Delegado deixou fichas e manual
Moacir Assunção, SÃO PAULO
Uma descoberta recente pode mudar os rumos das pesquisas sobre ditadura militar em São Paulo. Um total de 86 fichas de militantes de esquerda e um manual da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, de 1970, que ensinava policiais a identificá-los, foram encontrados em uma fazenda na região de Jaborandi. O detalhe é que o material se diferencia do que está sob a guarda do Arquivo Público de São Paulo, que pertencia ao Departamento de Ordem Política e Social (Deops).
Ele estava numa casa abandonada na propriedade rural do delegado Tácito Pinheiro Machado, já morto. Segundo o coordenador do arquivo, Carlos Bacellar, as fichas têm um padrão incomum. "As que temos aqui são da Delegacia de Ordem Social e as dele da de Ordem Política", explicou. Como o Deops tinha uma sede em São Paulo, mas não havia delegacias espalhadas pelo Estado, a suposição é que o documento sobre os militantes era guardado, também em delegacias de polícia comuns.
Parte das fichas foi encontrada em 2007 por um aluno do curso de história e colhedor de cana, não identificado, que localizou a documentação no casebre, na Fazenda Boa Sorte. O material foi guardado em uma faculdade e recolhido pelo arquivo.
O encontro da documentação parece indicar, como denunciam ONGs que lutam pela abertura dos arquivos da ditadura, que boa parte do material das forças de repressão no período foi dispersa entre seus agentes e somente uma pequena parte ficou nos arquivos que foram abertos com a redemocratização.
Os fichados são pessoas pouco conhecidas, mas identificados por tendências "suspeitas" para a época como o nome que remete a revolucionários, caso de Lenine Garcia Brandão.
No manual de 1970, intitulado A Subversão e a Contra-Subversão, assinado pelo coronel de Exército Danilo Cunha e Mello, há uma curiosidade: o pacifismo é visto como "linha auxiliar do bolchevismo."
Fonte:Brasil, Brasil
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