sábado, 17 de outubro de 2009

PETRÓLEO - Pré-sal: "Não se enganem os reacionários".

Governo quer controle da União sobre novas reservas, criação de fundo para áreas sociais e ambientais e deixa em aberto cotas dos estados e municípios; confira íntegra da entrevista com o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella

Por: Maurício Thuswohl

Estrella: ”A Petrobras como operadora isolada do pré-sal assegura que os benefícios dessa riqueza serão revertidosem favor do nosso país” (Foto: Agência Petrobrás)

Ocupar a Diretoria de Exploração e Produção da Petrobras não é tarefa para qualquer um. Responsável por quase dois terços do faturamento da empresa, a “diretoria que fura poço” – como ficou imortalizada nas palavras do ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti – é objeto de cobiça de todos os setores políticos brasileiros. No cargo desde 2003, o geólogo Guilherme Estrella é funcionário de carreira da empresa e tem história como militante do PT e da CUT, razão pela qual a imprensa mal-humorada o identificava como membro da “república de sindicalistas”. Resistente a pressões, o diretor é um dos artífices do planejamento que possibilitará o início da exploração do pré-sal. Pela defesa de maior participação da Petrobras na exploração e do controle estatal sobre o ritmo de produção, Estrella segue causando mau humor a uma parcela dos editores. São cada vez mais raras entrevistas exclusivas como esta, concedida à Revista do Brasil.
Confira também, na edição impressa, reportagem completa sobre o tema.

Qual a importância de a Petrobras estar presente em todos os consórcios de operação da camada pré-sal? A empresa detém tecnologia para operar nas áreas ultraprofundas ou planeja parcerias com outras empresas?

A Petrobras é a maior operadora (perfuração e produção) em águas profundas e ultraprofundas entre todas as empresas petrolíferas mundiais. Detém o mais avançado conhecimento científico sobre as bacias sedimentares brasileiras. Está entre as que mais investem em pesquisa, desenvolvimento e engenharia de exploração e produção de óleo e gás natural. Certamente é a que mais aplica recursos em treinamento, aperfeiçoamento e formação de pessoal próprio, assim como em universidades brasileiras. É a petroleira que mais cresceu em reservas e produção no último quinquênio. Conta com um quadro de geólogos, geofísicos, engenheiros de reservatórios, engenheiros de produção e de profissionais que proveem a base estrutural de nossas operações cuja competência e comprometimento com a empresa é marca internacionalmente reconhecida.
Para qualquer país, a capacitação nacional para explorar as próprias riquezas naturais é produto de um processo permanente, contínuo, ininterrupto de fazer, aprender fazendo, investir e reinvestir os recursos daí provenientes em capacitação, treinamento, formação, desenvolvimento tecnológico e de engenharia industrial dentro do país. Com isso, completa-se o virtuoso círculo de desenvolvimento sustentável, em taxas crescentes. A história destes últimos anos do setor petrolífero mostra com inquestionável clareza que foi a Petrobras a única empresa que exibiu esse comportamento. Logo, para o Brasil e para os brasileiros sua presença como operadora isolada do pré-sal é a única solução que assegura em sua totalidade que os benefícios oriundos da produção dessa riqueza serão revertidos em favor do nosso país. A tecnologia necessária para produzir o óleo e o gás dos campos do pré-sal é totalmente dominada pela Petrobras.

A participação mínima de 30% nas operações foi criticada por alguns setores empresariais privados. Os movimentos sociais, por sua vez, defendem que seja garantido o máximo controle da União sobre o pré-sal. Qual a visão e qual o papel da Petrobras em relação a esse tema?

O percentual mínimo de 30% em qualquer consórcio de E&P (exploração e produção) é um parâmetro que a indústria petrolífera mundial estabelece, aceita para a empresa que detém as operações de E&P dos campos de óleo e gás natural. É o percentual que a própria ANP considera em suas normas para uma operadora nas atuais concessões exploratórias e/ ou de produção em todo o território brasileiro. Se o percentual for menor, e isso se observa na indústria petrolífera mundial, a operadora tende a desviar o foco de seus interesses para áreas em que tem participações maiores e, naturalmente, mais rentáveis.

Há quem afirme que a exclusividade da Petrobras no pré-sal prejudicará a cadeia de fornecedores e comprometerá sua competitividade.

Acontecerá exatamente o oposto. A operação única pela Petrobras dará escala para que se desenvolvam os fornecedores brasileiros em toda a cadeia de E&P. Pela grande abrangência que o conjunto de materiais e equipamentos dessa cadeia produtiva e de engenharia terá, todo o espectro industrial brasileiro, todo o parque de engenharia de projetos e construtiva nacional será concretamente beneficiado. As bases tecnocientíficas e a geração de novos conhecimentos a partir das encomendas que a Petrobras, mesmo antes do pré-sal, colocou no mercado nacional já estão contribuindo muito para que a empresa brasileira tenha a musculatura imprescindível para elevar sua competitividade não só para atender o mercado interno como para inserir-se vantajosamente no conjunto de supridores internacionais da indústria petrolífera.

O Brasil terá capacidade industrial e de mão de obra para atender à demanda da Petrobras com a exploração do pré-sal? Uma matéria publicada em agosto n’O Globo afirma que precisarão ser formados 285 mil trabalhadores para atuar no pré-sal. Como a Petrobras pretende agir para garantir essa mão de obra qualificada em tempo hábil?

As atividades do pré-sal, como está nos projetos de lei enviados pelo governo ao Congresso Nacional, serão desenvolvidas em consonância com o processo de capacitação do parque industrial brasileiro – repito, já em curso a partir da histórica decisão do presidente Lula de construir as plataformas da Petrobras no Brasil. Essa decisão permitirá ao governo planejar estrategicamente o desenvolvimento industrial dentro de uma política de incentivos e apoio à empresa nacional. Afirmar que necessitaremos de 300 mil novos trabalhadores formados é uma total irracionalidade; é afastar-se dos reais interesses nacionais de elevar o emprego, a capacitação e a renda do trabalhador, mola mestra do desenvolvimento e do crescimento do país. Não há nação neste presente momento mundial que conte com essa imprescindível base social e econômica para crescer e desenvolver-se.
Quanto à formação dos trabalhadores, de todos os tipos e qualificações, essa é uma tarefa magna cuja concretização já está em curso através do Prominp e de muitas outras instituições de ensino, formação e especialização brasileiras, públicas e privadas, por todo o território nacional. Não se enganem os reacionários, os negativistas, aqueles que não acreditam na competência e na vontade de fazer dos brasileiros. O Brasil já está dando conta desse recado e vencendo todos esses desafios.

Muito se especula sobre poços secos e uma eventual baixa taxa de sucesso nas prospecções do pré-sal. O que há de verdade nisso?

O que deu motivo ao governo brasileiro para decidir pelo encaminhamento ao Congresso Nacional dos projetos de lei que modificam a atual lei do petróleo, do regime de concessão para o de partilha de produção, foi a concreta perspectiva de que numa certa área do mar leste-meridional brasileiro existem gigantescas reservas de óleo e gás natural cuja exploração apresentou, desde o início das agressivas e custosas iniciativas da Petrobras, a partir de 2004, elevado índice de sucesso em descobertas. Um índice de sucesso que chegou a 90%, enquanto a média mundial gira em torno de 30%. A continuidade das atividades de perfuração da Petrobras, com poços especificamente projetados para testar a presença de hidrocarbonetos na camada pré-sal, tem confirmado amplamente esse histórico e suportado totalmente a decisão do governo brasileiro de modificar o regime de concessão – que tem como pilar básico de racionalidade o risco exploratório – na chamada área de ocorrência do pré-sal.

Como está a negociação em relação ao cluster da Bacia de Santos e a unitização das áreas de produção? Como está a parceria com a ANP para o mapeamento geológico das áreas do pré-sal?

As eventuais áreas de unitização que forem definidas no conjunto de blocos da Bacia de Campos só serão conhecidas nos próximos anos, quando as perfurações e as interpretações geológicas fornecerem dados que concretamente suportem o procedimento, cujo deverá ser efetuado pela ANP. Já tiveram início os estudos geológico-geofísicos básicos – realizados por uma equipe mista de exploracionistas da Petrobras e da ANP –, cuja meta é apontar os mais prospectivos locais para o custoso investimento em perfurações pioneiras nas áreas que pertencem à União, fora, portanto, dos blocos exploratórios já concedidos. Devem prolongar-se por alguns meses. Os profissionais envolvidos nessa tarefa, altamente competentes, trabalham com entusiasmo e dedicação porque têm consciência de que estão realizando algo decisivo para o futuro deste grande país e de seu povo.
Fonte:Revista do Brasil

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