PUTIN: "VOCÊS NÃO SÃO EXCEPCIONAIS".
Achei sensacional o que o Putin escreveu. Deu porrada no Obama com "luvas de pelica". Mostrou ao mundo a arrogância americana.
Deu uma aula sobre o que acontece na Síria e mostrou a hipocrisia americana quando fala em "guerras humanitárias". O que Putin escreveu é para ser guardado.
Para
Obama, o pior é ter que enfrentar a partir desse episódio o
fortalecimento da liderança russa com seu líder falando em paz e amor
enquanto ele fala em bombas e foguetes.
Os recentes acontecimentos relacionados à Síria levam-me a
dirigir-me diretamente ao povo norte-americano e aos seus líderes
políticos. É importante que o faça, num momento em que não há suficiente
comunicação entre nossas sociedades.
Nossas relações passaram
por diferentes etapas. Enfrentamo-nos durante a Guerra Fria, mas também
fomos aliados uma vez e juntos derrotamos os nazistas. Criou-se então a
Organização das Nações Unidas, para evitar voltasse a acontecer tal
devastação.
Os fundadores das Nações Unidas perceberam que as
decisões que afetam a guerra e a paz devem ser tomadas sempre por
consenso e, com a anuência dos Estados Unidos, o direito de veto dos
membros permanentes do Conselho de Segurança está consagrado na Carta
das Nações Unidas. A profunda sabedoria que se condensa nesse
dispositivo tem servido de base, há décadas, para a estabilidade das
relações internacionais.
Ninguém deseja para a ONU o destino que
teve a Liga das Nações, que entrou em colapso porque não tinha
influência real. Mas é o que pode acontecer, se os países influentes
ignorarem a ONU e decidirem por ação militar sem autorização do Conselho
de Segurança.
O potencial ataque dos EUA contra a Síria, apesar
da forte oposição de muitos países e dos principais líderes políticos e
religiosos, incluindo o Papa, fará ainda mais vítimas inocentes e levará
a uma escalada do conflito, que se espalhará para além das fronteiras
da Síria. Esse tipo de ataque pode aumentar a violência e desencadear
uma nova onda de terrorismo. Pode minar os esforços multilaterais para
resolver a questão nuclear iraniana e o conflito entre israelenses e
palestinos e desestabilizar ainda mais o Oriente Médio e Norte da
África. Pode quebrar o equilíbrio do sistema da lei e da ordem
internacional.
O que a Síria vive hoje não é batalha por
democracia, mas conflito armado entre o estado e grupos opositores, em
país multirreligioso. Na Síria há poucos defensores de alguma
democracia. Mas, sim, há em muito maior número milícias da Qaeda e
extremistas de todas as falanges, que combatem contra o estado. Os EUA
classificaram como organizações terroristas a Frente Al-Nusra e o Estado
Islâmico do Iraque e do Levante, que lutam com a oposição, contra o
estado sírio. Esse conflito externo, alimentado por armas que
estrangeiros fornecem à oposição, é dos mais sangrentos do mundo.
Ali
lutam mercenários vindos de países árabes e centenas de milicianos de
países ocidentais, inclusive da Rússia, o que muito nos preocupa. E se
voltarem para nossos países, com a experiência adquirida na Síria. Já se
sabe que, depois de agirem na Líbia, muitos extremistas mudaram-se para
o Mali. Tudo isso é ameaça contra todos nós.
Desde o início, a
Rússia advogou a favor de diálogo pacífico que capacitasse os sírios a
desenvolver um plano para seu próprio futuro. Não estamos protegendo o
governo ou o estado sírio, mas a lei internacional. Precisamos usar o
Conselho de Segurança da ONU e acreditamos que preservar a lei e a ordem
no mundo complexo e turbulento em que vivemos é um dos poucos modos que
há para impedir que as relações internacionais deslizem para o caos. A
lei é a lei, e temos de segui-la, gostemos ou não.
Nos termos da
lei internacional vigente, permite-se o uso da força só para autodefesa
ou por decisão do Conselho de Segurança. Qualquer outra coisa é
inaceitável nos termos da Carta da ONU e constitui ato de agressão.
Não
há dúvidas de que foi usado gás venenoso na Síria. Mas tudo faz crer
que não foi usado pelo Exército Sírio, mas por forças da oposição, para
provocar uma intervenção conduzida pelos seus poderosos patrões
estrangeiros, os quais, assim, estariam em aliança com os
fundamentalistas. Relatos de que milícias preparam outro ataque – dessa
vez contra Israel – não podem ser ignorados.
Causa alarme em
todo o mundo que a intervenção em conflitos internos em países
estrangeiros tenha-se convertido em ação corriqueira para os EUA. Isso
atende aos interesses norte-americanos de longo prazo? Duvido. Milhões
em todo o mundo cada vez mais passam a ver os EUA não como modelo de
democracia, mas como nação que só se serve da força bruta e que depende
de coalizões mal costuradas sob o slogan “ou estão conosco ou estão
contra nós”.
Mas a violência já se provou inefetiva e sem
sentido. O Afeganistão gira em falso e ninguém pode prever o que
acontecerá depois da retirada das forças internacionais. A Líbia está
dividida em tribos e clãs. No Iraque, prossegue a guerra civil, com
dúzias de mortos todos os dias. Nos EUA, já há quem trace uma analogia
entre Iraque e Síria e já se pergunte por que seu próprio governo
desejaria repetir erros recentes.
Não importa o quanto os
ataques sejam focados, nem o quão sofisticado sejam as armas, as baixas
civis são inevitáveis, inclusive idosos e crianças, os mesmos que os
ataques visariam a proteger.
O mundo reage. Se ninguém mais
puder confiar na lei internacional, nesse caso passa a ser indispensável
encontrar outros meios para garantir a autossegurança. Por isso, um
número crescente de países busca comprar armas de destruição em massa. É
lógico: se se tem a bomba, ninguém toca em você. E resta a urgência
para reforçar a não proliferação a qual, na realidade, está sendo
erodida.
Temos de parar de usar a linguagem da força. Temos de retomar o caminho da discussão diplomática e política civilizada.
Nos
últimos dias, emergiu uma nova oportunidade para evitar ação militar.
EUA, Rússia e todos os membros da comunidade internacional devem
aproveitar a disposição do governo sírio, que aceitou pôr seu arsenal
químico sob controle internacional para depois ser destruído. A julgar
pelas declarações do presidente Obama, os EUA veem aí uma alternativa à
ação militar.
Acolho como bem-vindo o interesse do presidente em
continuar o diálogo com a Rússia, sobre a Síria. Temos de trabalhar
juntos para manter viva essa esperança, como concordamos fazer, em
junho, na reunião do G-8 em Lough Erne na Irlanda do Norte. E trazer a
discussão de volta na direção de mais negociações.
Se pudermos
evitar o uso da força contra a Síria, melhorará a atmosfera nos assuntos
internacionais e se fortalecerá a confiança mútua. Será sucesso
partilhado, que abrirá as portas para a cooperação em outras questões
críticas.
Minhas relações pessoais e de trabalho com o presidente Obama são marcadas por confiança crescente. Gosto disso.
Examinei
atentamente a fala do presidente à nação, na 3ª-feira. E tenho de
discordar da defesa do excepcionalismo norte-americano. O presidente
disse que a política dos EUA é o que “faz diferentes os EUA, o que nos
faz excepcionais.” É extremamente perigoso estimular as pessoas a que se
vejam, elas mesmas, como diferentes, seja qual for a motivação.
Há
países grandes e países pequenos, ricos e pobres, os que têm longas
tradições democráticas e os que ainda têm de encontrar as próprias vias
até a democracia. As respectivas políticas também diferem. Todos somos
diferentes. Mas quando pedimos que Deus nos abençôe, ninguém pode
esquecer que Deus nos criou, todos, iguais.
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