Analista global: ignorante e um tanto preconceituoso
Eu fico chocado com o despreparo de determinados especialistas convocados pela mídia. Na maioria das vezes, a discordância é subjetiva. Discordo de muitas análises que predominam na grande Imprensa, mas, na verdade, tratam-se de interpretações diferentes dos fatos, muitas das quais são impossíveis mesmo de serem prevista. Mas, desta vez, para além de uma interpretação equivocada, verifiquei distorção dos fatos, falta de informação e uma pitada de preconceito, na análise do convidado do Globo News Painel. No último sábado – quando os convidados do programa analisavam as eleições de 2010 e as chances de Lula transferir votos para Dilma – o cientista político Amaury de Souza, sócio-diretor da MCM Consultores, afirmou que Lula já transferiu o que tinha para transferir, pois para a transferência ocorrer é preciso haver um tipo de eleitorado muito específico, com baixíssima informação política, muita dependência do governo, ou seja, Nordeste, e isto já ocorreu. Outro motivo que atrapalha a transferência, segundo o isento analista, é o seguinte: a candidata é ruim.
Bom, desta vez não posso perder tempo com os juízos de valor do analista global, é preciso simplesmente repor a verdade, diante da ignorância do “especialista”. Acontece o exato oposto do que o convidado de William Wack falou: Dilma sobe nos segmentos mais ricos e escolarizados da população. Hoje, os 23% que a petista tem no Datafolha caem para 21% entre os que possuem apenas ensino fundamental, e convertem-se em 29% entre os que têm formação superior. Os mesmos 23% de Dilma são mantidos quando considerados apenas os brasileiros que ganham até 5 salários mínimos, mas sobem para 30%, se tomamos os brasileiros que ganham mais de 10 salários mínimos. Ou seja, o desempenho da Ministra melhora, a diferença para José Serra é menor, exatamente no topo da sociedade. O Brasil de “baixíssima informação política e muito dependente do Estado”, como nos termos colocados por Amaury de Souza, existe, sim, mas não é o Brasil que concede à Dilma força eleitoral. Certamente, esta é a camada da população em que a candidatura Governista tem maior potencial, mas este potencial ainda não se concretiza.
Exatamente por não acompanhar o noticiário político com tanto interesse e assiduidade, os brasileiros de poder aquisitivo e escolaridade mais baixos, que não se resumem ao Nordeste (o Norte não é sequer lembrado), ainda não identificam em Dilma a continuidade do Governo Lula. Provavelmente, isto só acontecerá a partir de agosto, quando do horário eleitoral gratuito. Até lá, o governo não terá canais (literalmente) para construir a candidatura Dilma, ou seja, colar na Ministra todas as conquistas do Governo e apresentar a candidata. Assim, ao contrário do que disse o cientista político, Lula não transferiu para Dilma tudo o que tinha para transferir. Lula mal começou a transferência. Aliás, não se trata de transferência de prestígio entre uma figura histórica e outra, como colocou William Wack. Trata-se de um processo de reconhecimento por parte da população daquela candidatura que melhor representa a continuidade das conquistas dos últimos anos. O voto da população tem um caráter pragmático muito forte, as pessoas votam de acordo com expectativas de manutenção e aprofundamento dos ganhos que tiveram ou pretendem ter.
Por fim, gostaria de rebater esta visão paulista de que o Brasil desinformado e dependente está apenas no Nordeste, ou ainda de que no Nordeste só existem pessoas desinformadas e dependentes. Nos estados nordestinos, assim como em qualquer estado, também há pessoas esclarecidas, com boas condições de vida - que aprovam o Governo Lula. Nos estados do Sul, por exemplo, e em São Paulo, a aprovação do Governo Federal, na pior das hipóteses, é de 60 e poucos por cento. É equivocada também a tese de que a transferência só se dá em eleitorados mais pobres. Como lembrou o equilibrado professor Luiz Gonzaga Belluzzo, já houve processos de transferência de votos em São Paulo: de Quércia para Fleury, de Maluf para Pita, e do Serra para o Kassab. Tenho certeza que o Amaury de Souza não classificaria os próprios paulistas com estes adjetivos. O fato é que a maioria dos brasileiros – de todas as partes, de variadas classes sociais, e com diferentes níveis de escolaridade – aprova Lula, e são potenciais eleitores de Dilma. É questão de tempo para que a candidatura Governista seja identificada como tal, por cada vez mais pessoas.
Globo News Painel
Bom, desta vez não posso perder tempo com os juízos de valor do analista global, é preciso simplesmente repor a verdade, diante da ignorância do “especialista”. Acontece o exato oposto do que o convidado de William Wack falou: Dilma sobe nos segmentos mais ricos e escolarizados da população. Hoje, os 23% que a petista tem no Datafolha caem para 21% entre os que possuem apenas ensino fundamental, e convertem-se em 29% entre os que têm formação superior. Os mesmos 23% de Dilma são mantidos quando considerados apenas os brasileiros que ganham até 5 salários mínimos, mas sobem para 30%, se tomamos os brasileiros que ganham mais de 10 salários mínimos. Ou seja, o desempenho da Ministra melhora, a diferença para José Serra é menor, exatamente no topo da sociedade. O Brasil de “baixíssima informação política e muito dependente do Estado”, como nos termos colocados por Amaury de Souza, existe, sim, mas não é o Brasil que concede à Dilma força eleitoral. Certamente, esta é a camada da população em que a candidatura Governista tem maior potencial, mas este potencial ainda não se concretiza.
Exatamente por não acompanhar o noticiário político com tanto interesse e assiduidade, os brasileiros de poder aquisitivo e escolaridade mais baixos, que não se resumem ao Nordeste (o Norte não é sequer lembrado), ainda não identificam em Dilma a continuidade do Governo Lula. Provavelmente, isto só acontecerá a partir de agosto, quando do horário eleitoral gratuito. Até lá, o governo não terá canais (literalmente) para construir a candidatura Dilma, ou seja, colar na Ministra todas as conquistas do Governo e apresentar a candidata. Assim, ao contrário do que disse o cientista político, Lula não transferiu para Dilma tudo o que tinha para transferir. Lula mal começou a transferência. Aliás, não se trata de transferência de prestígio entre uma figura histórica e outra, como colocou William Wack. Trata-se de um processo de reconhecimento por parte da população daquela candidatura que melhor representa a continuidade das conquistas dos últimos anos. O voto da população tem um caráter pragmático muito forte, as pessoas votam de acordo com expectativas de manutenção e aprofundamento dos ganhos que tiveram ou pretendem ter.
Por fim, gostaria de rebater esta visão paulista de que o Brasil desinformado e dependente está apenas no Nordeste, ou ainda de que no Nordeste só existem pessoas desinformadas e dependentes. Nos estados nordestinos, assim como em qualquer estado, também há pessoas esclarecidas, com boas condições de vida - que aprovam o Governo Lula. Nos estados do Sul, por exemplo, e em São Paulo, a aprovação do Governo Federal, na pior das hipóteses, é de 60 e poucos por cento. É equivocada também a tese de que a transferência só se dá em eleitorados mais pobres. Como lembrou o equilibrado professor Luiz Gonzaga Belluzzo, já houve processos de transferência de votos em São Paulo: de Quércia para Fleury, de Maluf para Pita, e do Serra para o Kassab. Tenho certeza que o Amaury de Souza não classificaria os próprios paulistas com estes adjetivos. O fato é que a maioria dos brasileiros – de todas as partes, de variadas classes sociais, e com diferentes níveis de escolaridade – aprova Lula, e são potenciais eleitores de Dilma. É questão de tempo para que a candidatura Governista seja identificada como tal, por cada vez mais pessoas.
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