Por Cristian Klein
Uma das previsões mais fáceis de se fazer no início do ano passado era a de que o governo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, jamais atenderia a todas as expectativas lançadas sobre ele. Obama foi eleito num clima de euforia de proporções inéditas. A recepção que teve na Alemanha, ainda durante o período de campanha, quando reuniu mais de 100 mil pessoas em Berlim, é um daqueles raros acontecimentos em que a popularidade de um político consegue rivalizar com a dos artistas mais famosos.
Multidões saíram às ruas para vê-lo discursar. As avenidas de Washington apinhadas de gente para assistir a sua posse, debaixo de um frio polar, eram a prova da realização democrática, do ideal da representação e das esperanças depositadas em um homem só. Os slogans Change (Mudança) e Yes, we can (Sim, nós podemos) acompanhavam as peças de propaganda. Uma estampa gráfica a la Andy Warhol, que logo se tornou famosa, com a imagem de seu rosto, lhe conferia um ar icônico.
Parte desse fenômeno esteve ligado a características pessoais de Obama – a novidade de ser o primeiro negro na Casa Branca, de ter o discurso afiado, além do carisma elegante, convicto, visionário. Na nação formada por religiosos, Obama se fez dirigir aos cidadãos como o pastor que conduziria seu rebanho à Terra Prometida. Outra parte tem a ver com o momento da entrada de Obama em cena. Todos, a grande maioria pelo menos, queriam ver enterrada a era George W. Bush. Coincidia a ascensão meteórica do mais incensado candidato da história com o ápice da ojeriza ao presidente mais impopular, que exacerbou o antiamericanismo pelo mundo e que mergulhou o país em duas guerras e na pior crise econômica desde o crack de 1929.
Hoje, contudo, o clima de decepção dá a tônica das avaliações sobre o primeiro ano de mandato de Barack Obama. Seu índice de aprovação, para um presidente com este tempo à frente do governo, está entre os mais baixos já registrados. Como explicar tamanha discrepância entre o esperado e o realizado?
Em primeiro lugar, há a própria herança maldita dos anos Bush. Em segundo, é natural um déficit entre as promessas de campanha e as possibilidades de concretizá-las. Campanhas políticas, em qualquer lugar do mundo, contêm um elemento de ficção, de criar um mundo imaginário que atende às mais latentes necessidades ou vontades dos seres humanos. É o tempo de sonhar. Algo que dá margem ao estelionato eleitoral das promessas não críveis e irrealizáveis, feitas para enganar. O elemento ficcional, inerente ao discurso da campanha, já foi bem ilustrado por uma folclórica reclamação de eleitores de uma pequena região da Suíça (também poderia ser de algum desenvolvido país escandinavo). Cansado de ver as propostas de governo sendo cumpridas, o povoado não hesitou em fazer o inusitado protesto: “Chega de realizações; queremos promessas!”. Em terceiro lugar, mudanças não são feitas de uma hora para outra. Leva-se tempo. Seja porque uma intervenção precipitada pode ter efeitos ainda mais indesejados – este foi o argumento usado por Obama para justificar o envio de mais soldados à guerra no Afeganistão. Logo ele, agraciado com o Nobel da Paz! Apesar de toda a onda Obama, ela não se converteu em uma ampla maioria no Congresso. E isso tem dificultado seu ousado programa de saúde pública universal, atacado de modo raivoso pela ultradireita, que, no esforço de demonizar o presidente, já o chamou de comunista a fascista, pondo-lhe bigodes de Hitler. O jogo é pesado.
O sistema americano é muito dividido, e o conservadorismo moral e econômico está entranhado nos valores mais íntimos de imensa parcela do eleitorado. Embora nem sempre fique claro, como na decepcionante Conferência do Clima, em Copenhague, parece haver poucas dúvidas de que Obama gostaria de ir além e em ritmo mais rápido do que tem conseguido. É o caso agora do seu confronto com os bancos. Que ele, sim, possa bem mais nos próximos anos.
Fonte:JB online
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