sábado, 1 de novembro de 2008

ENTREVISTA - José Dirceu.

ALEANDRO FORTES, MINO CARTA E SERGIO URIO

José Dirceu deixou a chefia da Casa Civil há 40 meses. Desde então, segundo ele, toca sua vida sem se meter em assuntos do governo. O ex-ministro recusa-se a dizer que tipo de consultoria presta nemquem são seus clientes, mas garante que nenhum deles o procura em busca de facilidades em Brasília. "Não faço lobbY:'

O ex-homem forte do Planalto, o dirigente que tornou possível a eleição de Lula em 2002, parece mais atuante do que nunca quando se analisam as recentes operações da Polícia Federal. De forma direta ou indireta, Dirceu aparece associado a diversas investigações, das negociatas da MSI-Corinthians à Satiagraha, contra o banqueiro Daniel Dantas. "Há mais de oito meses minha vida vem sendo devassada. E não há nada contra mim. Nada", afirma durante-a entrevista à CartaCapital em seu escritório, um sobrado de dois andares em São Paulo.

No caso da Satiagraha, paira sobre o ex-ministro a suspeita de participar da tentativa de impedir que Dantas fosse preso. Há dois episódios específicos. Um deles, citado no relatório do delegado Protógenes Queiroz, é o encontro com o ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh em um hangar da TAM em Brasília. Greenhalgh, codinome "Gomes" nesta operação salva-banqueiro, foi contratado pelo Opportunity e na época em que se encontrou com Dirceu movia-se desesperadamente em busca de informações sobre a investigação da PF. "Não tratamos do Dantas. O encontro foi para falar da situação do Cesare Battisti", garante o ex-ministro.

Em tempo: Battisti é um assassino italiano preso no Brasil que se apresenta como militante de grupos de esquerda. O governo da Itália pede sua extradição. Integrantes do PT tentam impedir que ele seja extraditado.
O outro episódio, relatado na edição 513 de CartaCapital, é a convicção de investigadores federais de que Dirceu soube da operação contra Dantas por intermédio do atual diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa. Ambos estiveram no Marrocos no mesmo período e teriam se encontrado lá. Corrêa então informou ao exministro da Satiagraha. "Isso é infame, é mentira'; rebate.

Não é de hoje que o nome de Dirceu aparece associado ao de Dantas. As citações remontam ao tempo do chamado mensalão.

Á época, Carta Capital colheu relatos de dirigentes e parlamentares do PT, juízes e empresários sobre as intervenções do ministro, depois deputado federal cassado, a favor do banqueiro. Um desses relatos foi revelado recentemente por Mino Càrta em sua página na internet (blogdomino.com.br).

O então diretor-geral da PF Paulo Lacerda, atualmente afastado do comando da Abin, contou ter recebido pressões de autoridades durante a Operação Chacal, que também alvejou o Opportunity. Mino perguntou se Dirceu era uma dessas autoridades. Lacerda disse que sim.

O ex-ministro nega qualquer relação com Dantas. Ou com Marcos Valério. Ou com qualquer assunto que diga respeito ao Opportunity. Assim caminhou a entrevista, realizada na tarde da terça-feira 28. Carta Capital fez as perguntas que queria. Dirceu respondeu-as como achou melhor.

CartaCapital: O senhor tem se alinhado ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, nas críticas à Operação Satiagraha. Também acredita na existência de um "Estado policial"?

José Dirceu: Ao contrário. O País vive em uma democracia. Apesar das deformações ainda existentes, talvez tenhamos cMgado ao momento mais democrático do Brasil. Acabamos de ter eleições. Sempre apoiei e continuo apoiando as operações da Polícia Federal, inclusive a Satiagraha. Mas sempre vou me insurgir contra a violação dos direitos individuais, contra a negação da presunção de inocência do devido processo legal. Não podem invadir meu escritório em urna operação paralela de autoridade policial. Um juiz não pode dar autorização ao pedido de um delegado e de um promotor para quebrar meu sigilo bancário e telefônico durante três meses e eu ficar sabendo pela imprensa. Meu nome não aparece uma vez no inquérito, não participo de nenhum telefonema captado pelas escutas. Não satisfeitos em quebrar o meu sigilo telefônico, quebraram o do meu escritório de advocacia, de um assessor meu, da rninh~ namorada. E tudo isso vaza para a imprensa, o que é mais grave.

CC: O senhor se refere à Satiagraha?

JD: Venho sendo investigado sistematicamente. No caso da investigação do BNDES (Operação Santa Tereza, que investigou supostos desvios de financiamentos do banco estatal), bastou o assessor do prefeito de Praia Grande, governada pelo PSDB, partido adversário ao meu, dizer em uma conversa interceptada que "essa turma do BNDES é ligada ao Zé Dirceu e vão querer levar participação" para eu ser tratado durante semanas, na imprensa, como partícipe de um esquema de corrupção. Aí vem a história do Bejani (Carlos Alberto, prefeito de Juiz de Fora acusado de desviar recursos do Fundo de Participação dos Municípios). Durante todo o período a notícia é de que vou ser preso. O Bejani foi minuciosamente investigado. Tinha escuta na casa dele, na prefeitura. Os volumes do inquérito enchem esta sala. Não sou citado uma única vez. Mas aí em uma conversa interceptada, o Bejani diz que estava indo a Belo Horizonte assinar um convênio de 70 milhões de reais e me encontrar, e eu viro alvo novamente. O diálogo vaza para a revista Época à tarde e é desmentido logo em seguida porque os estudantes que me pegaram no aeroporto para uma palestra ficaram o tempo todo comigo e podem testemunhar que não me encontrei com o Bejani. O advogado do prefeito desmente, mas, mesmo assim, à noite, a notícia sai no Jornal Nacional como se eu estivesse envolvido na liberação desse convênio de 70 milhões. Para completar esses oito meses, vem a Satiagraha e meu nome volta à baila.

CC: Mas, no caso da Satiagraha, há o fato de sua namorada, que trabalha no Palácio do Planalto, ter marcado um encontro com Luiz Eduardo Greenhalgh (ex-deputado do PT contratado pelo banqueiro Daniel Dantas) em um hangar da TAM no aeroporto de Brasília?

JD: E tem algo de anormal eu me encontrar com o Greenhalgh?

CC: Quando saiu aquela famosa matéria da Folha de S.Paulo, em abril, anunciando a existência da Satiagraha, o Greenhalgh começou a se movimentar atrás de informações a respeito. Falou com muita gente. E se encontrou com o senhor. O que exatamente vocês conversaram?

JD: Vou mostrar sobre o que fui falar com ele (ameaça sair da sala e recua). Falamos do caso do Cesare Battisti (italiano preso no Brasil acusado de assassinatos em seu país e que tenta evitar sua extradição por supostamente ter cometido os crimes em nome da luta política). Quando estive em Paris, fui procurado por um deputado socialista, advogado do Battisti. Ele me entregou uma carta de seu cliente. E aí me encontrei com o Greenhalgh. Mas, mesmo que não fosse isso, não há nada na Satiagraha que envolva o meu nome. Nada. A não ser uma coisa gravíssima. Como é grave o juiz ter autorizado a quebra do meu sigilo telefônico. Foi abuso de autoridade. O Humberto Braz liga para um tal Giba e fala sobre Andréa, a secretária dele. O Giba é o assessor do Braz. Falam sobre um tal “ele”, sobre algo no meio ambiente, sobre uma consultoria paga 50% e 50% sobre uma conta-curral. Quem vira Giba? O Gilberto Carvalho. E o Gilberto Carvalho é ligado a quem? Ao José Dirceu. É ridículo dizer isso. Qualquer pessoa no Brasil diria que o Gilberto Carvalho é ligado ao Luiz Inácio Lula da Silva. É uma questão de hierarquia. Depois, a Andréa vira a Andréa Michael, jornalista da Folha de S.Paulo e “ele” sou eu. Um absurdo.

CC: Do que tratou mesmo na conversa no hangar da TAM?

JD: Da questão do Cesare Battisti e da invasão ao meu escritório. Nem sabia que o Greenhalgh advogava para o Dantas. Eu vi o Luiz Eduardo uma vez neste ano, naquela ocasião. No ano passado, eu o encontrei três vezes. E aí fizeram toda essa relação.

CC: Ela não chega a ser absurda. Se o Greenhalgh trabalha desesperadamente para obter informações sobre o caso Dantas, mobiliza várias pessoas, e também o procura na mesma época, não é cabível relacionar os fatos?

JD: Não. Para tirar conclusões, é preciso estar nos autos, no inquérito. Na Satiagraha, no caso do BNDES, no do ~ Bejani, não há nada contra mim. Meu nome não é citado entre os investigados. A Satiagraha não é a investigação mais completa sobre o Daniel Dantas? Então, qualquer conexão minha com ele deveria ter aparecido. Há oito meses sou investigado neste País. Sofri uma devassa da Receita Federal durante 17 meses. Foram cinco anos da minha vida. Não acharam nada. Na CPI dos Correios, não sou só eu que não está citado. Nem o PT e nem o Silvio Pereira, acusados de organizar um esquema de corrupção lá.

Caso Valdomiro Diniz? São duas investigações, dois inquéritos, duas CPIs. Existe processo e não sou citado. Santo André? Nunca paguei um mico igual na vida. Aquela história de que tinha recebido 1 milhão e 200 mil reais. O que aconteceu? O irmão do Celso Daniel, que havia me acusado, se retratou em juízo. Sabe o que aconteceu com o processo, porque a CartaCapital principalmente, que tem feito uma série de acusações contra mim, tem de saber dos fatos. Eu processei o irmão do Celso Daniel por calúnia. Levei um ano e meio para levá-Io à primeira audiência. Sabe o que o juiz decidiu? Que eu tinha de depor. Isso é o Brasil. Essa é a Justiça do Brasil. E eu tive de ir aos tribunais superiores. Ele foi depor e se retratou.

CC: Voltando ao encontro do Greenhalgh. Ele procurou o Sigmaringa Seixas para falar do Dantas. Procurou o senador Herádito Fortes para falar do Dantas. Entra em contato com o Gilberto Carvalho para falar do Dantas. E entra em contato para fazer um encontro ...

JD: Não é fazer um encontro. 'Eu estava chegando de viagem. Tenho direito de viajar como eu quero. Sei o que conversei com o Luiz Eduardo. E não foi, porque não tenho motivo para conversar com ninguém, sobre o Daniel Dantas.

CC: O senhor nunca teve nenhuma ligação com o Dantas?

JD: Nenhuma.

CC: O que o senhor pensa a respeito do Daniel Dantas?

JD: Minha opinião está no meu blog. Sempre foi pública. Sou contra as privatizações do governo FHC. Quando chegamos ao governo, fui eu que falei da herança maldita. O governo Lula tomou a decisão de não fazer investigação. A orientação que recebi do presidente foi: denúncia política, sim, mas não investigações. O Dantas tem de responder pelos atos que praticou na Justiça, como está respondendo. Eu nunca o defendi. Fui investigado ilegalmente pela Kroll. Meu nome está naquele dossiê falso de contas no exterior a que Veja teve acesso e disse ter sido entregue por ele. Se fui alvo, vítima, nestes casos, como poderia ser aliado do Daniel Dantas?

CC: Um grande amigo seu, o advogado Kakay (Antonio Carlos de Almeida Castro), foi advogado do Dantas.

JD: Não tem coisa mais infame. Por causa da relação de parentesco ou de amizade, relacionar os fatos. Eu não respondo pela advocacia do Kakay. Ele não me consultou para ser advogado do Dantas.

CC: Mas um dos talentos do Dantas é tentar se aproximar do poder de todas as maneiras possíveis.

JD: Mas aproximação se o processo é penal? O Kakay nem sabe desse assunto.

CC: Mas a questão não é essa. É de aproximação com ogovemo.

JD: Mas o que ele iria querer? O que o Dantas esperava do governo do presidente Lula? É notório que havia outra opinião sobre as privatizações e sobre a política de telecomunicações do Brasil.

CC: Ele também tentou usar o Marcos Valério para se aproximar.

JD: É outro problema. Nunca conversei com o Marcos Valério. Ele dizia que eu era inimigo dele. Não há nada que me ligue a ele. .

CC: Quantas vezes o senhor falou, esteve ou recebeu Daniel Dantas?

JD: Duas vezes. É público. Ele disse na CPI o que falei para ele. Primeiro, disse para ele procurar os fundos de pensão. Depois, que era um problema da Justiça americana, da brasileira, da Anatel. Recebi o Dantas como recebi todos os presidentes das empresas de telecomunicações. Disse a mesma coisa a todos.

CC: Acaba de sair na Itália o livro do Giuliano Tavaroli, executivo da Telecom Italia ... JD: Executivo? Você está sendo ... Ele cuidava de operações ilegais, condenado, personagem da direita. Ele diz que eu andava nos aviões do Opportunity sendo ministro de Estado, é uma aberração maior do que dizer, como fez a CartaCapital, que encontrei o Luiz Fernando Corrêa no Marrocos. Eu era ministro de Estado. Tinha escolta, avião da F AB. Por que andaria em aviões do Opportunity? Estive com o Tavaroli juntamente com outros dirigentes da Telecom Italia. Por que eu não os receberia se recebi todos? E ele vem e diz que eu estava me aproximando do Dantas ... O Gushiken (Luiz, ex-ministro), o Sergio Rosa (presidente da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) podem confirmar que nunca interferi na disputa a favor do Dantas, dentro ou fora do governo. E outra: o presidente Lula nunca chamou os ministros para discutir nada em relação ao Opportunity ou a Daniel Dantas.

CC: No caso do suposto encontro no Marrocos, CartaCapital relatou informações recebidas de fontes válidas, e, de todo modo, não deixou de procurá-Ia. E seu desmentido, dado por um assessor, foi registrado. Mas não é de hoje que, em determinados círculos, alguns no PT, narram-se episódios de tentativas de interferência do senhor a favor do banqueiro. Na Justiça, na polícia, durante a CPI...

JD: Estava sendo cassado, respondendo a inquérito da Polícia Federal, fora do governo. Do dia para a noite fui transformado no "chefe de uma quadrilha". Em 40 anos de vida pólítica nunca havia sido investigado. Minha vida pessoal estava uma bagunça. Jamais procurei qualquer delegado da PF, muito menos o Paulo Lacerda, para falar nada relacionado à investigação do Daniel Dantas. Se os que se comportaram indevidamente estão se escudando agora ... Porque o Zé Dirceu serve para muita coisa no Brasil. Por qual razão eu estaria preocupado com as declarações do Dantas se não tive nenhuma participação? Vocês sabem que não houve mensalão. Aquilo foi caixa 2 de eleição. Cada um vai ter de re;~ponder pelas suas responsabilidades. Eu respondo JD: Não é fazer um encontro. 'Eu estava chegando de viagem. Tenho direito de viajar como eu quero. Sei o que conversei com o Luiz Eduardo. E não foi, porque não tenho motivo para conversar com ninguém, sobre o Daniel Dantas.
cc: O senhor nunca teve nenhuma ligação com o Dantas?

JD: Nenhuma.

CC: O que o senhor pensa a respeito do Daniel Dantas?

JD: Minha opinião está no meu blog. Sempre foi pública. Sou contra as privatizações do governo FHC. Quando chegamos ao governo, fui eu que falei da herança maldita. O governo Lula tomou a decisão de não fazer investigação. A orientação que recebi do presidente foi: denúncia política, sim, mas não investigações. O Dantas tem de responder pelos atos que praticou na Justiça, como está respondendo. Eu nunca o defendi. Fui investigado ilegalmente pela Kroll. Meu nome está naquele dossiê falso de contas no exterior a que Veja teve acesso e disse ter sido entregue por ele. Se fui alvo, vítima, nestes casos, como poderia ser aliado do Daniel Dantas?

CC: Um grande amigo seu, o advogado Kakay (Antonio Carlos de Almeida Castro), foi advogado do Dantas.

JD: Não tem coisa mais infame. Por causa da relação de parentesco ou de amizade, relacionar os fatos. Eu não respondo pela advocacia do Kakay. Ele não me consultou para ser advogado do Dantas.

CC: Mas um dos talentos do Dantas é tentar se aproximar do poder de todas as maneiras possíveis.

JD: Mas aproximação se o processo é penal? O Kakay nem sabe desse assunto.

CC: Mas a questão não é essa. É de aproximação com ogovemo.

JD: Mas o que ele iria querer? O que o Dantas esperava do governo do presidente Lula? É notório que havia outra opinião sobre as privatizações e sobre a política de telecomunicações do Brasil.

CC: Ele também tentou usar o Marcos Valério para se aproximar.

JD: É outro problema. Nunca conversei com o Marcos Valério. Ele dizia que eu era inimigo dele. Não há nada que me ligue a ele. .

CC: Quantas vezes o senhor falou, esteve ou recebeu Daniel Dantas?

JD: Duas vezes. É público. Ele disse na CPI o que falei para ele. Primeiro, disse para ele procurar os fundos de pensão. Depois, que era um problema da Justiça americana, da brasileira, da Anatel. Recebi o Dantas como recebi todos os presidentes das empresas de telecomunicações. Disse a mesma coisa a todos.

CC: Acaba de sair na Itália o livro do Giuliano Tavaroli, executivo da Telecom Italia ...

JD: Executivo? Você está sendo ... Ele cuidava de operações ilegais, condenado, personagem da direita. Ele diz que eu andava nos aviões do Opportunity sendo ministro de Estado, é uma aberração maior do que dizer, como fez a CartaCapital, que encontrei o Luiz Fernando Corrêa no Marrocos. Eu era ministro de Estado. Tinha escolta, avião da FAB. Por que andaria em aviões do Opportunity? Estive com o Tavaroli juntamente com outros dirigentes da Telecom Italia. Por que eu não os receberia se recebi todos? E ele vem e diz que eu estava me aproximando do Dantas ... O Gushiken (Luiz, ex-ministro), o Sergio Rosa (presidente da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) podem confirmar que nunca interferi na disputa a favor do Dantas, dentro ou fora do governo. E outra: o presidente Lula nunca chamou os ministros para discutir nada em relação ao Opportunity ou a Daniel Dantas.

CC: No caso do suposto encontro no Marrocos, CartaCapital relatou informações recebidas de fontes válidas, e, de todo modo, não deixou de procurá-Ia. E seu desmentido, dado por um assessor, foi registrado. Mas não é de hoje que, em determinados círculos, alguns no PT, narram-se episódios de tentativas de interferência do senhor a favor do banqueiro. Na Justiça, na polícia, durante a CPI...

JD: Estava sendo cassado, respondendo a inquérito da Polícia Federal, fora do governo. Do dia para a noite fui transformado no "chefe de uma quadrilha". Em 40 anos de vida pólítica nunca havia sido investigado. Minha vida pessoal estava uma bagunça. Jamais procurei qualquer delegado da PF, muito menos o Paulo Lacerda, para falar nada relacionado à investigação do Daniel Dantas. Se os que se comportaram indevidamente estão se escudando agora ... Porque o Zé Dirceu serve para muita coisa no Brasil. Por qual razão eu estaria preocupado com as declarações do Dantas se não tive nenhuma participação? Vocês sabem que não houve mensalão. Aquilo foi caixa 2 de eleição. Cada um vai ter de responder pelas suas responsabilidades. Eu respondo
pelas minhas. Não estava no PT, era ministro-chefe da Casa Civil. Eu respondo pela Casa Civil. Não há nada contra mim.

CC: Deixe-nos ser mais precisàs sobre o Kakay. Executivos do Citibank dizem ter ouvido de Dantas que ele havia pago 10 milhões ao Kakay para que seus problemas no governo fossem resolvidos.

JD: O que tenho com isso?

CC: O grande amigo do Kakay no governo era o senhor.

JD: Segundo o Kakay, ele recebeu 8 milhões e não 10. E por serviços advocatícios. Li em entrevistas que ele deu. Por que eu iria defender o Dantas? O pessoal do Citibank também esteve comigo. Não há um só empresário no Brasil que possa dizer que eu tratei de qualquer outro assunto, enquanto estive no governo, que não fosse de interesse público. Por isso sou respeitado até hoje. Virei consultor, não sou um lobista. Tenho uma vida, uma história para preservar.

CC: Alguma das empresas que o senhor recebeu na Casa Civil é sua cliente agora?

JD: Não, nenhuma.

CC: O senhor nunca esclareceu bem que tipo de consultoria presta e para quem.

JD: Você sabe por que tenho de fazer isso. Uma vez fui fazer uma palestra fechada no Credit Suisse. A história vazou. A Veja deu duas páginas dizendo o quadrilheiro e a quadrilha, porque o Credit estava sendo investigado. Considero um milagre que eu tenha conseguido manter a minha advocacia e a minha consultoria da maneira que sou criticado neste país.

CC: Que tipo de consultoria o senhor faz? Quantos clientes tem?

JD: Não, não vou dizer nem quantos clientes tenho e nem quem eles são. Faço consultoria como todo mundo faz. Hoje faço mais !.10 exterior do que no Brasil. Levo investimentos e empresas brasileiras ao exter.or. Acabei de ir a Portugal, fiz uma palestra em um hotel. Vou a Barcelona e a Madri. Trabalho no Peru, no México. E as coisas saem, os investimentos, as obras, as importações e as exportações.

CC: Repetindo: o senhor faz consultoria para alguma das empresas que tinha de2; manda na Casa Civil quando o senhor era ministro?

JD: Poderia fazer, nada me impede. Há 40 meses eu esr tou fora do governo. Não há nenhum impedimento legal ou moral para dar consultoria a qualquer empresa privada. Eu não faço consultoria para empresa que diga respeito ao governo.

CC: O senhor faria consultoria para o Dantas ou para o Opportunity?

JD: Não.

CC: o que o senhor acha dos petistas José Eduardo Cardozo, Sigmaringa Seixas, Greenhalgh, que de alguma forma atuaram ou atuam a favor do Dantas?

JD: Desconheço isso. Não coloco nenhuma objeção a nenhum advogado que advogue para qualquer empresa. Eu tenho o direito de advogar para quem eu advogo. Quem advogou para o Daniel Dantas legalmente foi o Greenhalgh.

CC: O senhor não está a par do jantar na casa do senador Heráclito Fortes onde estiveram o Dantas, o ministro Márcio Thomaz Bastos e os deputados Sigmaringa Seixas e José Eduardo Cardozo?

JD: Desconheço.

CC: Logo depois da divulgação do dossiê com as supostas contas no exterior.

JD: Estava completamente apartado. Em que mês foi isso?

CC: Maio de 2006, aproximadamente.

JD: Estava reconstruindo a minha vida.

CC: Qual a relação que o senhor tem com o diretor-geral da PF, Luiz Femando Corrêa?

JD: Não tenho relação com ele.

CC: Os senhores não ficaram amigos na época em que ele era da segurança do Lula? Ao menos é o que ele diz por aí.

JD: Conversei pouquíssimas vezes com ele. Nunca mais falei com ele depois que eu saí do governo. Não tenho relação de amizade com ele. Nem com nenhum delegado da PE Nunca o encontrei no Marrocos, como vocês disseram. Tomei uma decisão quando cheguei ao governo, de não participar em nada que dizia respeito à Abin e à PE

CC: O delegado Corrêa costuma dizer que é bastante afinado com o senhor na opinião básica de que a gestão do Paulo Lacerda exagerava no espetáculo das prisões. Vocês dois tinham uma opinião sintonizada sobre os abusos dessas operações?

JD: Onde há uma opinião minha a respeito? Nunca disse isso. Nunca tratei da gestão do Paulo Lacerda. Mas uma coisa é eu ser contra a espetacularização até porque costuma valer para uns e não para outros. Certos veículos de imprensa são avisados das operações e outros não. A PF não precisa disso para cumprir as operações com sucesso. Isso não significa que a sociedade não tem de ser informada, mas, quando se trata de calúnia, como no meu caso, como é que fica?

CC: Uma dúvida ainda sobre a conversa com o Greenhalgh. Por que o senhor foi falar com ele a respeito do Cesare Battisti?

JD: Vou mostrar (levantase, sai da sala e volta com um carta redigida à mão). Limitei-me a transmitir ao Luiz Eduardo os pedidos da família do Battisti. (Entrega a carta a um dos entrevistadores. )

CC: A carta não tem data.

JD: Vocês têm de confiar na minha palavra.

CC: O senhor poderia nos dar uma cópia?

JD: Não! (Retira a carta das mãos do entrevistador.)

CC: E o que ele pede nesta carta?

JD: Fala da situação dele, agradece os apoios no Brasil.

CC: Por que ele mandaria esta carta ao senhor?

JD: Porque as pessoas me procuram.

CC: Pedindo o quê?

JD: No caso dele, que não fosse extraditado.

CC: Pedindo a sua intervenção para que ele não seja extraditado.

JD: Exatamente. Meu apoio e intervenção. Falei que não podia fazer nada.

CC: Mas, se o senhor não podia fazer nada, por que foi conversar a respeito com o Greenhalgh?

JD: Sou contra a extradição do Battisti. Para fazer qualquer relação com o caso Satiagraha é preciso ter fatos.

CC: a delegado Protógenes Queiroz disse ao juiz que poderia produzir um relatório somente sobre o senhor.

JD: Não há nada a meu respeito. O que há de citação no relatório foi o episódio do Giba, em que o tal "ele" seria eu. Isso desmoraliza toda a operação. Não é possível que um delegado, com a responsabilidade que ele tinha, me ligue a uma história tão frágil e elenque três crimes na seqüência. Imagine se o juiz decretasse a minha prisão? Não há indícios que me envolvam em nada disso. Não sei dizer qual é a razão. Em parte deve ser por causa da notoriedade de se prender o Zé Dirceu, ou por decisão política. Fui grampeado por três meses.

CC: É uma disputa de poder na PF?

JD: Fora o que há sempre nessas instituições, não sei de nada em especial. O que não consigo entender é por que a Abin participou, de forma ilegal, da Satiagraha. Se a Abin continuar a fazer dessa forma, estamos perdidos. Se for o caso, criamos uma CIA no Brasil. Mas tem de ser de forma legal, às claras.

CC: a apoio da Abin não foi definido oficialmente ilegal.

JD: É grave e ilegal, sim.

CC: a senhor achou o afastamento do Paulo Lacerda correto?

JD: Ele é que deveria ter pedido o afastamento. Ele não tem por que temer nada.

CC: Ele não foi afastado por causa da participação de agentes da Abin na Satiagraha. Foi por causa daquela história do grampo até agora não comprovado do telefone do Gilmar Mendes.

JD: Sobre isso não sei.

CC: Em 2003, o jornalista Rubens Glasberg, da Teletime, entregou ao senhor um relatório do TCU sobre a CVM, com um bilhete pessoal dele anexado. a relatório questionava a atuação do Cantidiano (Luiz Leonardo, foi presidente da CVM), que antes de assumir o posto na autarquia havia advogado para o Dantas. a Glasberg fez várias reportagens a respeito da conivência dele na hora de julgar casos do apportunity. a Cantidiano o processou. Entre as peças de defesa do expresidente da CVM aparecia o bilhete que o Glasberg havia enviado ao senhor.

JD: Eu dei encaminhamento formal à denúncia. Se não o fizesse, poderia ser acusado de prevaricação. Se alguém me procurava e fazia uma denúncia grave sobre alguém que ocupava um cargo público, minha obrigação como chefe da Casa Civil era enviar para os órgãos responsáveis por investigar esses casos. Foi em um desses lugares que os advogados do Cantidiano provavelmente tiveram acesso ao documento.

CC: a que o senhor acha da fusão entre a ai e a Brasil Telecom, apoiada pelo governo?

JD: Se for para se manter a concorrência, para criar uma empresa competitiva internacionalmente, sou a favor.

CC: a senhor mantém relações com o Carlos Slim (empresário mexicano dono da Embratel). Ele teve interesse de comprar a Telemig Celular e a Amazônia Celular. a senhor nunca se meteu ou deu conselho a ele nesse setor?

JD: Não, até porque eu conheci o Slim em um seminário em Campos do Jordão que não tinha nenhuma relação com o setor de telecomunicações. Não trabalho nem sou amigo dele.

CC: Mas o senhor o levou ao Lula, não?

JD: O Lula o recebeu mais de uma vez e em uma dessas ocasiões eu estava presente. O Slim não precisa de mim para solicitar uma audiência com o Lula. Outra coisa, ele comprou a Embratel em Nova York por causa da falência da dona anterior, a norte-americana MCL

CC: Muitos petistas não gostam do senhor e dizem o oposto do que o senhor diz aqui agora. a senhor sabe, não?

JD: Infelizmente de maneira trágica, durante o caso que ficou conhecido como mensalão, usou-se a crise como instrumento de luta interna no PT. Num momento daquele, quando era preciso defender o partido, tentou-se dentro da legenda destruir algumas lideranças. Respondo pelo que fiz. Mas daí a quase se aliar aos algozes que nos acusavam para tentar alcançar a direção do partido foi muita hipocrisia.

CC: Nos seus tempos de governo, evidenciou-se uma disputa entre o senhor e o ministro Gushiken, enquanto o ministro Palocci parecia manter-se em cima do muro. A questão dizia respeito à presença dos fundos de pensão na Brasil Telecom. Gushiken apoiava os fundos, o senhor não.

JD: Disputa nunca houve. Estávamos do mesmo lado então, como estamos hoje. Perguntem ao Gushiken.

CC: a senhor ainda é hostilizado na rua?

JD: Isso depende do período. Se a mídia fica 60 dias me apresentando como chefe de quadrilha, há quem acabe me hostilizando verbalmente. Muitos veículos de imprensa estimularam as pessoas a fazer isso comigo.
Fonte:Revista Carta Capital.

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