sábado, 13 de dezembro de 2008

FUGA DE CÉREBROS - o que o país perde de fato?

Diana Razera tem 25 anos e está na Suécia há quatro. Ela se formou em Ciência da Computação no Brasil e, em seguida, fez um intercâmbio em uma empresa de IT (sigla em inglês para Tecnologia da Informação), que a contratou ao fim do estágio. Diana é um dos vários casos de jovens qualificados que deixam o país em busca de experiência e oportunidades melhores no exterior. Países emergentes como o Brasil exportam para os ricos parte da pequena parcela da população que chega ao nível superior, onde o mercado de trabalho é mais lucrativo. São médicos, professores, cientistas, engenheiros que não se sentem atraídos pelo que é oferecido a eles em suas nações. Mas os efeitos que a migração dos cérebros traz para esses países é a grande discussão.

A expectativa de conseguir um visto de permanência nos Estados Unidos, por exemplo, estimula os estudantes dos países pobres a investirem em educação, o que ajudaria no crescimento do país. Esta teoria, elaborada por Andrew Mountford, da Universidade de Londres, e Oded Stark, da Universidade do Bonn, é chamada de "incremento de cérebros" e se baseia no desejo dos jovens que têm como exemplo outros que já deixaram o país a se qualificarem e na baixa probabilidade de conseguirem o visto. Assim o país ganharia profissionais mais bem preparados, que se qualificaram para competir no mercado internacional, mas que continuaram no mercado regional.

Por outro lado, na opinião, do economista Roberto Fendt, vice-presidente do Instituto Liberal, a exportação de capital humano só seria benéfica para os países pobres se houvesse de fato uma circulação de talentos, se os países ricos também enviassem profissionais. Mas não é isso o que acontece. Fendt diz que, até o século XIX, quando não havia passaporte, a mobilidade de capital humano era muito comum. A fuga de cérebros era um fenômeno natural. As pessoas migravam de um lugar onde as condições não eram favoráveis para outro onde pudessem viver melhor. Atualmente isso só ocorre em esferas como, por exemplo, no estrato das pessoas de alta qualificação ou das que dispõem de dinheiro.

"Hoje a movimentação livre das pessoas é muito restrita em relação ao que já foi no passado. Este é um retrocesso muito grande, porque a movimentação é que permitiria uma melhor distribuição de renda em nível mundial. Países onde o trabalho é bem remunerado atraíriam pessoas e isso impediria que o trabalho ficasse cada vez mais bem pago nestes lugares. Por outro lado, se você tira uma parcela de pessoas de lugares onde o trabalho não é tão bem remunerado, o salário para os que ficam passa a ser mais alto. "De acordo com o economista, a dinâmica equilibra a economia. "É uma coisa boa em certo aspecto, mas ruim por outro. Essa movimentação é só de um lado, só sai e não vem. Só exportar não é bom. Um país que só perde capital humano perde também um fator que é essencial para o desenvolvimento do país", completa.

O vice-presidente do Instituto Liberal acredita que a mobilidade ainda aconteça dentro do Brasil, mas que não funciona no Mercosul. Neste bloco, segundo ele, deveria haver uma circulação de profissionais, já que é uma área de livre comércio.

Fendt atribui a falta de entrada de profissionais estrangeiros no país à legislação trabalhista que impede que as empresas os contratem. O economista acredita que a grande questão da saída de brasileiros para o exterior também se deva à legislação brasileira. Ele diz que ela é muito avessa à livre negociação e muito rica em regulamentação. Isso impede que pessoas que estão dispostas a assumir o risco de deixar o seu país e começar uma nova vida no exterior -- empreendedores -- possam criar novas empresas e contratar pessoas em condições de crescer junto com as companhias. Desta forma, o mercado absorveria muito mais os novos profissionais, sem que eles precisassem entrar em uma grande empresa para terem boas oportunidades. "A Microsoft nasceu numa garagem e hoje está todo mundo bem e feliz lá. A legislação é contra os novos trabalhos. Ela é a favor de quem já está empregado, mas contra quem está desempregado, ou as minorias. A legislação dá margem para que toda sorte de preconceitos seja aplicada. As mulheres, por exemplo, ganham menos, mas ganham muito menos do que nos EUA e na Europa, porque as leis favorecem o emprego aos homens e desestimulam o emprego das mulheres, o que é muito prejudicial, já que a maioria da população é feminina".

Este não é o caso de Gabriella Moreira, de 26 anos. A economista, formada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, diz que quando deixou o país há três anos tinha um bom emprego. Ela mora atualmente em Nebraska, nos Estados Unidos, onde trabalha em um programa de intercâmbios da University of Nebraska - Lincoln. Gabriela -- que ao sair do Brasil fez pós-graduação, atualmente faz mestrado em Agricultural Economics e está aplicando para o MBA em International Business -- já coordenou a vinda de americanos ao Brasil no começo deste ano. Ela acredita que a experiência internacional é imprescindível para aqueles que querem alcançar o mercado global. Ela diz também que no exterior há maiores possibilidades de qualificação, já que a as bolsas oferecidas aos alunos são mais vantajosas e assim a pessoa pode se dedicar integralmente ao estudo. "Com meu visto não posso trabalhar, só estudar e "trabalhar" dentro da universidade. Tenho uma assistantship (tipo de bolsa de estudo), com a qual consigo viver bem". Mesmo assim, a economista faz parte da pequena parcela de beneficiários que chegam às universidades públicas financiadas pelos impostos pagos pela população em geral e que decidiram não atuar no país. Para Fendt, este é o grande problema. O Brasil não tem o retorno do investimento que faz. Se a educação superior fosse toda privada, o país não perderia nada.

Mas, como na maioria da América Latina, o Brasil mantém o padrão do ensino superior baseado em uma grande universidade pertencente ao Estado e que pode receber de 200 a 300 mil alunos. O país tem o maior custo por aluno no ensino superior da região. O estudante brasileiro, segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), custa dez vezes mais ao governo do que os estudantes chilenos ou argentinos, equiparando-se ao custo do estudante europeu. No entanto, não há como parar a saída de cérebros do país com políticas restritivas. Jorge Balán, no livro "A competição internacional por talentos", deixa duas alternativas aos países afetados: a primeira é tentar aumentar a atratividade do mercado nacional, a outra é fazer com que os talentos exportados se integrem a projetos de interesse brasileiro e investir em políticas de retorno. Como é o caso do programa de bolsas de doutorado no exterior financiadas pelo Capes e pelo Governo federal.

Uma bolsa de estudo fora do país pode chegar a custar US$ 200 mil e, por isso, o Capes, além de analisar os planos do candidato e a universidade para onde ele pretende ir, avalia como ele pretende contribuir com seu trabalho e se projetar no Brasil. Gradualmente estas bolsas estão sendo substituídas por "bolsas sanduíche", que enviam o estudante para fora, mas ele tem que retornar e defender sua tese aqui. Além disso, para Balán aqueles que conseguem se inserir no mercado internacional precisam ser estimulados a fazer a ligação entre o Brasil e o exterior.
Fonte: Opinião e Notícias.

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