Reportagem de Gerson Camaroti, Maria Lima e Isabela Martin, O Globo de 13 de abril, focaliza a viagem de Dilma Roussef a Fortaleza e reproduz declarações da senadora Patrícia Sabóia, do PDT, criticando a ex-chefe da Casa Civil por não ter convidado o deputado Ciro Gomes a acompanhá-la. Não se trata assim um aliado, disse a ex-mulher do ex-ministro.
Na capital do Ceará, Dilma recebeu medalha e diploma concedidos pela Câmara Municipal. Fica no ar a pergunta que deve ser respondida pela senadora Patrícia Sabóia ou pelo prórpiro Ciro Gomes: ele é aliado de Lula e de sua candidata, ou é, como se apresenta, candidato a presidente da República? Se é aliado de Dilma, já deveria ter assumido esta condição. Se é candidato à presidente, deveria ter feito o mesmo, após decidir seu destino com o PSB, seu partido. Dilma Roussef, nesse quadro de hipóteses, não tinha obrigação de convidá-lo, já que, se for candidato à presidência, será um adversário. Os inimigos não mandam flores, título de peça famosa de Pedro Bloch.
Ciro Gomes, em todas suas aparições nos espaços reservados ao PSB, tem elogiado o governo e o presidente Lula, aparentando, de fato, ser um aliado do Planalto. Porém, ao mesmo tempo, apresenta-se como candidato ao Planalto. Além disso, a reportagem esqueceu a mudança de seu domicílio. Não é mais eleitor do Ceará e sim de São Paulo. Por que motivo deveria ser incorporado a uma homenagem de rotina no seu ex-estado político?
Também sob este ângulo, a reclamação não encontra apoio. Primeiro, seguindo evidentemente uma orientação traçada por Lula, tentou habilitar-se ao governo de São Paulo. Isso provocou forte reação contrária nos próprios quadros petistas, tanto assim que a legenda já anunciou a candidatura do senador Aloísio Mercadante.
Contradições à parte, o que se pode traduzir do contexto no qual se situa Ciro Gomes é que ele será candidato a presidente, se as novas pesquisas indicarem que esse será o melhor caminho para ajudar diretamente Dilma Roussef. Isso porque, até agora, tanto o Datafolha quanto o Ibope e o Vox Populi acentuaram que a inclusão de seu nome nos levantamentos de intenção de voto diminui a vantagem que José Serra livra sobre Dilma Roussef. Ciro seria assim uma peça importante para o projeto político de Lula, que tem como base a vitória nas urnas de sua ex-ministra.
Ciro Gomes, sem outro caminho, senão ser candidato à sucessão, a menos que deseje ser eleito deputado, não mais pelo Ceará, mas por São Paulo, disputaria o pleito, reservando-se para apoiar Dilma no cenário do segundo turno. Pelo PSB, sozinho, não terá condições de ultrapassar nas urnas de 3 de outubro nem Dilma, nem Serra. Nesta posição, sim, seria um aliado do atual governo. Mas se as pesquisas apontarem um avanço acentuado de Roussef, sua presença na disputa deixa de interessar à estratégia do Palácio do Planalto.
A definição final somente ficará clara ( e, portanto, pública) depois da alvorada da campanha pelo calendário da Justiça Eleitoral, de acordo com a lei 9504 de setembro de 97. Pela legislação, o prazo máximo para escolha dos candidatos- todos eles- pelos respectivos partidos a que pertencem ocorre a 30 de junho. Não pode ultrapassar portanto esse prazo o esclarecimento final sobre o rumo verdadeiro de Ciro Gomes.
Dilma Roussef não cometeu erro político algum em deixar de convidar Ciro Gomes para se integrar a sua comitiva. Erro cometeu Ciro em transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo. Afinal de contas para somar para Lula, seja no primeiro, seja no segundo turno, poderia fazê-lo sem necessidade de trocar o Nordeste pelo Sul. Ficaria mais cômodo e à vontade na costa do sol e nas lindas praias do estado no qual inclusive foi governador.
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