quinta-feira, 15 de outubro de 2009

PARA LULA, VALE ESTÁ VENDENDO RIQUEZAS SEM PENSAR NO PAÍS.

Concordo com o presidente. A Vale, doada pelo FHC, está agindo como uma empresa colonizada de um país colonizado. Vendedor de matérias primas sem tentar agregar valor ao produto vendido.Segue unicamente a lógica do capital, que não tem pátria, sem pensar nos interesses do país.
Carlos Dória


Agendada pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, a última reunião de que o presidente da Vale, Roger Agnelli, participou com a cúpula do governo, em 8 de setembro, foi marcada por um bate-boca com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do qual tinha aval, e do dirigente do BNDES, Luciano Coutinho, Mantega acusou a mineradora de apostar na crise, desprestigiar fornecedores brasileiros e recusar-se a dialogar com a União. Agnelli rebateu. Mas não convenceu: Lula considerou-se rompido com o presidente da maior empresa privada do país.

A reportagem é de Gerson Camarotti, Gustavo Paul e Geralda Doca e publicada pelo jornal O Globo, 15-10-2009.

No núcleo do governo, a avaliação é que a relação entre Lula e Agnelli está enterrada. Lula confidenciou a interlocutores sua frustração, por acreditar que a Vale está “vendendo as riquezas do subsolo brasileiro” sem pensar na industrialização do país.

Isso, sustenta, só tem um efeito prático: valorizar as ações do Bradesco e demais acionistas, sem ganho para a sociedade.

— Acho que o Agnelli já era. Ele perdeu a agenda — avaliou a líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC).

Para analistas, Agnelli precisa ‘sumir do noticiário’

O encontro foi no gabinete presidencial no Centro Cultural Banco do Brasil, sede provisória do governo. Como o clima já era azedo, Agnelli recorreu a Dirceu — que, quando era chefe da Casa Civil, aproximou-o de Lula — para marcar a reunião. Dirceu afirmou que o encontro seria uma tentativa de reaproximação, mas teve o efeito oposto. Segundo os relatos, o clima foi tenso e Lula evitou falar.

Coube a Mantega — aborrecido com a demissão, da diretoria da Vale, de seu ex-braço direito Demian Fiocca — externar o descontentamento oficial.

Mantega cobrou a ausência de investimentos em siderurgia, o que reforça a imagem de empresa de matéria-prima. E afirmou que a Vale não estava comprando no Brasil, numa referência à aquisição de navios no exterior. Agnelli explicou ter tentado efetuar a compra no Brasil, mas que os estaleiros não cumpririam os prazos. E disse que a Vale iria mostrar que o governo estava errado em sua avaliação.

Logo após, a empresa lançou uma ampla campanha publicitária, vista pelo governo como “resposta malcriada” e “bate-boca público” com Lula. Para a cúpula federal, Agnelli teve uma postura hostil e arrogante.

Lula começou, então a estimular a ofensiva do empresário Eike Batista, dono do Grupo EBX, as críticas dos fundos de pensão e as cobranças da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, numa operação orquestrada. Lula deixou claro seu aval à desestabilização de Agnelli ao não recebê-lo na terça-feira.

Ao perceber a aversão a seu nome no Planalto, Agnelli buscou outros setores do governo. Quando seu pedido de audiência com Lula foi recusado, ele foi ao gabinete do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

— Ele queria fazer uma exposição sobre as obras da Vale no Brasil, no Maranhão, me deu um livro muito bonito — disse Lobão.

Conselheiros de Agnelli recomendam, agora, que ele evite exposição pública e não tente uma aproximação direta com o Planalto nos próximos dias.

— Roger não soube manter a distância do presidente. A recomendação é recolher os flaps. Tem de sumir do noticiário para esperar a poeira baixar — disse um interlocutor de Agnelli, admitindo que este ficou “muito encantado” com seu trânsito no Planalto.

Ainda assim, eles garantem que Agnelli resistirá e que a pressão não terá efeitos práticos sobre a direção da Vale. Se ele sair agora, a ingerência política fica caracterizada, abalando a credibilidade da empresa.

— Se Roger cair, as ações da Vale desabam, e o Lula não gostaria de ser responsabilizado por isso. Além disso, os grandes acionistas (fundos, Bradesco e o japonês Mitsui) não iriam querer saber de queda de ações agora. Até porque elas ainda não voltaram aos valores pré-crise — disse um analista.

Mudanças na Vale seriam, no máximo, em diretorias

Isso foi confirmado por um alto executivo do Bradesco, que não está disposto a ceder, demitir Agnelli ou vender ações a Eike. Porém, para apaziguar os ânimos, algumas diretorias, como a de Recursos Humanos, poderiam ser trocadas.

— Mas o Roger continua — disse a fonte.

— A interferência é muito pesada. Imagine se as empresas cedem à pressão: elas vão ficar à mercê do governo.

Para analistas, o vazamento da pressão sobre Agnelli seria uma estratégia pessoal de Eike, com o aval de integrantes influentes da Presidência. O objetivo seria dar-lhe cacife para outros negócios, mostrando-o como um empresário com trânsito no governo e arrojo suficiente para abalar a Vale.

Mas o fato de Eike ter tornado pública sua vontade de adquirir a participação do Bradesco e dos fundos de pensão na Vale não faria sentido, pois não foi bem-sucedida. Afinal, no mundo dos negócios só se divulgam compra e venda de empresas depois de concluídas.
Fonte:IHU

Um comentário:

Unknown disse...

A Vale é nossa?

A venda da Vale do Rio Doce obedeceu ao padrão vigente nos governos FHC: valor irrisório em dinheiro podre e público, favorecimentos aos compradores, pouca ou nenhuma contrapartida posterior. No livro “O Brasil privatizado”, Aloysio Biondi expôs esse desmanche criminoso do aparelho estatal brasileiro. É para estômagos fortes.
Tentaram levar a Petrobras no rapa, mas não deu, por pouco. A Vale, considerando seu potencial na época, foi praticamente doada ao capital privado. É a segunda maior empresa do país, e seu papel estratégico ultrapassa o âmbito dos investimentos de grande porte. Essa história de que ela se valorizou e cresceu graças à privatização é lorota: naquelas condições, qualquer administrador mediano chegaria a resultados equivalentes. E por que tanto medo de discutir a gestão de uma empresa biliardária, que sequer existiria se não fossem os esforços e as verbas do contribuinte?
Quando a imprensa defende Roger Agnelli, está apenas fazendo lobby, provavelmente pago mesmo, no estilo jabá. Mas os interesses são todos interligados. Benjamin Steinbruch, colunista da Folha, esteve entre os compradores da Vale, da qual foi diretor.
Os privatas estão em pânico. Sua causa tem sofrido importantes revezes recentemente. O colapso da Telefonica, as tarifas escorchantes da CPFL e os pedágios paulistas tiveram em comum a generosidade dos administradores tucanos perante um grupo de apaniguados que (surpresa!) apareceram depois como financiadores de campanhas eleitorais. Não custa lembrar que a Vale demitiu, desnecessariamente, mais de 4 mil pessoas, temendo a “crise Míriam Leitão”.
Um pouco mais lesado e o povo começará a entender algo sobre a origem de seus padecimentos.