Luciano Garcia/Futura Press
Carolina Oms
A bancada ruralista do Senado conseguiu as assinaturas necessárias para a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigue os recursos repassados pelo Governo Federal a entidades ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A mesma bancada, mas na Câmara, ainda busca completar a lista de 171 assinaturas necessárias para que a CPMI seja instaurada.
Terra Magazine entrevistou o deputado federal Emiliano José (PT-BA). Ele é contrário à CPMI:
- O MST é a evidência de um problema social sério. E não devem ser objeto de nenhuma CPI, muito pelo contrário, devem ser respeitados e as suas reivindicações devem ser analisadas com todo o cuidado, com todo o respeito pela sociedade brasileira.
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A primeira iniciativa das bancadas ruralistas foi frustrada. Mas agora ganha força diante da repercussão dos recentes acontecimentos. Nesta quarta-feira, 350 militantes do MST foram retirados da fazenda do grupo Cutrale em Borebi (SP), 311km da capital. Os manifestantes ocuparam o local sob a alegação de se tratarem de terras públicas. Sete mil pés de laranja foram destruídos, tratores, sistemas de irrigação e caminhões foram danificados. O prejuízo é estimado em R$ 3 milhões.
Questionado sobre os métodos do movimento, Emiliano José afirma que não pode analisar especificamente o episódio da Cutrale, mas que, "um movimento como esse, pela sua própria natureza, não é um baile de valsa. Ele é um movimento com algum grau de radicalização para demonstrar a gravidade da questão agrária no Brasil".
Leia a íntegra da entrevista:
Com os novos acontecimentos envolvendo o MST, a bancada ruralista conseguiu levantar as assinaturas necessárias para criar uma CPI no Senado e se aproxima de conseguir as assinaturas para a Câmara. Qual a sua posição sobre o tema?
Eu não tenho detalhes quanto ao mérito, agora, quanto à possibilidade da instalação, evidentemente eu sou contrário. Eu acho que essa é uma atitude própria do pensamento da Casa Grande, do pensamento antigo do latifúndio clássico no Brasil, que não admite a existência de um movimento social como o MST.
Por quê?
É um movimento legítimo dos trabalhadores do campo no Brasil, dos despossuídos da terra que, para além de quaisquer erros que o movimento possa cometer, eu não estava lá no episódio da Cutrale, quer dizer eu não vou discutir se houve ou não eventuais exageros, o que eu analiso é a importância fundamental do MST para vida brasileira. Eles são parte da dinâmica dos trabalhadores, da luta dos trabalhadores no Brasil eles são a evidência de um problema social sério. E que não devem ser objeto de nenhuma CPI, muito pelo contrario, devem ser respeitados e as suas reivindicações devem ser analisadas com todo o cuidado com todo o respeito pela sociedade brasileira
Portanto creio que isso é parte do pensamento conservador, me lembro do livro Coronelismo, enxada e voto, do pensamento que norteou o Brasil desde a escravidão. E ainda uma forte presença desse pensamente no DEM, no PSDB. Presente na oposição ao governo Lula que é bastante conservadora
O pensamento de direita no Brasil é que lastreia esse pedido de CPI.
Qual a melhor forma de lidar com um movimento social das proporções do MST?
Um movimento social deve ser tratado como um movimento social e deve ser olhada a reivindicação justa dos sem terra pela terra.
Mesmo quando o movimento age com métodos que são considerados radicais: invasões, depredações de patrimônio?
Olha, eu disse a você que eu não podia analisar o episódio especifico da Cutrale, nem tais ou quais os pés de laranja, porque essas coisas eu só analiso se estou próximo do acontecimento. Mas o que eu quero dizer é que um movimento como esse, pela sua própria natureza, ele não é um baile de valsa. Ele é um movimento com algum grau de radicalização para demonstrar a gravidade da questão agrária no Brasil, ainda.
Agora eu não afirmo que o movimento não cometa erros, como qualquer movimento político ou social. É da vida política cometer erros também. Agora eu não posso analisar esse episódio da Cutrale. À primeira vista, parece ter havido exageros, à primeira vista.
Mas eu que vou ajuizar isso? Não vou.
O que eu quero dizer é da seriedade desse movimento, da seriedade dele, do seu papel histórico, da respeitabilidade que ele adquiriu no mundo, e tem razões para isso. Expressa a existência ainda de um problema no Brasil que está sendo enfrentado, que precisa ser mais firmemente enfrentado. O governo Lula tem feito os esforços possíveis no sentido de enfrentar a questão da terra, ele não esta, no entanto, devidamente equacionado e existência social dos sem terra é muito positiva para o país para que o pais reconheça a existência desse problema, não ignore existência do problema da terra no Brasil. Não ignore existência de milhares de despossuídos da terra no Brasil.
Voltando para a CPMI? A intenção é investigar principalmente os repasses que o governo faz para entidades ligadas ao MST. Esses repasses são legítimos, na sua avaliação?
Eu considero que o governo só repassa recursos para entidades devidamente legalizadas, organizadas. Repassar recursos para os sem terra não constitui nenhuma irregularidade por parte do governo. Às entidades que recebem recursos, todas elas, cabe prestar contas daquilo que fazem. Sempre. E isso é feito regularmente. Isso é da normalidade das coisas.
Se recursos repassados para "N" setores da sociedade brasileiras, porque não podem ser repassados para movimentos sociais? Esse é um pensamento da bancada ruralista, da antiga UDR. É esse pensamento ultrapassado pela sociedade democrática brasileira que dá vazão a essa perseguição. Por que é uma perseguição vamos perseguir o MST e vamos acompanhar cada centavo que eles recebem. O que tem que ser feito, mas isso cabe às instituições brasileiras e não a uma CPI.
Terra Magazine
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