Pedro do Coutto
As recentes pesquisas do Datafolha sobre a queda verificada na aprovação da presidente Dilma Rousseff, dos governadores Sérgio Cabral e Geraldo Alckmim, e dos prefeitos Eduardo Paes e Fernando Haddad refletem não somente insatisfação popular, mas também significam uma cobrança dos governantes para solucionar, ou pelo menos adotarem providências concretas para iniciarem um encaminhamento efetivo. Este, sem dúvida, é o conteúdo das mensagens a respeito dos que concentram em suas mãos e pensamentos as engrenagens do poder. Do poder de resolver. Assim, para que possam reverter a tendência declinante têm todos eles a necessidade de iniciarem um processo de recuperação, que não se constituirá em tarefa fácil.
O plebiscito, no plano
federal, destinado a provocar uma situação de impacto, pode não ser
suficiente. O eleitorado pode definir algumas de suas vontades no campo
político. Mas isso não será suficiente: a angústia da sociedade não se
encontra nesse ponto da questão. Encontra-se na saúde, educação,
creches, transporte, saneamento, seguridade pública. Pois não será
decidindo-se sobre o sistema eleitoral ou a respeito da forma de
financiamento das campanhas que, em consequência, os hospitais vão
funcionar mais e melhor.
A pesquisa do Datafolha,
objeto de reportagem de Cássio Bruno e Sílvia Amorim na edição de O
Globo de terça-feira (a Folha de São Paulo publicou na véspera)
expande-se ao plano eleitoral. Em São Paulo, diminuiu a margem de
Alckmim sobre Paulo Skaf, presidente da FIESP, possível candidato do
PMDB. No Rio de Janeiro, Lindbergh Farias alcançou 17 pontos, Garotinho
15, Cesar Maia também 15 e Luiz Fernando Pezão 8%.
A presidente Dilma Rousseff, em evento na Rocinha, antes do vendaval
de manifestações, destacou a atuação do vice-governador. Parecia o
início de superação da candidatura de Lindbergh pelo PT. Agora, o
panorama pode ter mudado. As quedas de aprovação e os percentuais de
intenção de votos, pelo menos, levarão a uma revisão ou à adoção de um
tempo maior para a presidente opinar. Pois ela se encontra numa fase
marcada por um esforço de recuperação, não podendo abrir nenhum flanco
capaz de refletir contrariamente ao trabalho que desenvolve em busca do
terreno perdido no momento.
RETRAIMENTO
Mas se sob o ângulo político,
a fase é de retraimento, a do atendimento das reivindicações legítimas
deve ser de expansão. Já deveria inclusive ter se iniciado. A partir d
onde? É a pergunta. A dificuldade de resposta não deve servir de
obstáculo. Afinal na vida tudo começa num momento e num ponto. Em minha
opinião, os setores urgentes são a saúde e o transporte em face de
poderem proporcionar reflexos prontos na vida da população. Pois tanto
a doença quanto a locomoção são desafios diários. Ninguém tem hora
estabelecida para buscar socorro médio. Em contrapartida, as grandes
massas têm hora para chegar ao trabalho.
Os governos federal, estaduais
e municipais precisam se articular. Não apenas, como ocorreu,
encontrarem-se no Palácio do Planalto, mas adotarem soluções conjuntas
efetivas. Somente assim vão poder encontrar-se diariamente com milhões
de seres humanos que continuam aguardando respostas para o que pedem. E
o que não é muito, comparando-se as obrigações de que estão investidos
os poderes públicos. As respostas contidas no levantamento do Datafolha
acentuam um emperramento. Na Justiça, por exemplo, ações demoram mais
de dez anos. Operações em hospitais públicos dez meses, na melhor das
hipóteses. Os atos de corrupção e superfaturamento de preços são
concretizados em poucos dias. Os governos precisam agir. As quedas de
suas aprovações são a melhor prova de uma amarga realidade.
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