Pedro do Coutto
Mesmo com a concordância da senadora Marina Silva, não há como o deputado Fernando Gabeira, se for mesmo disputar o governo do Rio de Janeiro, apoiar em sua campanha simultaneamente a candidata do PV, seu partido, à presidência e José Serra, através de uma coligação com o PSDB, incluindo também o DEM e o PPS.
Aceitando os argumentos de setores da Justiça Eleitoral de que a verticalização não está mais em vigor, qual será, em tal hipótese de dualidade, seu comportamento ao longo da campanha. Num dia aconselhando o voto em Marina Silva, no outro destacando José Serra. Para José Serra isso seria bom, na medida em que lhe proporciona um espaço maior no terceiro colégio eleitoral do país. Para Marina Silva, não faz sentido. E pior ficaria o próprio Gabeira, dando margem a uma cobrança de seus adversários, entre eles o governador Sérgio Cabral, favorito nas pesquisas. Cabral apóia Dilma Roussef e recebe o apoio de Lula. A dualidade projetada para Gabeira só favorece o atual chefe do executivo fluminense. Nunca dá certo o apoio duplo.
Em 1960, por exemplo, houve uma experiência parecida, embora a legislação da época não fosse igual à de hoje. O general Lott, disputando a presidência da República, foi apoiado no Rio tanto por Sérgio Magalhães, do PTB, quanto pelo general Mendes de Moraes, pelo PSD. Não deu certo. Houve uma confusão generalizada na campanha que terminou prejudicando o próprio Teixeira Lott. O eleitorado do antigo Estado da Guanabara, era de um milhão de pessoas. Lott ficou 13 pontos atrás de Jânio quadros. Sérgio Magalhães perdeu para Carlos Lacerda pela margem de 2,3 por cento. Como se verifica o mais prejudicado foi o candidato à presidência que disputava pela coligação PSD-PTB. Se dois palanques a favor confundiram os eleitores no passado, imagine-se um candidato ao governo do estado apoiando ao mesmo tempo duas candidaturas presidenciais. Não é só a lei que impede, perspectiva que alguns contestam, como se vê na reportagem de Cássio Bruno, O Globo de 14 de janeiro, mas uma simples questão de lógica. E até de ética. Sem dúvida alguma soa estranho o candidato estadual subir em dois palanques presidenciais. Seria uma situação muito ruim sob o ponto de vista político com reflexos nos votos. Gabeira está numa situação difícil. Se não disputar o governo e sim o Senado, o mesmo impasse permanece. Difícil superá-lo. O tempo exclusivo do PV é mínimo no horário gratuito. Isso porque, pela lei, o espaço é distribuído proporcionalmente com base nas bancadas partidárias na Câmara Federal. Alguém pode indagar por quê? De fato não faz muito sentido. Mas é o que determina a lei. Não há como mudar. No plano nacional, Marina Silva, se mantiver sua candidatura à presidência, vai ter o apoio do PSOL, de Heloísa Helena. Mas esta adição é também muito pequena, já que a bancada do PSOL é mínima na Câmara dos Deputados.
Voltando a Gabeira, ele se encontra numa posição que lembra a peça de Pirandello, tradução de Millôr Fernandes, um arlequim dividido entre duas lideranças. Mas isso no teatro, ou na vida pessoal, porém não se torna possível no plano eleitoral. Só confunde os eleitores e não possui sentido prático. Na política, as definições não podem ser duplas. Terminam afundando num mar de contradições. Marina Silva, segundo O Globo, ficou de dar uma resposta sobre a questão Gabeira. Mas só em fevereiro. Depois do carnaval.
Tribuna da Imprensa
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