Maria Helena Dantas gostou muito daquilo que viu em Cuba, mas gosta ainda mais do que hoje pode ver. O tratamento à vista a que se submeteu na ilha de Fidel Castro devolveu-lhe o mundo mais parecido com aquilo que é e resgatou-a da névoa em que vivia. Com os 80 anos a cumprir em abril próximo, a idosa residente no Vale de Santarém foi uma das 12 pessoas que em novembro estiveram duas semanas em terapia oftalmológica por iniciativa da Câmara de Santarém. E não poupa nos elogios ao que encontrou em termos de cuidados de saúde. Porque da cidade de Havana pouco ficou a conhecer a não ser o trajeto entre o hotel e o hospital.
A operação às cataratas restituiu-lhe a visão do olho esquerdo. Da vista direita, com glaucoma, já pouco vê e não há muito a fazer. Mesmo assim as mudanças no seu cotidiano são notórias. “Fiquei com mais coragem para a vida”, afirma, dizendo que hoje já vê televisão sem problemas. Valeu a pena ter-se inscrito na Câmara de Santarém e ter cumprido uma série de formalidades, como a triagem em Vila Real de Santo António e tirar o passaporte.
“Gostei muito de lá ir porque fui muito bem tratada. Os doutores eram impecáveis. Todos os dias tínhamos uma carrinha à porta do hotel que nos levava ao hospital. Sempre com o lanchinho no saco. Foram quinze dias que passaram num instante. Gostei tanto daquela gente, do hotel, do comer… A gente pobre gosta de tudo, não é?”, graceja. Maria Helena Dantas, mãe de nove filhos, vive sozinha e governa-se com uma pequena pensão que “dá para pagar a renda da casa e pouco mais”. A ida a Cuba foi um momento de sorte na sua vida que gostava de repetir, embora saiba que é difícil. “Que Deus dê saúde e sorte ao presidente da Câmara de Santarém. Se ele ficar lá eu voto por ele”, diz a rir-se.
Igualmente efusivo, Joaquim Rodrigues de Sousa, 76 anos, não tem dúvidas em tirar o chapéu ao que encontrou em Cuba: “As duas coisas mais importantes para eles são a saúde e a educação. Tomaria a gente!”, opina o motorista reformado residente no Alto do Bexiga, em Santarém. Já andava a ser acompanhado por um oftalmologista. Mas quando soube da iniciativa da Câmara de Santarém através dos jornais tentou a sua sorte. E a aposta não saiu furada. Hoje já consegue ler o jornal sem recorrer aos óculos de ver ao perto e a sua auto-confiança quando pega no volante do automóvel é bem maior. “Comecei a ganhar medo de conduzir porque via mal”, explica.
O humanismo do povo cubano foi o que mais o impressionou. “É gente que não é interesseira”. Chega a emocionar-se quando fala disso. De resto, só tem a dizer bem. Embora tenha consciência que só viu uma parte da capital de Cuba. “Não se vê gente a pedir, as pessoas são simples, educadas e respeitadoras”, diz, dando um exemplo sintomático: “Quem nos servia à mesa eram estudantes de assistência social”. A comida era boa, embora em doses mais reduzidas das que estava habituado. Vinho é que nem vê-lo. A verdade é que com a dieta cubana até a tensão arterial baixou.
Foi também através da comunicação social que José Dias Fonseca, 79 anos, soube da possibilidade de tratamento em Cuba. O agricultor aposentado, que já tinha sido aconselhado a recorrer à cirurgia, foi operado às cataratas nas duas vistas. Mas, no seu caso, as coisas não estão a correr tão bem. Diz que já não consegue ler o jornal. “Estou à espera de comprar uns óculos para ver se consigo ver melhor”, afirma o agricultor aposentado residente no Vidigão, freguesia de Abitureiras.
José Dias Fonseca diz que “foi uma viagem do mais rico que podia haver”, até engordou na estadia, e também não é parco em elogios aos cubanos. “Costumava dizer aos médicos de lá que em Portugal também há bons médicos mas que estudam a pensar no dinheiro, enquanto que em Cuba estudam para curar”. E até as mulheres lhe encheram as medidas. “Há lá boas fataças, bonitas e jeitosas, não é só em Portugal”, diz com humor.
A psicóloga Alice Teixeira acompanhou o grupo de pacientes até Cuba e reconhece que o tratamento a que foram submetidos permitiu-lhes aumentar a auto-estima e desenvolver uma vida mais autônoma. O protocolo que a Câmara de Santarém assinou com os serviços de saúde cubanos permitiu ver de perto essa realidade e a psicóloga diz que o que mais a marcou foi a “humanidade e a humildade dos profissionais” que lidaram com os pacientes. “O que mais referiam era o carinho e a dedicação dos médicos. Porque aqui, muitas vezes, o doente é apenas mais uma pessoa. Lá a parte humana é muito importante”, diz Alice Teixeira. Nos planos está mais uma viagem a Cuba, mas ainda não há datas previstas.
Artigo da revista portuguesa "O Mirante", reproduzido do blog "O outro lado da notícia"
Fonte:Site O Vermelho.
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