sexta-feira, 14 de novembro de 2008

MÍDIA - Um caso clássico de informação "selecionada".

Não conheço o delegado Protógenes Queiroz. Aliás, já escrevi aqui que em 30 anos de carreira nunca tive um delegado "de bolso". Acho terrível a promiscuidade entre repórteres e autoridades. Dá em situações patéticas como aquela gravação da conversa entre o delegado Edmilson Bruno e alguns repórteres, na véspera do primeiro turno das eleições presidenciais de 2006. Ali o delegado Edmilson Bruno avisou aos repórteres que iria mentir aos superiores, que iria jogar a culpa pelo vazamento na faxineira, que tinha uma foto "da Globo" e outras barbaridades. Mas os repórteres, que estavam atrás da notícia, nem quiseram saber.

Depois do vazamento o delegado Bruno mentiu diante das câmeras. Repórteres que sabiam que ele estava mentindo escutaram calados. E, no dia seguinte, a Folha de S. Paulo reproduziu a mentira do delegado mesmo sabendo que ele era o autor do vazamento. Um vazamento que ele depois assumiu e que tem até gravação de áudio. O delegado Bruno foi punido? Nunca ninguém investigou a que se referia o delegado Bruno quando falou em "foto da Globo". Ele tirou uma foto só para a Globo? Ou algum funcionário da Globo entrou com ele onde estava o dinheiro e fez a foto? Como se vê, a curiosidade da mídia é seletiva.

O áudio do delegado Bruno conversando com os repórteres e a transcrição estão aqui.

O trecho em que o delegado Bruno diz que vai mentir e que uma repórter diz "Tá"; e que contém o trecho em que ele fala da "foto da Globo" está aqui.

Vejamos agora o caso do delegado Protógenes.

Quem primeiro vazou o conteúdo completo do inquérito resultante da operação Satiagraha foi o site Consultor Jurídico, "amigo" de Gilmar Mendes e Daniel Dantas. Houve busca e apreensão nesse caso? Ou só interessava mesmo era punir o delegado Protógenes por eventual vazamento?

Em seguida os detalhes do inquérito que investigou o vazamento supostamente cometido por Protógenes vazaram. Vazaram em grande estilo. É só olhar os trechos que foram reproduzidos pelo Estadão, por exemplo: o repórter reproduz trechos de documento oficial. Cadê a investigação para apurar este vazamento?

Na "reportagem" que reproduzo abaixo há até a sugestão de que o uso de rádios da Polícia Federal por agentes da Agência Brasileira de Inteligência seria ilegal. Ora, se a ABIN pode colaborar com a PF -- isso está previsto na legislação -- qual é a ilegalidade? E se o deputado citado no texto não deve nada, qual o problema de filmá-lo?

Notem, no entanto, a seletividade da mídia. Correram atrás de vazar os detalhes do inquérito que supostamente compromete Protógenes -- assim como a Folha de S. Paulo já havia vazado anteriormente a própria existência da operação Satiagraha, atrapalhando o trabalho da PF e facilitando a defesa de Daniel Dantas. No entanto, o nome do deputado que foi filmado a caminho da sede do Grupo Opportunity ninguém publicou. Ninguém foi atrás do agente José Maurício Michelone para saber qual deputado visitou o Opportunity. Não há crime em visitar o Opportunity, mas eu gostaria de saber o nome do deputado. É relevante, sim. E se for um deputado integrante da CPI dos Grampos, por exemplo? E se for um deputado que prestou "serviços" ao banqueiro no Congresso?

Sigam o meu raciocínio: a Folha de S. Paulo disse que vazou a operação Satiagraha em nome do "interesse público". Mas, que eu saiba, não moveu uma palha para identificar o deputado. Nem o Estadão. É por isso que eu fico com a sensação de que só é notícia aquilo que interessa ao banqueiro.
Fonte:Blog Vi o Mundo.

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