Manifesto contra canil da barbárie em São Leopoldo
Por Katarina Peixoto
A situação do CEMPA – Centro Municipal de Proteção Animal – de São Leopoldo é um capítulo especial na barbárie cometida contra animais indefesos diariamente em nossa sociedade. É especial porque o lugar já mudou inclusive de nome – chamava-se ALPA -, depois de ter imagens de cães mortos de fome atrás de grades veiculadas em cadeia regional de televisão. Abrigos de animais carentes e doentes e abandonados existem em todos os municípios minimamente civilizados segundo as regras do estado de direito. Nenhum deles é um paraíso animal, sobretudo para cães e gatos, espécies selecionadas biológica e socialmente pelo convívio com humanos. Mas o caso CEMPA segue se destacando. Por que? Porque a degradação das condições em que vivem os animais só piora. E, a fim de evitar novas denúncias, estão proibindo a entrada e recusando a ajuda de protetores voluntários de animais.
Neste momento, os responsáveis pelo canil da barbárie estão “eutanasiando” animais doentes, acidentados, sequelados. Esse tipo de coisa não é objeto de denúncia, porque não envolve, pelo menos em tese, desvio de dinheiro público. Envolve, somente, vidas indefesas e muita incompetência. Há em andamento, no planeta, inúmeras iniciativas de políticas públicas que envolvem animais e crianças carentes, vítimas de abusos e maus tratos. Há até iniciativa privada comprometida com o fato de que há mais de 20 milhões de cães abandonados no Brasil.
Esse é um problema de saúde pública, certo. E não apenas porque vacinas custam dinheiro. É um problema de saúde em primeiro lugar porque expõe, privilegiadamente, de quanta barbárie e violência é uma sociedade e um poder público capaz. Um dos elementos que contribuem para o diagnóstico da psicopatia é o comportamento violento contra animais. Só um idiota ou um ignorante ou fanático religioso recusa a extensão dessa psicopatia a uma política pública.
Para quem se julga de esquerda e acha que animais são “inferiores”, não basta o desejo de que um dia leiam Darwin. Não basta o devaneio de que conheçam a personagem de Desonra, do escritor sul-africano John Coetzee, Bev Shaw, cujo papel, no enredo desse texto magistral, é resignar os restos antes da sua despedida da desgraça total; é a dignidade bruta, bestificada.
Quantas crianças maltratadas, bestificadas em núcleos familiares jamais existentes, reconstruiriam vínculos afetivos mediante a relação afetiva com um cachorro? Quanto custa uma política pública decente, que envolva animais e crianças, respeito e dignidade?
Entidades defensoras dos animais lançaram um abaixo-assinado pela internet para divulgar a situação dos animais em São Leopoldo e tentar deter a eutanásia de cães no CEMPA. Acompanha o abaixo-assinado uma carta aberta à população de São Leopoldo, ao prefeito Ary Vanazzi e ao presidente da Câmara de Vereadores, Henrique Prieto.
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