Na edição de 7 de abril de O Estado de São Paulo, na mesma noite em que na Livraria Argumento, no Rio, lançava seu novo livro, “O Poder Pelo Avesso”, Dora Kramer focalizou em sua coluna o tema da dificuldade de, em eleições presidenciais, os candidatos conseguirem assegurar a unidade de suas bases estaduais partidárias. Citou como exemplo de complicadores os casos de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Em Minas, a confusão começa a se alastrar porque existe a candidatura do senador Helio Costa, pelo PMDB, mas o PT possui dois candidatos fortes ao governo estadual: Fernando Pimentel, prefeito cuja administração foi marcada pelo êxito em Belo Horizonte, e Patrus Ananias. Os dois teriam que se retirar da disputa para assegurar o apoio da legenda a Hélio Costa? Muito difícil chegar a um desfecho como este. A tendência inevitável será Dilma obter o apoio de Helio Costa e também do candidato que for escolhido pelo seu partido. Não tem a menor lógica a legenda abrir mão de eleger o executivo do segundo maior colégio eleitoral para se unir ao ex-ministro das Comunicações. Esta renúncia prévia, inclusive abalaria o entusiasmo dos petistas. Assim, em vez de acrescentar votos, a saída do PT da raia retiraria sufrágios da própria Dilma Roussef. Unidade impossível.
No Rio, o problema é tanto de Dilma quanto Serra. O governador Sergio Cabral já ameaçou publicamente não apoiá-la, se ela comparecer ao palanque de Garotinho. Uma ameaça grave, um ultimato. No lado do PSDB, é Fernando Gabeira que ameaça romper a aliança com o DEM se tiver que apoiar Cesar Maia para o Senado. O desabamento da base tucana no Rio seria verdadeira tragédia para José Serra, pois deixaria o terceiro maior colégio eleitoral dividido entre Sergio e Garotinho, dois, pelo menos até agora, aliados de Lula e de Dilma.
Qual será a saída para esta crise? Gabeira recuando do veto a Cesar ou então se afastando da disputa pelo Palácio Guanabara? Qualquer uma das duas significa um forte abalo para Serra. Como representará numa perda muito grande para Dilma ou a perda do apoio do ex-governador, a quem considerou, segundo matéria publicada pelo O Globo, um aliado antigo, ou perder voto do atual governador, que até agora lidera as pesquisas. Uma sombra de dúvida envolve o ambiente.
Dúvida que se estende ao Rio Grande do Sul, onde se encontram empatados o ex-ministro Tarso Genro, pelo PT, e o ex-prefeito Fogaça, pelo PMDB. Tudo indica que, no final, Dilma escolha Genro, muito mais próximo a ela por laços de amizade do que Fogaça. Na Bahia, mais um problema: como agirá Dilma na opção entre o atual governador Jaques Wagner, pelo PT, e Geddel Vieira, candidato pelo PMDB? Todas estas colocações que faço pouco antes de começar a ler “O Avesso do Poder”, integram também o poder pelo avesso, pois a imparcialidade não existe em política.
Tampouco, como disse um dia Juscelino Kubitschek, numa entrevista que fiz com ele para o velho Correio da Manhã. Candidato a presidente não pode depender dos outros para decolar. Ou decola e avança por si, deixando as alianças em segundo plano, ou termina não levantando voo e perdendo as eleições. O candidato à presidência – acrescentou – ou se afirma por si ou não se afirma nunca. Ele é que tem de ir na frente, liderando o confronto. Se tiver que ser carregado, adeus vitória. O povo detesta vacilações. JK, de fato, entendia de política a fundo. Não há quem possa negar isso.
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