quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

MÍDIA - Bolívia, educando a mídia.

IHU - Instituto Humanitas Unisinos

O presidente Evo Morales advertiu que irá elaborar uma legislação para “educar” os meios de comunicação, pois dessa maneira “não mentem tanto”. Seu governo estatizará as empresas de serviços elétricos, assim como as aposentadorias privadas.

A reportagem é de Sebastián Ochoa e está publicada no jornal argentino Página/12, 26-01-2010. A tradução é do Cepat.

O presidente Evo Morales recebeu a imprensa no Palácio Quemado, depois que assumira seu segundo mandato e designara ministros até 2015. Destacou a participação “fifty-fifty” de homens e mulheres em seu gabinete, criticou a abertura do governo de Barack Obama para abrigar “delinquentes” como o ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada e o ex-presidente Manfred Reyes Villa. Também advertiu que irá elaborar uma legislação para “educar” os meios de comunicação, pois assim não mentem tanto. Em outras entrevistas coletivas, os novos ministros receberam as chaves de seus despachos. Adiantaram que estatizarão as empresas de serviços elétricos, assim como as aposentadorias privadas.

Em alguns momentos, o microfone do presidente ficava mudo. “Afastem o pessoal da Unitel [Universal de Televisión] e da PAT da tomada”, brincava Morales quando o microfone voltava a funcionar. Estes canais de televisão privados são considerados pelo governo seus principais opositores. Seus donos estão vinculados a partidos de direita que estiveram no poder até os primeiros anos de 2000. Em dezembro passado, o Estado tomou 2.800 hectares de terra de Oswaldo Monasterios, acionista majoritário da Unitel, porque não atendiam à sua Função Econômica Social, ou seja, não eram produtivas. Mas, na Unitel nunca se falou sobre o assunto.

Não é a primeira vez que Morales propõe “educar” os meios de comunicação. No ano passado, cansado com o assédio de jornalistas, jogou na cara deles que pareciam “pintinhos”. Às vezes, de bom humor, iniciava as entrevistas coletivas com saudações para “os companheiros piu-piu”. Mas, nesta segunda-feira, se referia à obrigação de informar a verdade. “Temos que começar a nos educar. Quisera que a imprensa fosse outro controle social, mas com argumentos. Por dignidade, é preciso começar a corrigir e normatizar, para que todos nos baseemos nas normas”, indicou Morales. Em nenhum momento falou em expropriar meios de comunicação da oposição, como reclamam as organizações sociais que apóiam seu mandato.

“Creio que deveríamos ter uma nova conduta neste processo de mudança. Em vez de mentir e caluniar, seria melhor se me ajudassem a educar o povo. Vamos normatizar para que não mintam, é pelo bem de vocês”. De acordo com Morales, os jornalistas devem ser capacitados em valores para deixar de defender o capitalismo e colocar-se do lado da “Mãe Terra”. O presidente avaliou que se trata de sentido comum, já que “o dinheiro que ganham não vai lhes ser útil, porque o meio ambiente se arruinará para todos”.

Morales sustentou que a educação na Polícia e nas Forças Armadas também mudará. Advertiu que serão formados com uma nova doutrina; só assim compreenderão “que o inimigo é o capitalismo e não o socialismo”. O presidente disse que os uniformizados sabem perseguir dirigentes de movimentos sociais, mas lhes escapam ex-funcionários acusados de crimes, agora refugiados nos Estados Unidos e no Peru.

“Lamento muito que o governo de Obama seja lixeiro dos delinquentes da América Latina. Não sei como vai dignificar seu país, quando os delinquentes estão fugindo para lá. Deveria expulsá-los. Se eu fosse o Obama, por meu povo dos Estados Unidos expulsaria todos os delinquentes; da mesma forma o Peru”. Morales também criticou a política intervencionista dos Estados Unidos no Haiti.

Morales destacou o “fifty-fifty, como dizem os ingleses”, entre suas dez ministras e dez ministros. “É algo que não puderam fazer nem as companheiras Cristina Fernández Kirchner na Argentina nem Michelle Bachelet no Chile. Entendo que não é culpa delas, mas de nossas sociedades. Recebi muitos questionamentos nos sindicatos porque eu reclamava mais participação para as companheiras”.

O ministro de Hidrocarbonetos, Luis Vincenti, recebeu do ex-ministro os planos do governo para estatizar as empresas de eletricidade, de acordo com a nova Constituição.

Luis Arce, ministro de Economia, disse ao jornal La Prensa que “a Constituição ordena uma administração estatal das pensões e assim vai ser feito”. Comentou que, de fato, as Seguradoras de Fundos de Pensão (AFP, na sigla em espanhol) ficarão com dinheiro do Tesouro Geral da Nação (TGN), porque “os governos neoliberais obrigaram as AFP a comprar títulos do TGN. E as AFP, como viram que era um bom negócio, voluntariamente também fizeram investimentos”. “Por isso, a dívida do Estado com estas entidades cresceu até chegar a 3,2 bilhões de dólares. Com a nova lei estamos justificando as coisas. Se era o TGN que dinamizava os investimentos das AFP, então vamos normatizar e colocar um administrador estatal”, disse o ministro.

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