Muitos dos que acompanham este blog mandaram mensagens pedindo que opinasse sobre Armando Nogueira, em meio ao lamentável festival de lamentos e lamentações, que inundou, abastardou e desonrou a imprensa brasileira. Minha resposta foi simplesmente relatar fatos que envolveram esse “festejado” jornalista, ao qual, já disse aqui, dei seu primeiro emprego, como repórter esportivo no Diário Carioca.
E não há réplica quando se trata de fatos, como fica mais do que demonstrado, porque até agora nenhum “admirador” de Armando Nogueira enviou mensagem a este blog negando as verdades que tenho revelado, ao recordar apenas dois acontecimentos que, por si só, denegririam a carreira de qualquer jornalista. Leiam os comentários e tirem suas conclusões.
Como todos deveriam lembrar (especialmente os profissionais das outras organizações jornalísticas espalhadas pelo Brasil, já que a Globo não tem o menor interesse em reviver os escândalos em que esteve envolvida), em 1982 tivemos o caso Proconsult, uma farsa com participação ativa, decisiva e definitiva da Central de Jornalismo da TV Globo, da qual era diretor o próprio Armando Nogueira. Era um golpe monumental e extremamente audacioso, armado para fraudar a contagem de votos e tirar a vitória de Brizola.
O que a Globo e seus cúmplices (quais seriam?) não sabiam é que o policiamento das atividades da empresa Proconsult (contratada pela Justiça Eleitoral para fazer a “computação” dos votos) estaria a cargo de um delegado impar, inatacável e incorruptível. (Detalhe: esse fato também é rigorosamente verdadeiro e jamais foi revelado por nenhum dos “jornalões”. Tanto tempo depois, estou passando essa informação em absoluta primeira mão. É um fato nunca dantes revelado).
Esse delegado chama-se Manoel Vidal, um nome que honra a Polícia Civil do Estado do Rio. Sua carreira é sem igual. Foi o corregedor mais rigoroso que a Polícia já teve, afastou e processou uma quantidade enorme de policiais corruptos, inclusive delegados, fazendo a corporação “cortar a própria carne”. Depois, ocupou a Chefia de Policia, realizando uma administração exemplar.
Pois bem, ao comandar o policiamento na Proconsult, Dr. Vidal (doutor mesmo, não é “doutor” como Roberto Marinho) percebeu que havia algo estranho, muito estranho. Não demorou a perceber que estava num covil de lobos, disfarçados de cordeiros (um posicionamento que se encaixa na biografia de Armando Nogueira). Imediatamente, Dr. Vidal alertou o delegado Arnaldo Campana, muito ligado a Brizola, que contatou e alertou o candidato do PDT. (Repito, tudo isso é rigorosamente verdadeiro e esses pormenores até hoje jamais haviam sido revelados em nenhum outro veículo de comunicação).
Ao mesmo tempo, a apuração paralela montada pela Organização Jornal do Brasil e comandada por Paulo Henrique Amorim e Pedro do Coutto (nosso colega na Tribuna impressa e aqui no blog) não batia com os números divulgados pela TV Globo.
Ao ver que a vitória, garantidíssima nas urnas, estava sendo ardilosa, escandalosa e criminosamente arrancada de suas mãos, Brizola não titubeou, que palavra. Sem apoio da imprensa nacional (essa mesma imprensa que hoje tanto louva um personagem como Armando Nogueira), procurou os correspondentes estrangeiros e lhes concedeu uma explosiva entrevista.
Houve então o escândalo internacional, que destruiu a farsa e a fraude. Os carros da Organização Globo eram apedrejados nas ruas, uma vergonha imensurável. Gritava-se: “O POVO NÃO É BOBO, ABAIXO A REDE GLOBO”.
Como dizia Maysa Matarazzo, “meu mundo caiu”: a imagem da Globo desabou, levando junto com ela a trama e golpe armado contra Brizola. Seus votos enfim começaram a aparecer na TV Globo, a batalha estava ganha.
No desespero, o que fez Armando Nogueira? Mandou convidar Brizola para uma entrevista ao vivo na TV Globo e dela participou, não de corpo presente, mas através de um “telão”. Estrategicamente, Armando estava em São Paulo, para onde fugira quando o escândalo veio a público. E o que fez na entrevista? (LEIA ABAIXO, NA ÍNTEGRA) Armando simplesmente tentou “convencer” e “comover” Brizola, defendendo a lisura “dos 2 mil jornalistas da TV Globo”) e pedindo-lhe para “desagravar” a emissora. Brizola foi discreto e polido, mas não fez desagravo algum, não retirou nenhuma das acusações que fizera aos jornalistas estrangeiros.
Alguém foi punido? De onde surgiu a Proconsult? Quem a contratou? Quais foram os responsáveis pela trama Proconsult-Globo? Como diria Érico Veríssimo, “o resto é silêncio”.
Armando Nogueira perdeu o prestígio, mas não perdeu a pose. Já não mandava mais nada na TV Globo. Ficou encostado, para alguma eventualidade. e Roberto Marinho “importou” Alberico Souza Cruz, que era diretor de jornalismo da emissora em Minas Gerais e veio fazer no Rio uma dobradinha com o então diretor de telejornais de rede, Woile Guimarães.
O tempo passou, mas nada mudou. Em 1989, Armando Nogueira (ele, sempre ele) e Alberico Sousa Cruz estiveram no centro da polêmica sobre a edição do debate entre os candidatos à Presidência, Collor e Lula. A tristemente “famosa” edição do debate foi ao ar no Jornal Nacional no dia 15 de dezembro, antevéspera do segundo turno das eleições. A TV Globo claramente manipulou o resumo do debate a favor de Collor, mostrando os melhores momentos do candidato e os piores de Lula. Alberico Sousa Cruz sempre negou ter participado do episódio. Será? O testemunho do jornalista Marcos Vinicius (que era editor de Economia da TV Globo na época), em comentário postado ontem à noite na matéria Assessor de Lula rebate “críticas sobre apoio do Brasil a Cuba, mostra exatamente o contrário. E Armando Nogueira, que então era chefe de Alberico, não sabia de nada? Ha!Ha!Ha!
Poucas semanas depois, logo após a posse de Collor, bem no começo de 1990, quando o assunto já “começara a esfriar”, Armando Nogueira foi demitido e Alberico Souza Cruz assumiu o lugar dele como diretor da TV Globo.
A elegante, educada e até espirituosa
entrevista de Brizola a Armando Nogueira, depois
de ter abortado a fraude da Globo/Proconsult
Segue agora o trecho principal da entrevista de Brizola à TV Globo, em 1982, depois do então candidato do PDT ao governo do Rio ter denunciado o chamado golpe da Proconsult, articulado com participação da Organização Globo para fraudar o resultado das urnas.
A entrevista foi feita pelos jornalistas Paulo César de Araújo e André Gustavo Stumpf, com participação “muito especial” de Armando Nogueira, que não teve coragem de encarar Brizola de frente e se refugiou em São Paulo, de onde apareceu no vídeo via Embratel, como se dizia antigamente (era como se o agora “genial” Armando Nogueira estivesse dizendo a Brizola: “Eu estava em São Paulo, não tive nada a ver com isso”). E o que Armando Nogueira, diretor da Central Globo de Jornalismo, estava fazendo em São Paulo, numa importantíssima eleição, quando na época todo o jornalismo de cobertura nacional da Rede Globo estava concentrado no Rio?
Paulo César de Araújo - Um momentinho só, porque agora nós vamos aos nossos estúdios, em São Paulo, onde o nosso companheiro Armando Nogueira tem uma pergunta a fazer ao senhor (Brizola)…
Leonel Brizola – Com muito prazer!…
Paulo César de Araújo – Pois não, Armando…
Armando Nogueira – Boa noite, governador!
Leonel Brizola – Boa noite!…
Armando Nogueira – Estamos acompanhando aqui a sua entrevista, com natural interesse, e a certa altura pareceu que o senhor ficou preocupado, em dado momento da apuração, com a correção do trabalho dos profissionais da Rede Globo, entre os quais eu figuro, humildemente, mas com muito orgulho. E eu perguntaria ao senhor, governador, se é justo que profissionais com um passado, alguns com um futuro, quase todos com um futuro, devam merecer, numa hora de paixão, um tratamento tão rigoroso da parte de um homem público, por parte de quem a gente tem um apreço. Eu gostaria de fazer esta pergunta, que ela é quase pessoal. O senhor me desculpe introduzir uma pergunta pessoal, mas em nome de cerca de dois mil jornalistas… E eu me sinto no dever de fazer essa pergunta ao senhor…
Leonel Brizola - Perfeito. Com muito carinho, com muito prazer, Armando. Sabe que eu dou essa resposta com aquela franqueza que me caracteriza – não é verdade? E nós devemos sempre usar esse método da franqueza, da lealdade. Eu registrei o que era real. Eu não cheguei a entrar no mérito. Eu não cheguei, de forma nenhuma, a considerar que tivesse havido má fé… Não cheguei, absolutamente. Eu registrei uma situação real existente aqui no Rio de Janeiro e também os meus próprios sentimentos. Porque eu senti o nosso Rio, no conjunto, desmerecido. Chegava a ser anunciado: “Olha, logo em seguida, vem o Rio de Janeiro!” E depois vinha o Acre, vinha Rondônia, e nada… Então, eu registrei isto: é que faltava essa informação. Agora, pode ser que tenha entupido… os canais tenham se entupido aí. Havia dificuldades… Porque numa organização grande é assim, às vezes o gigantismo‚ uma doença das organizações. Isto pode acontecer, isto pode ocorrer. Isto sem desmerecer os profissionais., não é verdade? Muitas vezes, grandes médicos vão fazer uma operação e o doente morre. Quer dizer, eu registro o fato, apenas, sem fazer nenhum desmerecimento. E o faço com lealdade, com espírito limpo. E, querendo com isso, que retiremos lições deste fato, porque isto incentivou a muitas coisas, no Rio de Janeiro, desagradáveis. E que nos levou a um trabalho intenso. Eu próprio, daqui, neste momento, Armando, a mensagem que eu dirijo, a todos quantos me ouvem, com a consideração da minha palavra, de uma mensagem minha, que se mantenham tranqüilos, mantenham-se calmos, cabeça fria. A nossa fiscalização não deve se atritar com ninguém; ao contrário, agir com eficiência, agir com uma atenção especial… Vamos trabalhar, no sentido de que a verdade eleitoral flua e surja, seja qual for. E perante ela nós temos que nos curvamos. Lutar, cuidar, para evitar as fraudes, evitar qualquer irregularidade. Vamos honrar a justiça, vamos respeitar, vamos considerar. Fazer com que a justiça paire acima de qualquer suspeita, seja prestigiada. Se não tivermos uma justiça prestigiada, não temos ordem jurídica, não temos democracia, não temos nada; muito menos a verdade eleitoral. Quer dizer. não tome esses meus comentários, Armando, como uma desconsideração, como um desmerecimento aos profissionais. Ao contrário, eu até fiquei admirado como é que um conjunto, uma equipe extraordinária de profissionais, como são vocês todos, pudesse entrar nesse descompasso que houve. E tanto que gerou esse estado de espírito. Mas, felizmente, eu acho que tudo está retomando, compreendeu, aos seus níveis normais. Eu fiquei aqui muito honrado de ouvir essa projeção final, que está canalizando no sentido de um reconhecimento da possibilidade de que a maioria eleitoral se estabeleça em torno de meu nome. Como veria também, se a verdade fosse outra. De modo que não tem nenhum sentido… Eu quero que o amigo Armando Nogueira considere que não há nenhum conteúdo de desmerecimento a vocês todos, que certamente estão trabalhando muitíssimo, no cumprimento dessa nobre tarefa.
Armando Nogueira – Pois é, governador, eu gostaria que o senhor, já neste estado de espirito de compreensão, o senhor aproveitasse a oportunidade para, ao desagravar a Rede Globo, desagravar também de certa maneira o Tribunal Regional Eleitoral. Porque, o senhor sabe, que, fosse qual fosse a discrepância dos números, jamais os magistrados da Justiça Eleitoral iam se deixar perturbar por uma manipulação. Eu sei o que é a Justiça Eleitoral… E o senhor sabe também, porque o senhor exaltou essa retidão da Justiça Eleitoral, ao longo de toda a campanha, e o senhor sabe perfeitamente que os números que estão chegando agora – eles estão chegando porque eles correm um ritmo normal e não o delírio, governador. Nós não entramos no delírio dos números. Aqui, em São Paulo, também, no primeiro dia, nós ficamos aquém, mas quisemos ficar aquém da fantasia, para ficar de acordo com a realidade, governador. Eu peço licença para não importunar mais a sua entrevista. Vou continuar, como telespectador. Muito obrigado.
Leonel Brizola - Não, mas pode crer que foi uma satisfação muito grande contar com a sua participação, sobretudo uma honra maior ainda. Mas eu gostaria de dizer o seguinte: que, agora, sim, nós discordamos. Em primeiro lugar, nunca, em nenhum momento, tanto eu quanto o PDT, pusemos em dúvida a lisura da Justiça Eleitoral. Ao contrário, nós trabalhamos para que ela fosse respeitada na campanha eleitoral. E (ela) foi muito desconsiderada, principalmente por parte do candidato do governo e a sua campanha. E muitos outros setores, que desconsideraram reiteradamente a Justiça Eleitoral. De modo que eu não tenho nada que desagravar a Justiça Eleitoral, Armando. Ao contrário, o meu primeiro passo como candidato foi visitar a Justiça Eleitoral e prestigiá-la. Eu tenho uma tradição de prestígio e de acatamento ao Poder Judiciário. Agora, a minha referência sobre uma possibilidade de fraude não se refere aos juízes; se refere a este submundo que passou a se mover, em função desta confusão que se criou aqui. Porque nós temos indícios muito concretos a este respeito. Então, isto pode se passar, independentemente do cuidado do zelo dos juizes. E depois constatar essas providências é muito difícil. Nas minhas críticas – porque, na verdade, é crítica mesmo, no bom sentido, no sentido elevado. Não tem nada com exaltação, me desculpe, Armando. Pelo contrário, a cabeça aqui, oh… quando começa a adquirir uma temperaturazinha, eu boto na geladeira. Cabeça fria, a minha… Mas como é que eu posso me conformar que vocês computem a toda hora urnas do interior e deixem as urnas da cidade, aqui?… Custa muito mais uma viagem – me desculpe, lá de Campos, lá de Bom Jesus, lá de Itaperuna, do que uma corrida de automóvel ali em Bonsucesso, ali na Baixada. E isso foi ficando para trás. E eu acho que era uma idéia parelha do resultado das eleições. Isso se foi – alguém teve a intenção de esvaziar, enfim, a projeção dos resultados do Rio de Janeiro, cometeu um erro. Porque, ao contrário, isso vai dar um refluxo, porque agora toda a Nação está acompanhando o que está ocorrendo no Rio de Janeiro. Mas, enfim, Armando, olha, com toda a franqueza, pode crer que, em mim, não existe mais nenhuma restrição a esse respeito. Sempre para mim, do passado recente, remoto, eu colho dele lições. Eu acho que essa é a grande conduta para qualquer um de nós. Pode crer que, assumindo essas responsabilidades de governo, no Rio de Janeiro, nós vamos ter de trabalhar juntos. Nós vamos ser companheiros de viagem. Vamos ter de conviver. Vamos ter de trabalhar juntos por essa comunidade, que vocês aqui têm as raízes sob ela, não é verdade? Então, falar em Rede Globo, falar no Rio de Janeiro, é como falar de uma coisa só. Isso tudo está entrosado, está interligado. E nós vamos ser companheiros de viagem, vamos trabalhar juntos. Podemos discordar num momento, discordar noutro, mas vai nos sobrar terreno comum de trabalho conjunto, por essa terra e por essa gente querida do Rio de Janeiro.
***
PS – Repararam que, nessa entrevista, Armando Nogueira, já chama Brizola de “governador”? Pena que o texto transcrito não seja capaz de transmitir a emoção do momento, o nervosismo, a hesitação, o gaguejar do hoje “genial” jornalista dos obituários da “grande” imprensa.
PS2 – Nos mais diversos jornais, os responsáveis por esses textos, ao lembrarem a “carreira” do “festejado” jornalista esportivo, mais parecem acometidos de Parkinson ou Alzheimer, não têm memória, simplesmente passaram a borracha na carreira dele.
PS3 – Mas o real Armando Nogueira, esse era muito diferente. Pessoas que o conheceram de perto, como Boni e Daniel Filho, agora misericordiosamente lhe fizeram os maiores elogios. Mas lá no fundo lembram como ele era, sempre se queixando de tudo, reclamando dos colegas e culpando subalternos, a ponto de Walter Clark, que à época dirigia a emissora, ter apelidado Armando Nogueira de “Neném Dodói”. Era assim que o chamavam, rindo dele.
PS4 – Disseram que “Armando Nogueira era genial com as palavras”, mais uma balela ou falsidade. Quando ele afirmou, “agora que a TV Globo está DESAGRAVADA”, queria dizer DESMASCARADA. As palavras têm sentido exato, não podem ser MANUSEADAS.
PS5 – Desculpem, ficou um pouco extenso, mas acho que vale a pena, é um documento que ficará eternamente na internet, mostrando a realidade dos fatos, que não podem ser desmentidos.
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