Por Redação, com APN - de Atenas
Trabalhadores da Grécia, que se auto-proclamam "insurrectos", ocupam há quase um mês a sede da Confederação Geral dos Trabalhadores, em Atenas, capital e principal central sindical do país. No prédio, que passou a sediar Assembléias Gerais, abertas a participação de qualquer pessoa interessada, foi erguida uma bandeira, com as seguintes inscrições:
"1) Dos acidentes do trabalho até os assassinatos cometidos de sangue frio, o Estado do capital mata; 2) Nenhuma perseguição; 3) Imediata liberdade sem penalização aos detidos; 4) Greve geral".
As universidades gregas também estão ocupadas por estudantes, igualmente transformadas em palco das Assembléias Gerais. Os insurrectos geraram a turbulência que toma conta da Grécia, desde 6 de dezembro, quando da morte de um adolescente por policiais. O assassinato, a sangue frio, disparou um processo de luta e resistência, em todo o país que, em muitos momentos, lembra os fatos ocorridos em Maio de 1968.
Com a "Declaração da Assembléia Geral dos Trabalhadores" – escrevem os insurrectos "queremos essencialmente participar da ruptura com o cordão sanitário das mídias feito de mentiras acerca desta luta e que as apresenta como simples motins de jovens vândalos anarquistas que aterrorizariam a população. Ao contrário disso, este texto mostra claramente a força do sentimento de solidariedade operária que anima este movimento e estabelece o laço entre as diferentes gerações de proletários". Eis a declaração:
Ou decidimos nossa história ou deixamos que decidam por nós!
"Nós, trabalhadores manuais, empregados, desempregados, trabalhadores temporários, locais ou imigrantes, não somos telespectadores passivos. Desde o assassinato de Alexandros Grigorpolos, naquela na noite de sábado, temos participado das manifestações, e enfrentamentos com a polícia, das ocupações no centro e nos bairros. Freqüentemente temos deixado o trabalho e nossas obrigações diárias para ocupar as ruas com os estudantes secundaristas, os universitários e os demais proletários em luta".
"Tomamos a decisão de ocupar a sede da Confederação Geral dos Trabalhadores na Grécia, para convertê-la em um espaço de livre expressão e um ponto de encontro para os trabalhadores. Para desmentir a falácia disseminada pelos meios de comunicação, que colocam os trabalhadores à margem dos enfrentamentos e que caracterizam a revolta atual como assunto de uns 500 "encapuzados", "hooligans" ou qualquer outra estória; para desmentir a apresentação pelas redes de televisão dos trabalhadores como vítimas do enfrentamento, enquanto a crise capitalista na Grécia e em todo mundo dá lugar a incontáveis demissões que as mídias e seus dirigentes tratam como um "fenômeno natural". Para desmascarar o papel da burocracia sindical, na hora de sabotar a insurreição, e não só isso".
"A GSEE e todo o aparato sindical que o tem apoiado, durante décadas e mais décadas, sabotam as lutas, negociam nossa força de trabalho por migalhas e perpetuam o sistema de exploração e escravidão assalariada. A postura da GSEE da quarta-feira-passada é bastante reveladora: a GSEE cancelou a manifestação dos trabalhadores que estava programada, mudando precipitadamente de plano para uma breve concentração na Praça de Syntagma, assegurando-se deste modo que as pessoas se dispersassem rapidamente, por medo de que fossem infectadas pelo vírus da insurreição".
"Para abrir este espaço pela primeira vez - como uma continuidade da abertura social gerada pela insurreição em si -, um espaço construído com as nossas contribuições e da qual temos sido excluídos. Durante todos esses anos, temos confiado o nosso destino em salvadores de todas as formas e terminamos perdendo nossa dignidade. Como trabalhadores, devemos começar a assumir nossas responsabilidade e deixar de confiar as nossas esperanças a bons líderes ou representantes "aptos". Devemos fazer-nos com nossa própria voz, encontrarmos e reunirmos, falar, decidir e atuar contra o ataque generalizado que suportamos. A criação de resistências coletivas "de base" é o único caminho. Para propagar a idéia da auto-organização e a solidariedade nos postos de trabalho, os comitês de luta e as práticas coletivas desde as bases, abolindo os burocratas sindicalistas"..
"Todos esses anos temos suportado a miséria, a complacência, a violência no trabalho. Chegamos a acostumar contar os lesionados e nossos mortos - nos maus explicados "acidentes de trabalho". Nós acabamos acostumados a ver, por outro lado, a morte dos imigrantes - nossos companheiros de classe. Estamos cansados de viver com a ansiedade de ter quer assegurar um salário, pagar os impostos e conseguir uma aposentadoria que agora parece um sonho distante".
"Da mesma forma, que lutamos para não abandonar nossas vidas em mãos dos chefes e dos representantes sindicais, da mesma maneira não abandonaremos os rebeldes presos nas mãos do estado e o sistema jurídico. Solidariedade com o movimento dos estudantes na Grécia!", diz o manifesto.
Os insurrectos relacionam as recentes mobilizações na Grécia às rebeliões que aconteceram na França, em 2006, que assumiram o caráter de revoltas populares, nas periferias, desencadeadas por protestos contra o Contrato do Primeiro Emprego (CPE), considerado prejudicial aos jovens. As manifestações obrigaram o governo francês, na época, a recuar em algumas reformas.
Os últimos meses de 2008 também foram agitados. Na Itália, estudantes e trabalhadores foram às ruas em outubro e novembro, movidos pela palavra de ordem "Não queremos pagar pela crise" – o estopim foi o "Decreto Gelmini", que cortava verbas da educação. Na Alemanha, em 12 de novembro, cerca de 120 mil estudantes saíram em passeata, bradando "O capitalismo é a crise". Chegaram a cercar o parlamento de Hannover. Na Espanha, em 13 de novembro, mais de 200 mil estudantes se manifestaram em cerca de 70 cidades, contra as novas diretivas européias (o chamado processo de Bologna) que afeta o ensino superior e universitário, generaliza a privatização das faculdades e amplia a obrigação de estágios nas empresas.
A radicalização na Grécia
Na Grécia, as manifestações não param. Em 16 de dezembro, os estudantes ocuparam por alguns minutos os estúdios da rede governamental de televisão NET e exibiram diante da tela uma faixa que dizia: "Deixe de ver a televisão! Todo mundo às ruas!", e lançavam o seguinte chamamento: "O Estado assassina. Vosso silêncio o arma! Ocupação de todos os edifícios públicos!". Estas e outras ações classificadas pelo governo como "tentativas de derrotar a democracia". Desde 17 de dezembro, o edifício que aloja a sede central do principal sindicato do país foi ocupado.
Fonte: Correio do Brasil.
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