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LER, ESCREVER, CONTAR E PENSAR | ||
Mauro Santayana (Jornal do Brasil) O entusiasmo nacional pelo desempenho da economia brasileira, nestes últimos anos, com repercussão da presença do país no mundo, esfarela, diante de um dado alarmante: quase 20% dos alunos do ensino básico repetem o ano, e muitos deles abandonam as escolas. A situação estava pior há 10 anos, quando era de 26%. Segundo a Unesco (e o bom senso), isso ocorre por causa da má qualidade do ensino. Não ensinar, ou fingir apenas que ensina, é velha política do Estado brasileiro. Desde o período colonial, o bom ensino foi negado aos pobres, para que não faltassem servos aos ricos. Quando, entre os pobres, alguma criança se destacava por uma inteligência excepcional, tratavam de cooptá-la, como fizeram com grandes negros, entre eles José do Patrocínio e André Rebouças. Fora disso, era a reprodução selecionada: os ricos mandavam seus filhos para as melhores escolas, para que continuassem nos quadros das elites; aos pobres, ensinava-se apenas o necessário, para que pudessem servir ao sistema de poder econômico. Ainda assim, a educação elementar, até os anos 50, era muito melhor do que a de hoje. Ela tinha como eixo a alfabetização e leitura, aritmética, alguma coisa de ciência natural e os episódios mais importantes da História do Brasil. O importante é que se aprendia a ler – e a escrever. Os ditados, as composições e as dissertações, sob a correção de professores que conheciam ortografia e sintaxe, ensinavam as crianças a pensar: a associar os vocábulos às ideias, e, conforme os textos, as ideias à ética. Ensinar não é difícil. Temos que transmitir aos alunos aquilo que sabemos, passo a passo, para que possam assimilar as lições. O grande segredo do método de Paulo Freire está no aproveitamento da experiência cotidiana dos alunos: as primeiras palavras que aprendem a escrever são aquelas de maior importância em seu cotidiano. Ainda assim – e sempre me lembro do que me disse Anísio Teixeira, nos anos 50 – a educação elementar, antes de 30, era bem melhor do que a que veio depois. E a que vem sendo ministrada a partir de 1964 é lamentável. As pessoas sabem ler – isto é, decifrar os sinais gráficos e pronunciar as palavras – mas não entendem o que elas significam. Documentos sobre assuntos importantes, que tratam de sociologia e economia, são redigidos de forma ininteligível, em dialetos corporativos e acadêmicos, em que o significado continuará impenetrável, na cabeça do autor ou dos autores. E nem se fale em alguns profissionais de meios de comunicação, que criam um idioma sem qualquer relação com a língua pátria. Ensinar não é uma técnica mas, sim, uma arte. Educar é conduzir ao lado, levar pela mão, mostrar o caminho, apontar os obstáculos, indicar as estrelas. A técnica pode ajudar no que se refere ao método, à melhor atitude psicológica a fim de atrair o interesse do aluno, mas o que importa é o conteúdo. A escola deve ensinar a criança a pensar. Pensar não é só aplicar-se a resolver o problema imediato, mas também a planejar e a sonhar. A imaginação é importante aspecto da realidade. É constrangedor que tenhamos uma taxa de repetência e evasão quatro vezes a média da América Latina. Esse constrangimento será ainda maior se compararmos os nossos números com os do Chile e da Argentina. No caso argentino, a política neoliberal contribuiu para rápida deterioração do sistema educativo, que foi modelo no continente até os anos 60. Mesmo assim, seu índice negativo é três vezes menor do que o do Brasil (6,6% contra 18,7% de nosso país). É verdade inegável que a ignorância é irmã siamesa da miséria. A indigência do Haiti – que a fatalidade do terremoto está expondo ao mundo – se explica pelo índice de quase 80% de analfabetos. O Brasil conseguiu aumentar expressivamente o número de vagas e, nos últimos anos, com o incentivo das bolsas contra a pobreza, a frequência escolar. Mas o conteúdo continua pobre. Só algumas escolas elementares de excelência, muitas delas experimentais, conseguem realmente ensinar a ler, a escrever, a contar – e a pensar. Mauro Santayna (jornalista) Publicado originalmente: Jornal do Brasil (20/01/10). |
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
sábado, 23 de janeiro de 2010
LER, ESCREVER, CONTAR E PENSAR.
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