Copiado da página Revista do Brasil.
Por: Flavio Aguiar
Enquanto se anunciava o Nobel da Paz a Obama, a BBC transmitia ao vivo da Igreja de Westminster, em Londres, a cerimônia religiosa em homenagem aos mortos (britânicos) no Afeganistão (Foto: Jason Reed/Reuters)
24 horas depois de Hertha Müller surpreender o mundo com o Nobel de Literatura, nova bomba (a ironia é intencional): o presidente Barack Obama ganha o Nobel da Paz.
Mas tão surpreendente quanto a notícia em si, foi logo em seguida ouvir, na CNN, o comentário do porta-voz do Hamas, Ahmed Yusef, saudando a concessão do prêmio como um bom augúrio para a paz no Oriente Médio, apesar de todas as cautelas que o caso merece ter.
Yusef ressaltou o que quase todos os comentaristas estão sublinhando: o que temos até agora, da parte de Obama, são mais promessas do que realizações.
É verdade. Mas o caso me lembra também um graffitti excepcional que apareceu, em alguma eleição, na Cidade do México: "Chega de realizações. Queremos promessas" (quem me relatou isso foi o assessor do governo Lula para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia).
O comunicado da Academia Sueca ressaltou o esforço de Obama para assumir compromissos com a diminuição do arsenal nuclear e também para restabelecer o valor da diplomacia no cenário internacional (se este fosse o único critério, o governo brasileiro seria um sério candidato ao Nobel). Ou seja: para bom entendedor, a premiação de Obama é uma retro-condenação da política da trinca Bush Filho/Condoleeza Rice/Dick Cheney. Pode-se dizer que veio tarde, mas como se diz, parodiando a bandeira da conjuração mineira, antes tarde do que nunca.
É claro que a situação tem muitos paradoxos. Enquanto se anunciava o Nobel, a BBC transmitia ao vivo da Igreja de Westminster, em Londres, a cerimônia religiosa em homenagem aos mortos (britânicos) no Afeganistão, com a presença de toda a corte, rainha, príncipe consorte, furuto rei, Tony Blair, Gordon Brown etc.
E é verdade que é uma tacada de risco, dar o Nobel da Paz a alguém que assumiu, há menos de um ano, a liderança da maior máquina de guerra que o nosso planeta já conheceu, por melhores que sejam suas intenções e declarações. Para a paz, a única realização de fato de Obama até agora foi derrotar MCCain nas eleições. Ele vai ter de trabalhar duro, muito e por muito tempo para fazer, de fato, jus a esse prêmio que, de resto, já homenageou gente tão diversa como Nelson Mandela e Henry Kissinger.
De todo modo, é bom, muito bom, lembrar que por agora tem muito republicano nos Estados Unidos e outros da extrema direita cuspindo bílis e mordendo pé de mesa de raiva.
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