Do blog do Luis Nassif.
Em 2006 já falava aqui no suicídio da mídia, quando decidiu transformar a queda (ou derrota) de Lula em guerra santa.
O que houve ontem, no Jornal Nacional, comprova que não há limites para a insensatez. A entrevista de Serra não mudará o panorama eleitoral. Dilma continua favorita.
Mas suponhamos que a armação desse resultados, invertesse o jogo e colocasse Serra como favorito. O que ocorreria com a opinião pública? Haveria apenas críticas, a bonomia do governo, Dilma convidando o casal para jantar? Claro que não: haveria comoção popular, uma guerra sem quartel.
Há muito a velha mídia atravessou o Rubicão da prudência.
O que está em jogo, da parte dela, é a montagem de uma barricada para impedir a invasão estrangeira do setor por empresas de telecomunicações e grupos de mídia.
No começo, recorreu à estratégia clara (e imprudente) de tentar derrubar Lula – ou fazê-lo sangrar – e apoiar um candidato que viesse comer na mão e ajudasse a barrar a invasão estrangeira.
Apostou e perdeu em 2006, apostou e perderá em 2010. Nem com todo apoio, o campeão branco, José Serra, logrará vencer.
Passadas as eleições, a velha mídia terá que encarar seus demônios. E é evidente, depois de ela ter avançado ainda mais no pântano da interferência política, que o objetivo maior do próximo governo será acabar com os privilégios, com o monopólio da informação, com o último cartório da economia.
E quem vai apoiá-la?
Essa postura arrogante, quase golpista, rompeu qualquer laço de solidariedade com setores nacionais. A velha mídia era temida por muitos setores empresariais da economia real. Hoje é desprezada.
Não haverá apoio de grandes grupos econômicos, porque a guerra não é deles. E são grupos que já aprenderam a montar grandes parcerias com empresas internacionais. Uma coisa é inventar fantasmas de Farcs, Moralez, Fidel, essas bobagens sem fim. Outra é convencer os aliados de hoje que Telefonica, grupos portugueses, Pisa e outros que estão entrando representam interesses do Foro São Paulo.
Das multi? Só faltava as multinacionais, que na Constituinte conseguiram equiparação com as nacionais no setor real da economia, ampararem qualquer tentativa de criar cartórios na mídia.
Para os políticos, há muito a velha mídia é fator de risco. Sabem que elogios ou acusações estão submetidos a jogos de interesses empresariais. Preferem o diabo a uma imprensa cartelizada e exercendo o poder de forma ilimitada, como foi nas últimas duas décadas.
Para o mercado financeiro, nem pensar. No máximo acenam com possibilidades futuras de parcerias, mas de olho em apenas um ativo da velha mídia: o poder de influenciar mercado e governos. E esse ativo está sendo gasto rapidamente com a perda de qualidade e de influência dos jornais, o envolvimento permanente com factóides e o descolamento da parcela majoritária de opinião pública.
Por acaso pensam que investidores técnicos irão investir em setores com baixa governança corporativa e baixa rentabilidade?
As manifestações de Otávio Frias Filho – citando Rupert Murdoch como exemplo -, a associação da Abril com a Napster, mostram que tentou-se aqui, tardiamente, a mesma fórmula empregada em outros países. Trata-se de utilizar o poder político da mídia, antes que acabe, para pavimentar a transição para a nova etapa tecnológica.
A questão é que, com exceção da Globo, nenhum grupo tem condições de ser dominante na nova etapa, porque nenhum grupo pensou estrategicamente na travessia, mas apenas em barrar futuros competidores.
É fácil prever o futuro desses grupos nos próximos anos.
A Folha será salva pela UOL, mas como grupo econômico. Jamais a UOL conseguirá um décimo do poder político que a Folha deteve nos anos 90 e 2000.
A Abril não tem plano de vôo. Queimou a ponte quando abriu mão da BOL e da TVA.
Sabe que seu carro-chefe – a Veja impressa – está em queda livre. O mercado estima uma tiragem real de 780 mil exemplares – contra os 1,1 milhão apregoados pela mídia. Quando os clientes de publicidade exigirem um ajuste nos valores cobrados, proporcional à queda real das vendas, a Abril entra em sinuca.
Para enfrentar os novos tempos, fez investimentos maciços no portal Veja, que é um equívoco sem tamanho. Ora, a editora sempre teve a cultura da publicação semanal, quinzenal ou mensal. Jamais trabalhou sequer com a informação diária. Sei na prática o choque cultural que é passar do padrão semanal para o diário. Agora, ela quer do nada criar um portal com notícias online, sem prática e entrando em um mercado em que já existem serviços online consolidados, como o G1, UOL, Terra, IG. Não será sequer mais um. Será menos um.
A compra do Anglo com recursos pessoais dos Civita mostra claramente que, cada vez mais, deixará a operação midiática para os sul-africanos e se salvará em novos negócios – como os da educação – onde o poder de fogo da revista permita ganhos indiretos junto ao poder público.
O Estadão tem a melhor estratégia multimídia (depois da Globo), mas é um grupo à venda e sem fôlego financeiro, definitivamente preso aos conflitos familiares. Manterá um jornalismo de nicho, bem construído, trabalhando seu público mais conservador e de bom nível. Mas sem grandes vôos e sem influência política.
Nesse quadro, restará apenas a Globo, cercada de inimigos por todos os lados e perdendo a cada dia legitimidade e alianças.
É um pessoal bom de jornalismo. Com exceção do inacreditável O Globo, tem jornalismo de primeira na CBN, na Globonews, no G1 e posição dominante na TV aberta, apesar de toda a parcialidade do grupo de Kamel.
Mas, graças à miopia dos sucessores e às loucuras de Ali Kamel, será cada vez mais alvo das invasões bárbaras, seja da Record, seja grupos de fora, seja de todos os inimigos que acumulou nesses anos de arrogância cega.
O jogo acabou. Agora começam as apostas para o novo jogo que virá pela frente.
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