Duas reportagens publicadas na edição de 8 de abril de O Estado de São Paulo, uma assinada por Vera Rosa, outra de Luciana Nunes Leal, focalizaram mudanças nos quadros políticos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, as quais, se confirmadas, liquidam a candidatura José Serra antes mesmo do início da campanha eleitoral. Se MG se dividir entre as candidaturas de Helio Costa (PMDB) e Fernando Pimentel (PT), a oposição desaba no estado onde nasceram Juscelino e Tancredo Neves.
Dilma Roussef saiu pelas ruas de Belo Horizonte ao lado do ex-prefeito Fernando Pimentel, revelando de plano duas coisas: 1) não está disposta a apoiar Helio Costa, candidato do PMDB; 2) prefere Pimentel a Patrus Ananias. Fernando Pimentel tem a simpatia de Aécio Neves, candidato ao Senado pelo PSDB e que, portanto, está distante de Helio Costa. A manobra de Dilma surge bastante clara. Apoiando Pimentel, aproxima-se de Aécio, reduzindo seu ímpeto no apoio a Serra. Seria uma aliança PT-PSDB no segundo colégio eleitoral do país. O reflexo negativo de tal acontecimento se passar de hipótese a fato, será enorme. Bloqueia a campanha do ex-governador de São Paulo antes mesmo de começar. Eis aí um lance estratégico bem inteligente.
Enquanto Vera Rosa falou de Minas, Luciana Nunes escreveu sobre a crise aberta no PSDB no Rio com a recusa de Fernando Gabeira em aceitar a candidatura de Cesar Maia ao Senado. A reação do DEM, partido presidido pelo filho do ex-prefeito, pode culminar com o recuo de Gabeira e um rompimento que abala Serra no terceiro colégio eleitoral brasileiro.
A política é como a nuvem. O programa traçado na prancheta dos escritórios de repente muda completamente. E o principal complicador é que a possibilidade de um acordo amplo nas bases regionais entre o PMDB e o PT fica cada vez mais difícil. Principalmente em Minas, no Rio, no Rio Grande do Sul e na Bahia. Mas Minas e Rio, cindidas as bases de Serra, já são suficientes para inviabilizar a candidatura do ex-governador, apesar da solidez da candidatura de Geraldo Alckmin ao executivo estadual paulista. Mas também no estado onde se travaram lutas históricas entre Jânio Quadros e Ademar de Barros, o PT não se alia ao PMDB em matéria de candidatura ao Senado. Marta Suplicy prefere Romeu Tuma a Orestes Quércia. A unidade imaginada tornou-se inviável na prática.
Como Elio Gáspari escreveu há alguns meses, que, de 2002 até hoje, todos os candidatos a domador de Lula foram engolidos pelo urso, mais inteligente e que sabe o peso do poder. Gáspari, vale acentuar, inspirou-se num artigo magistral de Assis Chateaubriand, quando no final de 59, Jânio renunciou à candidatura presidencial para se livrar do candidato a vice escolhido pela UDN, Leandro Maciel, ex-governador de Sergipe. Jânio queria vários vices, não um só, como facultava a legislação eleitoral da época. Afastado Leandro do palco, Quadros teve o apoio de Milton Campos, UDN, Fernando Ferrari, Partido Trabalhista Renovador, e do próprio João Goulart, PTB, que assim se afastava de Lott.
O raciocínio de Gáspari foi exatamente igual ao de Chateaubriand nos Diários Associados. O urso dava a impressão –apenas a impressão- de que se deixaria dominar pelo brilho intelectual de seus assessores. No final da ópera, utilizava todos eles até o momento em que começavam a atrapalhar. E como os assessores do sonho e da fantasia atrapalham. O rumo da campanha de agora está próximo de mudar substancialmente.
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