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Luis Nassif- o governo Dilma afastou-se do PT, dos movimentos populares, dos sindicatos, da blogosfera, sem conseguir a aliança com os partidos conservadores e com a mídia.
- O PT perdeu o sentimento das ruas, dos movimentos sociais, burocratizou-se e deixou de se reinventar. Quando atira em Dilma, acerta no próprio pé. Mas atira em off, porque sabe que qualquer cobrança em relação a Dilma suscitará cobranças em relação às lideranças do próprio partido.
- A oposição também não pode tirar sua casquinha. É mais refratária a colaborações externas do que o próprio governo federal ou o próprio PT. Nos três principais estados do país, os governadores saíram igualmente desgastados no enfrentamento das manifestações de rua. O grupo de oposição que conta – Aécio, Eduardo e FHC – age com cautela, mas não tem sido propositivo: limita-se a criticar o que vem do Executivo. O que não conta – Serra e afluentes -, não conta.
- Os jornais envelheceram tanto quanto as instituições e as emissoras de TV têm sido alvos de represálias de manifestantes. Interessa aos grupos de mídia derrotar Dilma nas próximas eleições, mas não provocar a tomada de Bastilha.
- A representação empresarial e sindical também está em xeque. O presidente da maior Federação de Indústrias do país a utiliza como plataforma política pessoal; o mesmo ocorre com o presidente da segunda maior central sindical, a Força Sindical.
Fato 3 – No quadro atual, as demandas políticas estão postas à mesa. Não dá mais para explorar o sentimento de insatisfação com demandas pontuais, confiando na fragilidade dos governantes. Mais fragilidade não resultará em mais concessões, mas em crise.
Por tudo isso, o momento é baixar a fervura e dar tempo aos governos – Federal, estaduais, municipais -, aos demais poderes, aos movimentos online e de rua, para sentarem e planejar os novos tempos.
Qualquer governante com um mínimo de lucidez já se deu conta da importância da transparência, da criação de modelos de prestação de contas online, da abertura para as redes sociais e para maior participação.
Que se lhes dê para mostrar o novo estilo. Haverá possibilidades de sobra para punir os que não entenderam os novos tempos nas eleições de 2014.
Governo Dilma – terá que mostrar os instrumentos institucionais e o novo estilo para se abrir ao diálogo com a sociedade, a reforma ministerial e as iniciativas na área digital.
PT – Terá que se reinventar, recuperar a interlocução com os governos federal e de São Paulo, mostrar capacidade de superar o aparelhamento do Estado, extirpar as práticas negativas na prefeitura e de trazer novas ideias políticas.
Oposição – terá que mostrar que não quer colocar lenha na fogueira e acelerar a apresentação de propostas, além de providenciar mudanças no modo de gestão dos estados que governa. Tem que se apresentar para um pacto nacional, como comprovação de responsabilidade.
Demais poderes - STF, PGR e demais poderes têm que vir a público mostrar sua contribuição não apenas ao tema da reforma política, como também na questão da transparência interna.
Centrais sindicais – qual a lógica da greve de segunda? Não sei. Há dois caminhos para as centrais: apresentarem-se como interlocutoras do governo, sabendo que, mais do que nunca, Dilma terá que refazer sua base de apoio político e popular; ou colocar lenha na fogueira para alimentar uma situação em que nada tem a ganhar.
Em suma, há dois caminhos pela frente: o Jogo do Perde-Perde, em que todas as instituições organizadas trocam tiros entre si; ou o Jogo do Ganha-Ganha, em que se fecha um pacto, tácito que seja, para que todos eles se preparem para os novos tempos.
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