Confrontado com a profunda crise do capitalismo, o FMI apela aos governos para que intervenham no sistema financeiro e na economia para evitar a «Grande Depressão».
O recém-nomeado Economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard, alertou os governos para agirem com urgência e de forma decidida para travar a «perda de confiança» e reanimar a procura, substituindo-se inclusive ao sector privado, de modo a se evitar que «a recessão se transforme em Grande Depressão», numa alusão expressa à crise mundial de 1929-33.
Em entrevista ao jornal francês Le Monde (23.12), Blanchard, que ocupa aquele cargo desde Setembro, justifica a viragem de 180 graus nas posições do FMI com a rápida degradação da conjuntura mundial. Por outras palavras, é a profunda crise do capitalismo que torna insustentáveis as receitas neoliberais desde sempre impostas por este organismo, defensor incondicional do mercado e inimigo feroz dos défices públicos e da regulação estatal.
«Estamos confrontados com uma crise de magnitude excepcional, cuja principal componente é a queda da procura», constata Blanchard. «Os índices de confiança dos consumidores e das empresas nunca estiveram tão baixos desde que existem. É algo nunca antes visto. A partir do mês de Outubro, as intenções de investimentos paralisaram de forma súbita e a nível mundial.»
(...) «É claro que num período normal teríamos recomendado à Europa a redução dos défices. Mas não estamos num período normal.»
Assim, para evitar o pior, este responsável apela a que se utilizem os «instrumentos monetários e orçamentais, mas também medidas destinadas a recuperar o sistema financeiro». «Os bancos continuam a reduzir os créditos tanto aos particulares como às empresas ou aos países emergentes. Não haverá relançamento do crescimento sem que este problema seja resolvido».
E para o resolver o FMI vai ao ponto de defender a intervenção directa do Estado na actividade bancária: «Se a recuperação do mercado de crédito privado é demasiado morosa, então é preciso que os estados se disponham a substituir-se, pelo menos parcialmente e temporariamente, ao crédito privado».
Investimento público
Por outro lado, sublinha, é preciso que «os governos e os bancos centrais indiquem claramente que estão dispostos a tudo para evitar a Grande Depressão», defendendo o investimento público e o reforço dos orçamentos do Estado:
«Neste momento uma expansão orçamental de dois por cento [do PIB] parece ser suficiente. Mas se as circunstâncias o exigirem, é preciso que os estados estejam preparados para ir mais longe, três por cento ou mais se necessário.»
Parecendo inspirar-se do New Deal dos EUA dos anos 30, o economista do FMI
afirma que «é preferível que o relançamento se efectue mediante o aumento das despesas públicas do que através da diminuição das receitas públicas. Dito de outro modo, a construção de pontes ou a renovação de escolas poderão ter mais efeitos sobre a procura que as reduções de impostos».
A julgar pela avaliação que faz da situação da banca europeia, a verdadeira dimensão da crise estará ainda por determinar. «Na Europa, os balanços dos bancos são ainda parcialmente fictícios e a compra de activos abrange quantidades negligenciáveis.
«O resultado é que os bancos continuam a liquidar as suas posições. Não apenas nos respectivos países, mas também no estrangeiro. Estão a recuperar capitais em proporções consideráveis que tinham aplicado no estrangeiro. Calculamos que os créditos que tinham nos países emergente se elevassem a quatro biliões de dólares [(milhões de milhões), cerca de 2,872 biliões de euros]. Nos últimos meses terá saído destes países um bilião de dólares».
Fonte:Jornal Avante.
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