greenspan deu força à bolha tecnológica. Quando rebentou, Greenspan tentou contrariar uma recessão longa, cortando a taxa de juro em Junho de 2003 para 1 %, o valor mais baixo em 45 anos, mantendo-a aí mais de um ano. O resultado foi dar força a outra bolha, a do imobiliário.

Já em 2002, economistas progressistas como Dean Baker do Centro de Investigação de Política Económica alertavam sobre a bolha do imobiliário e a previsível gravidade do iminente colapso respectivo. Contudo, mesmo já tão tarde como em 2005, o então presidente do “Council of Economic Adviser” e actual presidente da Reserva Federal Ben Bernanke atribuía a subida de preços na habitação dos EUA a “fortes alicerces económicos” e não à actividade especulativa. Será de espantar que tenha sido apanhado completamente desprevenido quando a crise do crédito hipotecário de alto risco (“subprime”) rebentou no verão de 2007?

E como cresceu a bolha?
De acordo com o investidor e filantropo George Soros: “As instituições hipotecárias encorajaram os titulares das hipotecas a refinanciarem-nas e a retirarem para si o valor em excesso. Baixaram os requisitos dos empréstimos e introduziram novos produtos, tais como hipotecas ajustáveis, hipotecas “interest-only” e provocantes taxas promocionais.” Tudo isto encorajou a especulação nas unidades de habitação residencial. Os preços das casas começaram a aumentar a taxas de dois dígitos. Isto serviu para reforçar a especulação e o aumento de preço das casas fez os proprietários sentirem-se ricos, tendo como resultado uma explosão do consumo que sustentou a economia durante os últimos anos.”

A crise do crédito hipotecário não foi um caso de oferta superior à procura real. A “procura” foi largamente forjada pela mania especuladora por parte dos promotores e financeiros que quiseram realizar grandes lucros a partir do acesso a dinheiro estrangeiro que inundou os Estados Unidos na última década. Foram agressivamente vendidas hipotecas caras a milhões de pessoas que normalmente não teriam meios para tal, através da oferta de taxas de juro “provocantes” que seriam mais tarde reajustadas para alavancar os pagamentos dos novos proprietários.

Mas como pôde a falha das hipotecas de crédito de risco (“subprimes”) resultar num problema tão grande?
Porque esses activos foram depois “securizados” com outros activos em complexos produtos de derivados financeiros chamados “obrigações de dívida colateralizadas” (ODC’s). Os promotores das hipotecas trabalharam com diversos níveis de intermediários que menorizaram o risco, de modo a descarregá-las tão depressa quanto possível noutros bancos e em instituições financeiras estrangeiras.

Quando as taxas de juro subiram nos empréstimos dos créditos de risco (“subprime”), nas hipotecas ajustáveis e noutros empréstimos à habitação, o jogo acabou. Há cerca de seis milhões de hipotecas de “subprimes” pendentes, 40% das quais não serão cumpridas nos próximos dois anos, segundo calcula Soros.

E há mais cinco milhões de não cumprimentos nas hipotecas de taxa ajustável e noutros “empréstimos flexíveis” que vão ocorrer nos próximos anos. Esses títulos financeiros, cujo valor ronda os biliões de dólares, foram já injectados, como vírus, no sistema financeiro global.

Mas, como puderam os gigantes da Wall Street desmoronar-se como castelos de cartas?
Para a Lehman Brothers, o Merrill Lynch, a Fannie Mae, o Freddie Mac e o Bear Stearns, as perdas representadas por esses títulos tóxicos simplesmente ultrapassaram as reservas, deitando-os abaixo. E mais irão cair provavelmente quando os livros forem corrigidos para que reflictam os activos actuais— visto que montes deles estão registados “fora da folha de balanços”.

E muitos outros se lhes juntarão à medida que outras operações especulativas, como os cartões de crédito e diversos tipos de seguros de risco fôrem considerados. O American International Group (AIG) foi abatido devido à excessiva exposição na área não regulada dos contratos financeiros bilaterais (“credit default swaps”), derivados que tornam possível aos investidores apostarem na possibilidade das empresas falharem o pagamento dos empréstimos. De acôrdo com Soros, tais apostas em faltas no crédito perfazem agora um mercado de 45 biliões de dólares completamente desregulado. Representa mais de cinco vezes o total do mercado de crédito do governo dos EUA. A grande quantidade de activos que podiam dar mau resultado se o AIG caísse fez Washington mudar de ideias e intervir, depois de ter deixado cair o Lehman Brothers.

O que vai acontecer agora?
Haverá mais falências e resgates pelo governo. O colapso da Wall Street vai aprofundar e prolongar a recessão nos EUA. Esta recessão vai repercutir-se numa recessão asiática. Ao fim e ao cabo, o principal mercado estrangeiro da China são os Estados Unidos e a China por sua vez importa matérias-primas e produtos intermédios, que utiliza para as suas exportações para os EUA, do Japão, da Coreia e o Sueste Asiático. A globalização tornou a “desconexão” impossível. Estados Unidos, China e Sueste Asiático são como três prisioneiros acorrentados à mesma grilheta.

Numa casca de noz… ?
A derrocada de Wall Street não se deve apenas à ganância e à falta de regulação governamental de um sector que é hiperactivo. O colapso tem a ver em última instância com a crise de superprodução que atacou o capitalismo global desde meados dos anos setenta.

A financeirização da actividade de investimento foi um dos caminhos de fuga da estagnação, sendo os outros dois a reestruturação neoliberal e a globalização. Com a reestruturação neoliberal e a globalização a fornecerem limitado remédio, a financeirização tornou-se atractiva como mecanismo para escorar a rendibilidade. Mas a financeirização mostrou ser um caminho perigoso. Levou a bolhas especulativas que produzem prosperidade temporária para poucos, mas que em última instância acabam na falência de empresas e na recessão da economia real.

As questões-chave agora são: quão profunda e quão longa será esta recessão? Precisará a economia dos EUA de outra bolha especulativa para sair desta recessão? E, se sim, onde se formará a próxima bolha? Algumas pessoas dizem que o complexo militar-industrial ou o “complexo capitalismo de desastre,” sobre o qual a Naomi Klein escreve, será a próxima bolha. Mas isso é outra história.


Nota do tradutor:
(*) Nesta tradução, “bilião” está de acordo com a nomenclatura europeia (milhão de milhões). Na nomenclatura americana, “billion” significa milhar de milhões (N.T.)

* Walden Bello é analista e ex-director executivo do Instituto de Investigação e Activismo para o Sul Global, com sede em Banguecoque e vice-presidente do Forum Social Mundial.
Fonte: Blog Informação Alternativa.

Nenhum comentário: