Pedro Porfírio.
“É assim que estão as coisas em Israel. Opor-se à paz é sempre atitude legítima e patriótica; opor-se à guerra é traição, atitude antipatriótica e deve ser combatida. Podem debater o custo da paz eternamente; ninguém ouvirá uma palavra sobre o custo da guerra. Movimentos pacifistas são censurados. Movimentos pró-violência são estimulados.” (Gideon Levy, jornalista israelense do “Haaretz”, em 2/1/2009). (Haaretz)
Por favor, preste bem atenção nas próximas linhas. Seja quem for você, leia-me até o ponto final. Depois, tire suas conclusões. Mas o faça como um magistrado, alguém convencido de que o mal não tem defesa, mesmo quando praticado por nossos irmãos. Pois se admitirmos, ainda que por reles miopia, que os NOSSOS tudo podem e os outros, meros inimigos, nunca têm razão então estaremos contribuindo para a mais rápida destruição da humanidade – ou para o apocalipse já, como pressagiam as escrituras bíblicas.
Você já deve imaginar a que me refiro: ninguém de bom senso, seja quem for, pode aceitar em silêncio o novo holocausto, desta vez da lavra de quem ainda tem as cicatrizes escarlates de perversidades que julgávamos extirpadas da face da Terra.
Os bombardeios letais que ameaçam e atingem por igual a um milhão e meio de seres humanos na Faixa de Gaza, convertida num deplorável campo de concentração, são executados por militares israelenses, mas têm o patrocínio torpe da indústria bélica e se dá num contexto conspurcado por ingredientes da pior espécie.
Mais ódio e sofrimento
Ao apontar os grandes bruxos dessa nova tragédia, vale a advertência: o governo do desmoralizado premier Ehud Olmert, que está chegando ao fim, escolheu o pior caminho para pôr Barack Obama numa saia justa e comprometer seu governo com o que há de pior na guerra suja que faz da antiga “terra santa” um verdadeiro inferno.
Errou também o ministro da Defesa, Ehud Barak, que transformou a matança dos palestinos de Gaza no trunfo de sua pretensão de assumir a chefia do governo de Israel com as eleições de fevereiro. Pelo que eu mesmo vi quando estive no Oriente Médio, em 2002, os israelenses e os árabes estão cansados de seis décadas de um conflito que nunca terá um vencedor.
Naquele ano, o movimento “Paz Agora”, com sede em Jerusalém e a participação de judeus e árabes, empolgava, sobretudo aos jovens israelenses, muitos dos quais recusavam-se ao serviço militar obrigatório de três anos. Defensor de uma solução com base na devolução aos árabes dos territórios invadidos a partir de 1967, o movimento chegou a reunir 500 mil pessoas numa das maiores manifestações já realizadas no Oriente Médio.
Segundo Moises Storch, da coordenação do “Paz Agora”, Israel gasta 30% do seu PIB com a segurança nacional. "E o medo do terrorismo só tem aumentado". Para Storch, que participou no Rio de uma manifestação contra a ocupação da Palestina, a tutela do povo palestino só trouxe prejuízos à sociedade israelense: "Somente em estradas construídas nas últimas quatro décadas nos territórios ocupados, Israel já gastou US$ 50 bilhões. Enquanto isso, as condições sociais foram se deteriorando a ponto de, hoje, um terço das crianças de Israel viver abaixo da linha da pobreza".
Sobre os bombardeios, o pacifista israelense lembrou: "Gaza tem a maior densidade demográfica do mundo e nenhuma área agricultável. Para essa região, a paz é a única alternativa viável". De fato, a população que vive nos 360 km2 desse território imprensado entre Israel e Egito reúne 4.200 pessoas por km2.
Quem ganha com a guerra
Mais do que qualquer outra motivação, a ofensiva israelense atende aos interesses da indústria bélica norte-americana, cujas ações caíram com a crise e podem desmoronar se Obama começar a trabalhar a retirada do Iraque, como prometeu em sua campanha.
Israel é o maior comprador de armas nos Estados Unidos, mesmo sendo esse pequeno país também um grande fabricante, com um arsenal atômico próprio, instalado na região de Sakhnin (onde também estive), cuja população é de maioria árabe, como são, aliás, os moradores de 70 dos 210 municípios israelenses, inclusive Nazaré.
A operação militar em Gaza tem revestimento político, mas é parte de uma situação desconfortável, que inclui os 7 milhões e 200 mil israelenses entre os que registram os maiores gastos militares per capita: 1.737 dólares anuais, 59 dólares a menos do que os norte-americanos, cujos orçamentos de guerra atingiram em 2007 o nível mais alto em termos absolutos desde a Segunda Guerra Mundial: desde a posse de Bush, em 2001, os EUA aumentaram seus gastos militares em 59%, atingindo quase 600 bilhões de dólares em 2007, isto é, 46% de todo orçamento bélico mundial.
Israel e Estados Unidos agem em sincronia. Na madrugada de ontem, o representante norte-americano vetou a aprovação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, conclamando um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza e no Sul de Israel.
No mesmo instante, o presidente de Israel, Shimon Perez, rejeitava os apelos da Europa por uma trégua, enquanto seus soldados invadiam por terra e dividiam a Faixa de Gaza ao meio, recorrendo a uma outra perversidade típica das práticas nazistas de que os judeus foram vítimas: além da morte de mais de 500 palestinos desde os bombardeios iniciados no último dia 27, a população palestina está há vários dias sem luz e sem água, padecendo forte inverno sem aquecimento, o que provocará uma tragédia ainda maior.
Alguns analistas garantem que o governo encabeçado por um premier trabalhista teria optado pelo massacre devido às pesquisas eleitorais que favoreciam o partido Likud, mais à direita. Pode até ser. Da minha parte, prefiro acreditar que os israelenses como nação não chegaram ao absurdo de preferir aquele que matar mais palestinos, independentes de serem civis ou crianças inocentes.
Outros dizem que o Fatah, à frente da chamada Autoridade Nacional Palestina, em conflito com o Hamas, majoritário em Gaza, e o presidente do Egito, Osmy Mubarack, que fechou a passagem para seu território, estariam facilitando os bombardeios de olho no enfraquecimento do grupo radical.
Também acho que isso seria uma grande demonstração de miopia. O massacre do povo de Gaza pelos israelenses poderá levar à ampliação dos conflitos, particularmente no Líbano, onde os xiitas do Hezbollah aumentaram seu poderio bélico depois da aventura de Israel, em 2006.
Como você viu, independente das agressões dos militantes do Hamas com foguetes de fabricação artesanal, o massacre em curso não é nada agradável para o povo israelense. Quando estive lá, percorrendo de Telaviv a Nazaré, o mar da Galiléia, indo a Jerusalém para alcançar Jericó, na Cisjordânia, dava pena ver aquele ambiente nervoso num dos pontos de maior potencial turístico do mundo.
A guerra passou a ser o melhor negócio para políticos e empresários ambiciosos do sonhado “Lar Nacional Judeu”. Mas, seguramente, o melhor para o povo seria o cumprimento da primeira decisão da ONU, que criou os dois Estados para dois povos, respeitando pelo menos as fronteiras anteriores à guerra dos seis dias, em 1967.
Apesar de tudo, a PAZ é possível, até porque árabes e judeus se entendiam na luta contra o domínio estrangeiro, e só começaram a ter conflitos depois que o Barão de Rothschild passou a bancar a infiltração de colônias judaicas, nas primeiras décadas do Século XX, com claros propósitos de criar uma cabeça de ponte para interesses econômicos na região, onde o petróleo começava a jorrar.
Fonte:Tribuna da Imprensa.
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