A entrevista de Lula, comentários.
Há uma frase do Millor Fernandes que diz: “mais importante do que ser genial é estar cercado de medíocres”. Lembrei dela assistindo esta entrevista. Tirando o Joelmir Betting, que é um homem preparado, mas visivelmente recolheu o trem de pouso e quase que se restringiu à função de apresentador, os demais se mostraram limitados para o papel de entrevistar um presidente em final de mandato e que representou uma mudança de rumos estratégicos para o país. Fernando Mitre e Antonio Teles foram corretos, profissional e humanamente, mas o resto foi uma tristeza.
Diante do “apagão” geral, é natural que Lula tenha brilhado, embora pudesse ser mais enfático. Mas dê a essa observação o desconto de eu ter 31 anos e ele o dobro, e talvez seja ele quem tenha razão nisso.
Acho que se demonstrou ali que o discurso de oposição, encarnado com mais eficiência pela mídia, não tem solidez.
O discurso udenista não se sustenta, e o debate sobre o propalado “controle da mídia” mostrou isso. A exploração de que os meios de comunicação de massa são “livres” para serem explorados como quiserem seus empresários é de uma fragilidade que não sei como não rendeu um traulitada nocauteante em Boris Casoy. Essa farsa se desmonta com uma simples pergunta: algum órgão de imprensa está sendo censurado em algo? Quitanda e supermercado, que não são concessões públicas, não tem de receber fiscalização para não vender mercadoria podre ou com propaganda enganosa? Ninguém impede que os empresários criem seu conselho de ética e autoregulamentação, mas a sociedade não é obrigada, naquilo que lhe pertence, como os canais de televisão concedidos, a ficar sujeita exclusivamente às regras criadas pelos concessionários, pelos empresários.
Outra coisa que me pareceu importante é tomar cuidado com citações de números, projetos, investimentos. Isso qualquer filminho de cinco minutos faz e não fica nada na cabeça das pessoas. Ainda mais com computação gráfica, nem é preciso fazer nada de fato para mostrar obras grandiosas e pessoas felizes.
O debate é político e foi aí que Lula mostrou sua superioridade. Fugiu todo o tempo da pecha de “estatista”, “intervencionista” e “paternalista”. Mostrou ciência – e, sobretudo, convicção – do papel do Brasil no mundo, que definiu muito bem, ao final, ao mencionar o “complexo de vira-latas”. Recusou – ah, o Brizola ali… – o embate direto com as posições elitistas interpretadas por alguns dos entrevistadores e, em outros momentos, com a total falta de educação com que se portaram. O caso do Datena defendendo a exploração que a TV faz da violência – e que rende a ele bons contratos – foi um daqueles em que eu, pessoalmente, teria reagido com um trancaço merecido.
É óbvio que Lula esteve mais para o “bailarino” Mohammed “Cassius Clay” Ali do que para Mike Tyson.
Acho que a Dilma, como fazem os jogadores de futebol, deveria assistir umas dez vezes o video-tape. Não tanto para ver como jogar. Mas para ver como joga o adversário. Ver como as entradas podem ser duras e desleais. E não acreditar nessa história de que não se revidam agressões. Revidam-se, sim, mas na hora e no jeito certos.
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