Pedro do Coutto
Reportagem de Vera Rosa e Beatriz Abreu, O Estado de São Paulo de quarta-feira, focaliza uma inclinação revelada pelo presidente Lula, durante encontro com o senador José Sarney, no sentido de que Henrique Meireles, e não Michel Temer seja o candidato indicado pelo PMDB para vice de Dilma Roussef. O atual dirigente do Banco Central, cuja gestão inegavelmente é marcada pelo êxito, desempenharia o papel idêntico ao representado por José Alencar, vice-presidente eleito com Lula e que, em 2002, realizou a tarefa de praticamente anular uma possível reação das classes empresariais ao candidato do PT. Alencar tem proporcionado o equilíbrio buscado pelo presidente duas vezes vitorioso entre capital e trabalho.
Sem dúvida, diminuiu substancialmente as resistências a Lula que se verificaram em 89, 94 e 98. Lula era nessas três disputas visto com certa desconfiança quanto à política econômica que poderia colocar em prática. De repente, como num golpe de mágica, a maior figura do Partido dos Trabalhadores demonstrou que os temores não tinham razão alguma. Harmonizou as correntes e, com a participação importante de Alencar, revelou-se muito menos radical do que se supunha. Muito menos radical, por exemplo, do que Fernando Collor. Mas Fernando Henrique Cardoso conseguiu galvanizar a classe média e até mesmo uma parcela do proletariado, na verdade mais sensível a mudanças do que se possa supor à primeira vista. Na verdade, é necessário levar em conta, como uma pesquisa feita há tempo por Homero Icaza Sanches, que as perspectivas de uma classe social, seja ela qual for, estão sempre voltadas pelo menos para um degrau acima do patamar no qual se encontram. Mas esta é outra questão, embora importante para efeito de análise eleitoral. Engano pensar-se que as classes de menor renda desejam mudanças abruptas.
Mas voltando à indicação potencial de Henrique Meireles, não quer dizer que seja de fácil aceitação pelo PMDB. O partido fixou-se em torno de Michel Temer, indicação que parece não ser do agrado do Planalto, de modo geral ou de Lula em particular. Primeiro surgiu a questão de lista tríplice que o PMDB submeteria ao PT. Uma situação sem dúvida singular, pois se uma legenda forma coligação com outra, salvo um motivo muito forte, tem que estar disposto a firmar a aliança sem exclusão ou inclusão de nomes. Na legislação antiga, por exemplo, quando da vitória de Jânio Quadros, o candidato da coligação UDN-PDC-PTR, concorreu com três vices, todos somando votos para ele. Milton Campos, pela UDN, Fernando Ferrari pelo Partido Trabalhista Renovador, e até João Goulart pelo PTB, na famosa operação Jan-Jan, ou canguru, como foi chamada. Nenhuma das três agremiações, incluindo o PDC, primeiro a lançar Jânio Quadros, fez questão de exclusividade quanto à vice.
Um episodio aliás, pouco focalizado pelos historiadores, a manobra de João Goulart, afastando-se assim da candidatura do general Teixeira Lott, que encabeçava sua chapa. Articulada pelo senador Sousa Naves, a operação canguru proporcionou cerca de 800 mil votos a Goulart em São Paulo e também no Paraná. Lance decisivo para que ele se reelegesse vice-presidente da República, o que a lei da época permitia quanto aos vices, eleitos separadamente dos presidentes da República. Fosse outra a legislação, Milton Campos teria sido eleito junto com Jânio. Agora é diferente. E como não existe pluraridade de vices, Dilma Roussef só poderá contar com um nome do PMDB, cuja legenda muito acrescenta a ela em tempo na televisão. Difícil vir a ser Meireles. Mas pelo visto também difícil que venha a se confirmar Michel Temer. O Planalto preferiria um terceiro nome? É o que está parecendo.
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