sexta-feira, 16 de outubro de 2009

VINTE ANOS SEM O MURO.

Por Mauro Santayana

A situação se agrava no Paquistão, com a ampliação, a seu território, dos combates entre os talibãs e os americanos. Aquela região é a mais densamente povoada do planeta. Mais de 40% da população mundial vivem apenas na China, Índia, Paquistão, Bangladesh e Afeganistão, sem contar com os vizinhos da Indochina, do Japão, das duas Coreias e da Indonésia.

Nas últimas semanas, os atentados no Paquistão têm sido diários, e há a perspectiva de um levantamento geral no país. Se isso vier a ocorrer, será difícil impedir o envolvimento dos dois países maiores da região, ou, seja, a Índia e a China, na defesa de suas fronteiras.

Os Estados Unidos continuam presos na armadilha que eles mesmos montaram, ao invadir o Afeganistão. Eles esquecem os ensinamentos clássicos dos grandes estrategistas militares da História, e não planejam a retirada para o momento certo, aquele no qual a guerra pode ser considerada perdida, mas ainda há a possibilidade de uma saída negociada e, no que for possível, honrosa. Os que combatem no território inimigo, por mais numerosas sejam suas forças, devem contar com a inferioridade tática. Por isso os grandes generais preferem atrair as forças adversárias para fora de suas fronteiras, desgastá-las ao máximo e, em seguida, invadir-lhes o território nacional.

As duas guerras mundiais do século passado mostram que a superioridade germânica foi aniquilada dessa forma. Os alemães invadiram facilmente a Bélgica e a França, mas, ainda que infligissem pesadas baixas aos adversários, se dessangraram em Somme e em Verdun, antes que os norte-americanos desembarcassem na Europa e ajudassem a derrotá-los. Na Segunda Guerra ocorreu o mesmo. Invadindo a União Soviética, em junho de 1941, depois de uma campanha fácil contra a França e a Bélgica, os nazistas se exauriram durante o avanço e encontraram em Stalingrado seu intransponível limite e tiveram que recuar até a derrota. No Vietnã, segundo os analistas, cada combatente vietcongue valia por cinco soldados norte-americanos, não obstante a superioridade das armas.

Na guerra pelo controle das fontes de energia do Oriente Médio e do Cáspio, os norte-americanos entraram em um conflito que começa a durar mais do que todas as guerras dos últimos cem anos – com exceção do conflito entre Israel e a Palestina. A Primeira Guerra Mundial durou de agosto de 1914 a outubro de 1918, e a Segunda, de setembro de 1939 a maio de 1945. A guerra contra o Iraque se iniciou há 20 anos, coincidindo com o colapso do mundo socialista, com os bombardeios determinados pelo primeiro Bush. A do Afeganistão já dura mais de sete anos.

Passados 20 anos da queda do Muro de Berlim, alguns analistas discutem seus resultados, e concluem que a situação da sociedade mundial não se alterou substancialmente. Dois livros sobre o tema acabam de ser publicados na França. Um deles, 1989-2009: Les tribulations de la liberte, é de Daniel Vernet, diretor de Le Monde, e especialista em direito internacional. O outro é 1989, l’année ou le monde a basculé, de Pierre Grosser, professor de ciências políticas. Embora com raciocínio independente, eles concluem que a queda do Muro de Berlim nada trouxe de novo ao mundo. A história não chegou ao fim, a globalização levou o mundo à crise econômica, os Estados Unidos não se consolidaram como única potência – ao contrário. Apesar de tudo, alguns países conseguiram emergir do subdesenvolvimento, e novos atores surgem na disputa por parcelas do poder mundial, como a China, a Índia, o Brasil. A erosão do sistema soviético, apesar dos esforços ocidentais para apressá-la, ocorreu mais pelas dificuldades internas do que no confronto com o Ocidente. Não souberam os herdeiros do leninismo conciliar os postulados da igualdade com a sociedade industrial de consumo. A Rússia, desfeita a grande confederação, retorna à sua posição de potência eurásica, entre a China e a Europa Ocidental. Provavelmente seu projeto estratégico, neste século, seja o da reconstrução do império, que herdara e perdeu. Os Estados Unidos tentam recuperar seu prestígio, mas não sabem como sair do imbróglio do Iraque e do Afeganistão. Obama, pressionado pelo Pentágono, insiste em continuar no Afeganistão, mas o povo norte-americano, como no caso do Vietnã, está cansado do conflito: quase 60 por cento dos ouvidos em pesquisa recente, querem os seus soldados fora daquele país.
Fonte:JB

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