Dizem por aí que a virada do ano é o momento de “eliminar o que é velho para trazer o novo à vida”. Isso está nas páginas de todos os folhetins. Se é o caso de se desfazer do que é “velho”, imagine o que se revelou imprestável, ineficiente, improdutivo.
. Defensor perseverante das prerrogativas profissionais dos jornalistas, longe de mim a pretensão de sugerir à grande mídia brasileira que simplesmente descarte, demita, a maioria de seus mais conhecidos nomes. Afinal, alguma qualidade têm revelado, alguns como captadores de informações, outros como redatores.
. Mas não tenho a menor dúvida quanto à necessidade de substituir o quadro de colunistas, especialmente os analistas econômicos, conexos e assemelhados. Por mera questão de justiça, quando não de respeito por seu público, torna-se praticamente inadiável retirar de seus privilegiados espaços de comentaristas profissionais como Miriam Leitão, Carlos Alberto Sardenberg, Joelmir Beting, Merval Pereira, entre tantos mais. Ou os que, não sendo tidos como versados em economia, sentem-se à vontade para “dar pitaco” na matéria: Dora Kramer, Lucia Hippolito, Arnaldo Jabor, Boris Casoy e até Diogo Mainard e muitos outros.
. Decerto seria melhor entregar as colunas a jornalistas mais qualificados ou mais honestos intelectualmente ou mais descomprometidos com interesses políticos ou partidários.
. Afinal, o que vemos, dia após dia, são os fatos desmentirem fragorosamente as análises e previsões dessa turma.
. O primeiro a desqualificá-las, na prática, é o próprio presidente Lula, apresentado à opinião pública como um completo ignorante na sua campanha à Presidência em 2002, quando enfrentava o economista José Serra no direito a suceder o “príncipe dos sociólogos”.
. Foram já sete anos de enfrentamento, na prática, com as avaliações dos ditos colunistas. E são as próprias notícias, que a mídia não consegue esconder, quem se encarrega de desmoralizar as análises. Lula e o seu governo provaram que é possível fazer crescimento econômico com distribuição de renda, com o seu bem sucedido programa de inclusão das parcelas miseráveis da população. Só para se ter uma idéia, o salário mínimo valia cerca de US$ 65 no final do governo de Fernando Henrique e Lula prometeu elevá-lo para, no mínimo, US$ 100. Este ano começa com um salário mínimo equivalente a US$ 293! O maior dos últimos 39 anos. De quebra, resgataram a dívida histórica com o FMI e produziram inédita poupança externa, investindo na descentralização das relações comerciais do Brasil, que hoje se deslocam claramente para países de comércio não tradicional, como os da África, da América Latina e de parte da Ásia. Fizeram recuar a taxa oficial de juros até conseguir que isso se refletisse nos próprios juros ao consumidor. Reverteram a tendência de estagnação da economia e promoveram notáveis taxas de redução do desemprego e crescimento do emprego formal, provando, na prática, que sua política econômica poderia passar pelo fortalecimento do Estado. E inovaram, mandando realizar concursos para milhares de cargos públicos, fortalecendo e qualificando o funcionalismo público.
. Quando a economia já dava alguns sinais positivos no primeiro período governamental de Lula, os analistas tentaram descaracterizar o crescimento e, como isso se tornasse impossível, foram unânimes na afirmação de que se tratava apenas de uma onda internacional favorável de que o Brasil estaria se beneficiando.
. A resposta viria a cavalo. O mundo mergulhou em uma crise econômico-financeira sem precedentes, ainda mais arrasadora que a de 1929. Os Estados Unidos à frente, praticamente todos os países entraram em brutal recessão, empresas emblemáticas quebraram ou mudaram de mãos, milhões de empregos simplesmente desapareceram. A economia capitalista parecia desabar, como um castelo de cartas.
. O presidente Lula vaticinou que, para nós, era uma “marolinha” e o Brasil era o último país a entrar na crise e seria o primeiro a sair. Foi coberto de escárnio. A “marolinha” fez parte das piadas mais sarcásticas.
. Mas, ao contrário dos seus algozes, que apenas travestiam de análise o que se tratava apenas de uma torcida derrotista, o presidente sabia do que falava. Preparara o Brasil suficientemente para uma situação como essa. Diversificara o comércio exterior e multiplicara o seu mercado interno, via redistribuição de renda e programas de compensação. E, ao invés de privatizar, investir contra o Estado e suas empresas estratégicas, cuidara de manter sólidos mecanismos fundamentais para resguardar a nossa economia: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES e Petrobrás, entre outros.
. Os dados referentes ao sucesso de sua política pipocam um após o outro. O Brasil, efetivamente, sai da crise bem antes do resto do mundo. O ritmo de empregos foi retomado, a economia voltou a crescer, a Bolsa de São Paulo foi a que mais cresceu no mundo e experimentou o maior crescimento dos últimos 15 anos.
. Não é por acaso que o presidente acabou alterando o próprio conceito de aprovação dos institutos de sondagem de opinião pública. Antes, era comum incorporar a avaliação regular nos níveis de aprovação de governos e governantes. Ou, pelo menos, o chamado “regular positivo”. Lula não precisa disso. Sua aprovação bateu níveis tão altos que a imprensa passou a apropriar no conceito de aprovação apenas as indicações de bom e ótimo. E, ainda assim, os recordes de popularidade vão sendo sucessivamente batidos.
. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha divulgada em 1º de janeiro, 57% dos brasileiros acham que, nos próximos meses, a própria condição econômica do País será mais positiva (a expectativa, em março, era de 50%). E Lula é dado com o brasileiro mais confiável (39% lhe deram nota 10), em um levantamento em que quatro presidentes são os últimos colocados e Fernando Henrique é o 23º colocado.
. E, se a esmagadora maioria do povo se entusiasma com Lula, a crítica rabugenta é obrigada, ainda, a ver o desfile de personalidades e instituições que elogiam o líder brasileiro. O prestigioso jornal francês Le Monde definiu-o como a Personalidade do Ano. Na Espanha, El País também já considerara Lula como o personagem do ano de 2009. As referências elogiosas se repetem em títulos de todas as tendências, como El Clarín, Der Spiegel, The Economist. Desde que fora do Brasil. O primeiro-ministro espanhol José Luiz Rodrigues Zapatero registrou Lula como “El hombre que asombra el mundo” e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chamou a atenção do mundo ao se referir a Lula como “o cara”, o “político mais popular do mundo”. Jacques Chirac, em 2004, já lhe devotara “profunda admiração”.
. Em Cuba, onde estive recentemente, a gente comum estranha o fato de não ter sido Lula (ou Evo Morales, por sua política para os povos indígenas) quem recebeu o Prêmio Nobel da Paz, saboreando a reação do jornalista norte-americano Michael Moore ao ver o anúncio da premiação de Obama: “Parabéns, Senhor Presidente, pelo prêmio que recebes; agora, vá ganhá-lo”.
. Com tantas evidências, acho que é o momento de reconhecer. Ou a turma da crítica resolve fazer uma reciclagem ou muda para outra editoria. Parece que quem, neste País, entende de economia e de Brasil é Luís Inácio Lula da Silva.
Fernando Tolentino é jornalista,
administrador público
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