Pedro do Coutto
O discurso de José Serra, sábado passado, em Brasília, quando se lançou candidato à sucessão de 2010, não poderia ter sido melhor do que foi para o presidente Lula e, em conseqüência para sua candidata Dilma Roussef. Principalmente pelo tom defensivo reproduzido por todos os grandes jornais, como O Globo, Folha e Estado de São Paulo. Não pareceu uma peça capaz de exprimir a oposição representada pelo próprio PSDB, legenda de Serra, pelo DEM e pelo PPS.
Na realidade, analisando-se tanto o conteúdo quanto a forma, psicologicamente deixou claro temer o confronto com a popularidade de Luis Inácio da Silva. “Quero ser o presidente da União – afirmou – pois o Brasil não tem dono”, e, num tom defensivista acentuou: “nos últimos 25 anos, o que inclui o atual governo, povo brasileiro alcançou muitas conquistas. Não fora, conquistas de um homem só, ou de um só governo, muito menos um único partido. Nós somos (o que inclui Lula de novo) militantes dessa transformação, protagonistas mesmo, contribuímos para essa história de progresso e de avanço do nosso país. Nós podemos nos considerar e nos orgulhar disso. E comparando os avanços em outros países e o potencial do Brasil, uma conclusão é inevitável: o Brasil pode ser muito mais do que é hoje”.
Assim falando o candidato da oposição não forneceu a ideia e a proposta de combate na ofensiva. Ao contrário, procurou suavizar a corrente do confronto. Demonstrou recear o ataque frontal capaz de entusiasmar pelo menos a militância ativa das legendas que o apóiam. Não topou enfrentar a popularidade de Lula. O presidente da República e sua candidata, portanto, agradecem a colaboração do adversário aparente.
Eleições não se vencem com um posicionamento retraído exposto no ritmo musical dado ao pronunciamento conciliador. Exige-se do candidato – de qualquer candidato, aliás – um mínimo de aguerrimento. É preciso partir para a ofensiva. Aproveitando o tom mesmo de Serra, Dilma Roussef vê crescer o espaço aberto para sua campanha nada tímida ou reticente. O ex governador de São Paulo abriu mais espaço para sua adversária além do campo que já possui.
A respeito de temas sensíveis como a política trabalhista e econômica, posição quanto à desestatização e de investimentos públicos não se referiu aos dois primeiros e foi vago relativamente ao terceiro. Classificou a carga tributária sideral, como de fato é, mas não disse o que pretende fazer para reduzi-la.
Serra, no fundo, apresentou-se muito mais como um candidato da continuidade do que da ruptura. Por isso, não entusiasmou seus próprios eleitores que inclusive nas últimas pesquisas o colocaram à frente da adversária. Se não acendeu a chama de seus correligionários, muito menos motivou parte flutuante do eleitorado que na verdade decide os desfechos nas urnas. Pareceu vacilante, dependente demais do apoio de Aécio Neves, a quem prestou todas as reverências possíveis.
Com esta atitude, passou a sensação de que seu destino no pleito depende do apoio que receber do ex governador de Minas Gerais. Esqueceu que, além de Dilma e Lula, em seu caminho terá que enfrentar –é inevitável- o peso de uma máquina administrativa há oito anos no poder. O destino de Dilma depende integralmente de Lula, é verdade. Mas i8sso não explica a atitude de esquiva. Pelo contrário. Serra revelou temor diante do choque inevitável. Não é este o tipo de comportamento que acende a chama no caminho das urnas. O eleitorado sentiu a tendência de pouca disposição para o combate. Seu discurso foi sobretudo conservador. Não poderia ter sido melhor para o Palácio do Planalto.
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