terça-feira, 2 de julho de 2013

ECONOMIA - Eike Batista e a BOVESPA.


Mais um escândalo na Bolsa e na CVM – a descarada proteção a Eike Batista


Carlos Newton
As ações de Eike Batista estão derretendo e vale a pena fazer alguma observações sobre a Bolsa, a partir de Mr. Magoo, um personagem de desenhos animados. Era cego, os anjos sempre lhe protegiam e, no final, tudo dava certo. No mercado financeiro e de capitais, também existem os Mr. Magoo. E dentre eles, há aqueles que nada veem; aqueles que veem, mas fingem que não veem; e, finalmente, aqueles que não podem ver, os piores cegos.
“O Ibovespa é o índice mais conhecido do mercado financeiro brasileiro. É calculado e divulgado pela Bolsa de Valores de são Paulo (Bovespa), sem interrupção, desde 1968, não tendo sua metodologia jamais sofrido nenhuma descontinuidade. O processo de seleção das ações obedece ao critério estabelecido pelo índice de negociabilidade. Assim, para compor a carteira, são consideradas as ações mais transacionadas em termos de volume financeiro nos 12 meses imediatamente anteriores à data de atualização da carteira. Esse processo é realizado a cada quatro meses, com a divulgação da nova carteira teórica ocorrendo sempre no primeiro dia útil dos meses de janeiro, maio e setembro. O Índice Bovespa procura medir o comportamento geral de investimento no mercado de ações. A Bovespa calcula e divulga, em tempo real, os valores instantâneos do índice de abertura, máximo, mínimo, médio, de fechamento e de liquidação” – diz a própria BM&F/BOVESPA.
AS VANTAGENS DO ÍNDICE
Portanto, toda companhia aberta almeja que suas ações componham o índice Bovespa. No momento em que uma companhia é selecionada para que suas ações integrem o índice, isto aumenta sobremaneira a liquidez dos ativos, porque os investidores e poupadores individuais (estrangeiros, nacionais, grandes, médios e pequenos) podem, a partir daí, comprar o papel à vista e venderem índice, para, assim, hedgearem as suas operações.
O Hedge, como o próprio nome diz – proteção ou cobertura -, é uma operação que tem por finalidade proteger o valor de um ativo contra uma possível redução de seu valor numa data futura ou, ainda, assegurar o preço de uma dívida a ser paga no futuro. Esse ativo poderá ser o dólar, uma commodity, um título do governo ou uma ação. Os mercados futuros e de opções possibilitam uma série de operações de hedge.
Por que toda companhia aberta almeja que suas ações integrem o índice Bovespa? No momento em que determinada ação foi selecionada para compor o índice Bovespa, o investidor pode proteger o valor desta ação contra uma futura redução vendendo índice. Exatamente por isso, por que essas ações, depois de comporem o índice Bovespa, passam a ter um risco menor para o comprador, em virtude d’eles poderem hedgear a compra delas vendendo índice, é que a liquidez delas aumenta, em razão direta do aumento na procura por essas ações, integrantes do Ibovespa.
MAIS UM ESCÃNDALO
Uma vez explicado o que tinha que ser explicado, agora vêm o escândalo, que espanta tantos quantos dele têm notícia!
Há dois anos, aproximadamente, a OGX conseguiu que suas ações fossem selecionadas pela BM&FBOVESPA para compor o Ibovespa. Ponto para Eike Batista, que conseguiu, como num passe de mágica, aumentar, exponencialmente, a liquidez das ações de sua empresa “X” e construir um castelo. Com as ações compondo o Ibovespa, milhares de investidores estrangeiros e nacionais foram incentivados a adquirirem suas ações na bolsa, engordando, assim, o porquinho das empresas de Mr. X.
Ora, quem iria duvidar da pujança das empresas X se elas compunham o índice da BM&FBOVESPA? Em qualquer Bolsa séria no mundo, as ações que compõem seus índices não prometem simplesmente pujança. São pujantes. E só integram o índice depois de uma análise profunda e técnica, muito comemorada por aqueles – uns poucos – que conseguem alçar o nome de suas empresas ao Olimpo das finanças, o Índice.
Mas o castelo de Mr. X era – e sempre foi – de papel.
EIKE DESABANDO
De lá para cá, ou seja, nos últimos dois anos, a OGX batia R$ 18,21, subiu a R$ 20,00, depois que passou a compor o Ibovespa, e, hoje, enquanto escrevo, está cotada a míseros 0,50 centavos de Real. Caiu, em um dia, mais de 35,00%.
Mas o pior não é isso. O pior é que a BM&FBOVESPA, assiste passivamente a derrocada! Ao invés de reavaliar a OGX  e retirá-la do índice (o que já poderia ter feito em Janeiro e Maio), há 3 meses, a BM&FBOVESPA aumentou o peso da OGX no índice Ibovespa. Brincadeira? Não, realidade! As bolsas do mundo inteiro sobem hoje e a Bovespa cai (agora está a -0,59%), por causa das ações de Mr. X, que continuam a compor o Ibovespa, com um peso ainda maior.
A BM&FBOVESPA não é cega. Ela apenas não pode ver! A Comissão de Valores Mobiliários, Xerife do Mercado, também não é cega. Ela apenas finge que não vê (estar diante do maior escândalo financeiro de fraude do País), postando-se omissa e nada fazendo para suspender a negociação destas ações, com vistas a estancar os milionários prejuízos dos investidores!
O que me espanta, entretanto, é que até eu, que não sou jornalista especializado em economia, vejo! Onde estão os jornalistas investigativos que entendem de economia? Será que nada há a indagar a CVM e a BM&FBOVESPA sobre o assunto?
Ou será que só o farão depois que a OGX virar pó, afetando a credibilidade de uma das maiores bolsas do mundo e de seu índice?
Sorte da CVM e da BM&FBOVESPA que os manifestantes de hoje, que estão na rua, em sua maioria, não entendem dessas complexas maquinações econômicas. Caso contrário, certamente, cabeças iriam rolar! Resta-nos rezar, para que o povo brasileiro, o verdadeiro Mr. Magoo, aquele que não vê porque não vê mesmo, continue a ser protegido pelos anjos.

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