Murat, hoje vivendo na Alemanha e ao sair da prisão em Guantánamo
Completou-se ontem o prazo que o presidente Barack Obama fixou, ele próprio, para o fechamento da prisão militar de Guantánamo. Ontem também, a comissão encarregada de rever a situação dos presos mantidos ali recomendou que 47 deles sejam mantidos lá “indefinidamente”, sem julgamento, sob custódia americana, 35 sejam julgados e 110 libertados sem julgamento. As conclusões da comissão são recomendações e decisão sobre o destino dos presos será tomada pelo presidente Barack Obama.
E qual a razão desta aberração jurídica de “manter detidos indefinidamente, sem julgamento”? Logo de quem, dos americanos, que até nos seus filmes de bangue-bangue prometiam aos piores bandidos “um julgamento justo”? Segundo a matéria da BBC eles “seriam considerados muito perigosos para ser libertados, mas não podem ser julgados porque as evidências contra eles seriam muito tênues ou teriam sido extraídas por meios controversos de interrogatório, não sendo, portanto, aceitáveis em tribunais americanos”.
O que são “meios controversos de interrogatório”? Uma boa explicação está na matéria publicada ontem pela Folha de S. Paulo onde se entrevista Murat Kurnaz, um alemão, filho de turcos, detido simplesmente porque foi ao Paquistão participar de uma organização religiosa islâmica de caridade.Ele permanceu preso de 2001 a 2006.
“Kurnaz diz ter sido submetido a muitos dos “métodos duros de interrogatório” criados na era de George W. Bush (2001-2009) para obter confissões de suspeitos de terrorismo. “Usaram eletrochoque em mim, me deixaram acorrentado por muitos dias, não me davam nada para comer por muitos dias, todo tipo de tortura” (…) (eu) tinha 19 anos. Era forte o suficiente. Também foi muito difícil pra mim, mas eu sobrevivi. [...] Outros foram torturados como eu e não sobreviveram”, afirma.”
Murat Kurnaz ficou preso quase quatro anos após todos os seus captores terem se convencido de que era absolutamente inocente de terrorismo. O motivo? Ser filho de turcos (que, aliás, não são árabes) e ser islamita. Não recebeu, sequer, um pedido de desculpas dos americanos ou dos alemães, que não o queriam.
Ele que se dedicar a combater este sistema.
“Eu estou em liberdade, poderia fazer o que quisesse, mas quero lutar pelo futuro. Não quero que ninguém mais seja preso desse jeito.” “Mesmo que fechassem Guantánamo hoje, existem outras prisões secretas pelo mundo. Guantánamo não é mais secreta, as pessoas sabem o que está acontecendo lá dentro, os seus prisioneiros não são mais segredo. Há outras que ninguém conhece. [...]“
A prisão de Guantánamo é uma vergonha não para os Estados Unidos, é uma vergonha para a humanidade. Aliás, Guantánamo, em si, já é uma vergonha. Alugada em 1903 ao governo de então em Cuba, os EUA acham-se no direito de permanecer eternamente com uma baía de 120 quilômetros quadrados, pagando os mesmos 4. 085 dólares por ano e recusam-se a devolver este pedaço de território cubano.
Fonte: Blog "Tijolaço", do Brizola Neto
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