terça-feira, 19 de janeiro de 2010

ECONOMIA - Feliz ano novo, especuladores...

Brizola Neto

Feliz ano novo, especuladores…

Os banqueiros Roberto Setubal (esq.), do Itaú, e Pedro Moreira Salles, do Unibanco, comemoram a fusão de seus negócios

Os banqueiros Roberto Setubal, do Banco Itaú, e Pedro Moreira Salles, do Unibanco, comemoram a fusão de seus negócios em novembro de 2008

Meus amigos e minhas amigas, começou a temporada 2010 das pressões especulativas. Hoje, O Globo publica uma matéria onde embarca na mesma ladainha que começaram a entoar desde que a economia brasileira deu sinais de recuperação, em meados do ano passado: os juros vão subir, porque a economia está “turbinada”, isto é, há uma explosão de consumo que precisa ser contida.

Explosão de consumo, onde, cara-pálida? Mal recuperamos – e em alguns setores nem recuperamos – os patamares de produção de 2008. E desde quando uma expansão de 5 ou 6% ao ano é absurda para o Brasil? Absurdo é ser menor, porque o aproveitamento do nosso potencial de produção e de consumo – que fazem a roda da economia – é muito baixo. Em todos os períodos de progresso o Brasil cresceu a estas taxas ou a taxas ainda maiores.

E como falar em pressões inflacionárias, se 2009 fechou com uma taxa abaixo até da meta estabelecida pelo Banco Central? Como, se a até exagerada desvalorização do dólar impede elevação de preços internos?

Pressão inflacionária existe, sim, no “mercado”. Existem centenas de milhões de reais em “juros futuros” comprados acima de 10,5%. Se eles estiverem mais baixos que isso, na hora de serem exercidas as opções de compra, o prejuízo de quem apostou na alta é imenso. Ao contrário, se o BC subir os juros, não haverá perdas, mas sim lucros. O prejuízo fica para o Tesouro, que paga taxas mais altas pelo dinheiro que toma.

Aí está a fonte das pressões. E a previsão de que a alta dos juros começará em março não vem do nada: é que março é o prazo fatal para a saída de Meirelles do Banco Central, se for candidatar-se. E o mercado quer, das duas, uma.

Ou Meirelles sai e seu sucessor, por fraqueza e proteção, “acalma o mercado” subindo juros.

Ou Meirellles fica e seu “preço” para ficar é retomar a sua sabida opção por juros mais elevados.

Agora, a matéria de hoje traz um primor de incoerência. Diz que os juros subirão porque a inadimplência está baixa. Ora, o custo da inadimplência faz parte do chamado “spread”, que a maior razão apontada pelas próprias instituições financeiras para as taxas que cobram. Se a inadimplência cai, deveria cair o “spread” e, com ele, a taxa de juros.

Mas quando interessa, é o contrário. A lógica, traduzindo, é assim: se o consumidor está pagando é porque não está “enforcado” e, se não está “enforcado” podemos apertar mais a corda em seu pescoço.

Por isso é fundamental que o BB e a Caixa prossigam sem sua pressão baixista sobre as taxas de juros bancários. Sem isso, prevalecem as razões expostas pelo Dr. Roberto Setúbal, do Itaú-Unibanco para criticar os bancos públicos: “é preciso remunerar o capital”. Como os bancos no Brasil têm lucros fabulosos, acho que faltou dizer: “é preciso remunerar nababescamente o capital”

Fonte:Blog "Tijolaço", do Brizola Neto.

Nenhum comentário: