quarta-feira, 12 de novembro de 2008

CONSTITUIÇÃO SEM COMUNICAÇÃO.

Mario Augusto Jakobskind.


A Constituição brasileira completou 20 anos de vigência. Algumas revisões, sempre prejudiciais aos trabalhadores, forma feitas na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os meios de comunicação lembraram da Constituinte cidadã, mas simplesmente omitiram a parte referente à área de comunicação. Ou seja, as comissões que cuidaram dos mais variados temas chegaram a um consenso e apresentaram relatórios posteriormente votados em plenário.

A única comissão em que não houve consenso e não apresentou relatório foi exatamente o da comunicação. O lobie dos barões da mídia pressionou o Parlamento para evitar algum tipo de mudança que resultasse na democratização dos meios de comunicação. Os barões da mídia não querem em hipótese alguma perder a boca rica em que estão montados, o que é prejudicial à imensa maioria do povo brasileiro. No governo Lula, tudo continua como antes. A legislação do setor, com um ou outro enxerto e nada favorável à democratização da comunicação, permanece a mesma de 1962. Há 46 anos o Brasil era um outro país, da mesma forma que o mundo da comunicação.

Como os poderosos tudo podem sem questionamentos, os veículos de comunicação no Brasil continuam fazendo o que bem entendem em matéria de manipulação da informação. Qualquer questionamento é respondido com falsos argumentos, do tipo, “defendemos a liberdade de expressão e de imprensa”, quando acontece exatamente o contrário, ou seja, o que se quer é a ampliação dos espaços midiáticos, ou seja, mais liberdade. Os barões da mídia misturam as bolas, isto é, confundem liberdade de imprensa com liberdade de empresa.

O sistema digital que está sendo implantado no país poderia ser verdadeiramente uma revolução no setor, mas graças a uma série de imposições dos barões midiáticos, os brasileiros estão perdendo mais uma vez a oportunidade histórica de verem ampliados os espaços eletrônicos em favor da coletividade.

Neste momento, o governo já disponibilizou cerca de seis milhões de reais para a realização, ainda este ano, da Conferência Nacional de Comunicação. Até agora nada, pois as pressões pela não realização do evento são grandes. Se não realizada, o dinheiro volta para o “cofre”. E, vejam bem, não é que a Conferência vá resultar efetivamente em mudanças, mas é um passo relevante para a discussão de problemas do setor e traçar estratégias. Tudo que os proprietários dos veículos de comunicação não querem.

Para avançar será necessário que a sociedade participe da mobilização em favor da mudança da legislação que já caducou e exija que a área de comunicação seja de fato democratizada. Sem isso, tudo continuará como hoje, os poderosos fazendo cabeças, ou deformando as cabeças, sem questionamentos. O sistema digital que o Ministro Helio Costa é entusiasta, da forma como está sendo implantado, só favorece os de sempre. Na área radiofônica, Costa está facilitando o jogo das grandes emissoras, ou seja, tenta implantar, sem discussões, um sistema vigente nos Estados Unidos, o Iboc (In-Band-On-Channel), caro e que resultará na prática no alijamento das rádios comunitárias, que não terão condições financeiras para ingressar no sistema.

Em síntese é isso que está acontecendo no setor de comunicação. Do governo Lula se esperava muito mais do que a submissão aos interesses dos barões da mídia. Até que no início parecia que seria dada a oportunidade para a implantação de um sistema digital baseado em técnicas desenvolvidas em universidades brasileiras, que se fosse adotado resultaria numa verdadeira revolução. Como as pressões foram grandes, o que foi feito em matéria de estudos e analiseis jogou-se no lixo, prevalecendo o que interessa aos barões midiáticos, para levá-los ao lucro fácil.

Na verdade, se o setor continuar como está, mais cedo ou mais tarde o Brasil acabará consolidando um gangsterismo midiático que pode desembocar num esquema do gênero Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro italiano que hoje governa junto com os fascistas. E aí, sabem o que acontece? A mídia silencia sobre fatos escabrosos, como aconteceu nestes dias em Roma quando a tevé pública, a Rai, foi invadida e depredada por neofascistas após ter divulgado imagens de camisas pretas espancando jovens em uma manifestação estudantil sob o olhar complacente da polícia.

Por aqui, por enquanto, o esquema se resume à manipulação da informação. Que o diga Ali Kamel, já que este diretor de jornalismo da Rede Globo, segundo denúncias de espiões benignos, controla com mão de ferro, entre outros, o noticiário em torno de José Serra, o candidato preferencial da emissora à sucessão de Lula. Ou seja, o trabalho dos repórteres e editores no contexto Serra precisa ser submetido a Kamel antes de ser colocado no ar. Podem imaginar o que sai e o que não sai.

É essa a democracia que os barões midiáticos e seus prepostos querem manter a todo custo.
Vale desafiar Kamel a negar este informe.
Fonte: Direto da Redação.

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