Eduardo Guimarães
Um contingente enorme de brasileiros ainda não se deu conta de um dos mais importantes direitos dos cidadãos, do direito à informação, um direito que no mundo contemporâneo faz a diferença entre uma pessoa ter como buscar o próprio bem-estar, bem como o de sua família, e de não ter como fazê-lo de forma eficiente por simples falta de conhecimentos.
Informação, dizem, é poder, e não necessariamente um poder opressivo, exercido para dobrar outras vontades e superar os interesses alheios, como costuma ser o poder quando exercido pelos que são poderosos em tempo integral, mas um poder que talvez nem possa ser chamado assim, sendo mais uma faculdade como a fala, a visão e a audição.
Ter negadas informações importantes e necessárias a tomadas de decisão impostergáveis e de cunho estritamente pessoal - como, por exemplo, são as decisões políticas das pessoas nas democracias dignas do nome - equivale a ser vendado para a realidade de forma deliberada e criminosa por parte de pessoas mal-intencionadas que buscam a ignorância alheia como forma de atingir objetivos inconfessáveis.
Venho lutando contra isso há muitos anos, da forma como posso, mas sempre me surpreendo ao ver que a conduta dos detentores quase que do monopólio da informação (por deterem o controle da mídia eletrônica, que é a que faz a diferença atualmente), não mudam.
É claro que acabou a época na qual, se a imprensa não noticiasse alguma coisa, ela não existia. Hoje existe a internet, e ela permite que se compartilhe informações de todos os tipos com o mundo inteiro, e de forma tão completa que nunca se imaginou que viria a existir.
O grande problema, atualmente, é o de que, apesar de hoje ser possível burlar a censura que a imprensa sempre impõe a fatos dos quais não gosta, só se pode informar quem estiver disposto a ser informado, e que, dessa maneira, busque informações livres na rede mundial de computadores.
Infelizmente, apesar de a mudança da situação que descreverei estar se processando velozmente aqui e no resto do mundo, as pessoas ainda dependem, quase que em sua totalidade, dos meios eletrônicos de informação, sendo mera fração da sociedade que adotou o hábito de se informar adequadamente sobre o jogo do poder.
O contingente de pessoas que substituíram os meios convencionais de acesso à informação pela internet já é majoritário nos países ricos. Em alguns anos, isso ocorrerá também no Brasil. Todavia, ainda não chegamos nem perto de tal situação, até por conta das deficiências culturais enormes que nos separam dos povos desenvolvidos.
Essa situação é preocupante porque ainda somos um país de vendados políticos que tateia pela escuridão da censura em busca de um caminho que nos conduza à luz do conhecimento e da consciência política.
Vejam esse caso da manifestação contra Gilmar Dantas ontem à noite em Brasília. Hoje cedo, tão pronto cheguei ao escritório, busquei o site do maior jornal da capital federal do Brasil, onde ocorrera o ato público, o Correio Brasiliense, na esperança de encontrar a notícia de que tal manifestação ocorreu.
É óbvio que, tal qual aconteceu em quase todas as tevês abertas (com exceção da Record), nos grandes jornais de toda parte não foi noticiado que centenas de pessoas ocuparam a Praça dos Três Poderes, na capital da República, em frente ao Judiciário, ao Legislativo e ao Executivo, para protestar contra o presidente de um daqueles poderes.
"E por que isso aconteceu?", perguntamo-nos. A resposta é simples: porque um grupo político que controla a informação no Brasil não gostou da notícia e decidiu que a sonegaria ao conjunto da sociedade, pois esta depende extremamente dos meios eletrônicos de informação e, em medida bem menor - porém importante -, dos grandes jornais.
Não é por outra razão que denominei como "sem-mídia" a mim mesmo e aos que pensam como eu, porque o conceito de mídia, hoje, remete ao monopólio exercido por "meia dúzia" de famílias "tradicionais" espalhadas pelos quatro cantos do país, e estas famílias negam acesso ao império que construíram ao custo de verbas públicas, de benesses do Estado, sobretudo durante a ditadura militar, àqueles que dissentem de suas idiossincrasias políticas e ideológicas.
Como se não bastasse a censura em seus impérios de comunicação, essas oligarquias se valem de "capangas ideológicos" como um Reinaldo Azevedo ou um Ricardo Noblat para darem combate aos que se contrapõem a seus interesses políticos no terreno em que estes têm como lutar, que é na internet.
É uma luta desigual. O próprio Estado, governado pelos inimigos políticos das famílias Marinho, Civita, Frias e Mesquita, se vê acuado pelo poder que elas exercem, um poder que lhes permite criar sucessivas crises institucionais, comoções públicas de conseqüências imprevisíveis (como no caso da febre amarela ou no do alarmismo econômico que piorou gravemente a situação da economia brasileira em dezembro do ano passado) e a defesa efetiva de seus interesses em leis e outras políticas públicas.
Estamos na véspera de um ano no qual o topo da pirâmide social brasileira tentará impedir o estreitamento da base dessa pirâmide, fenômeno que passou a ocorrer a partir do governo Lula como jamais acontecerá em mais de cem anos de história republicana. Temos, assim, duas opções: empurrar para o outro a responsabilidade de combater essa ameaça que é a mídia brasileira ou assumirmos, cada um, a parte de responsabilidade que nos cabe.
Eu lhes garanto que já fiz a minha escolha há muito tempo. Que cada um de vocês faça a sua. Pode ser pela poltrona de vossas casas, muitas vezes diante do computador, ou nas ruas, outra arena na qual, a exemplo da internet, "eles" ainda não podem nos impedir de lutar e de dizer a verdade.
Há o Movimento dos Sem Mídia, há o Movimento Saia às ruas, há outros do mesmo tipo e há até os partidos políticos e os sindicatos, para que todos se integrem a eles e participem da luta pela democratização do Brasil. Mas há, também, o movimento dos covardes e dos acomodados, um movimento que, tragicamente, tem sido o que mais adeptos tem atraído no Brasil. Escolha o seu.
Fonte:Blog Cidadania.com
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