Do site NovaE.
Diante de José Serra, "homem como ele", a opera-bufa se completou e jogou no lixo o restante de uma carreira que já balançava na superficialidade. A miudeza diante do senhor do engenho, o rapapé que pede perdão para falar: William Bonner coroou a identidade que será reconhecida pela próxima década.
Manoel Fernandes Neto
Muito já se falou sobre o papel vergonhoso do Jornal Nacional desta primeira semana de agosto de 2010, com as entrevistas armadas com os candidatos, a poupar José Serra e comprometer a candidatura Dilma, utilizando também Marina Silva na trama.
No entanto, uma figura se destacou em todo o episódio, comparado ao debate de 1989, ao avião da TAM de 2006 e outras tramóias menores: William Bonner, esse menino desorientado, que mancha sua carreira porque quis fazer o jogo do padrão e de mentes doentias escondidas do grande público, independentemente do que preza a sua profissão.
Muitos ainda inseriam no folclore outros episódios vividos por ele, como o choro descontrolado ao vivo na morte de Roberto Marinho, ou a confissão desavisada de que editava o jornal nacional para uma platéia de Homer Simpson. Mas a forma como se submeteu aos interesses da emissora em detrimento da própria carreira comprovou que não exagerávamos: William Bonner sofre mesmo de algum desequilíbrio interior muito maior do que os interesses de Ali Kamel, seu chefe.
Concorde-se ou não com Dilma ou PT. Apóie-se ou não José Serra e o PSDB. Um jornalista de qualidade teria ouvido as orientações da emissora e com algum jogo de cintura e ferramentas de que dispõe na profissão teria proporcionado ao público uma série de entrevistas competentes, mesmo tocando em temas delicados e espinhosos com todos os candidatos.
Mas William Bonner quis algo mais, no teatro montado pelos seus rufiões, mostrar para seus donos que ele fazia parte deste grupo seleto que vive em torno do poder: o dos submissos sem escrúpulos, atrás de migalhas, a deixar pelo caminho valores éticos e de caráter. “Exemplos”, como diziam os mais antigos. O que importou, para Bonner, foi o “serviço bem feito”.
Para William, não bastava uma entrevista educada e bem-aplicada aos candidatos. Não. Ele viveu a pequena ilusão de que poderia reverter a queda do candidato da casa, José Serra. Imaginou-se um caçador em busca de uma vitima a ser abatida: Dilma, com a manipulação de outra personagem: Marina. Imaginou-se o ser supremo que derrubaria o mito onipresente de um presidente popular, erguido bravamente por sua candidata, sem vergonha de mostrá-lo. E assim fez.
Revelou-se, este pobre menino rico, um covarde ingênuo. Primeiro, ao achar que detinha conhecimento e competência suficientes para criar armadilhas jornalísticas à candidata do governo, líder nas pesquisas de opinião. Armadilhas honestas são válidas em uma entrevista. O que não vale é deslealdade, falta de respeito, infâmia no trato com as pessoas. E foi assim que William agiu, como um carrasco trapalhão que busca o sangue a todo custo, mesmo na hora do jantar. William entrou nos lares de milhões de telespectadores e revelou sua face sexista, quando só faltou urrar como um tirano e babar como torturador diante de suas “escolhidas”: Dilma e também Marina, para uma desesperada atônita Fátima Bernardes, a esposa submissa, mas não menos cúmplice desse desalento
Diante de José Serra, "homem como ele", a opera-bufa se completou e jogou no lixo o restante de uma carreira que já balançava na superficialidade. A miudeza diante do senhor do engenho, o rapapé que pede perdão para falar: William Bonner coroou a identidade que será reconhecida pela próxima década. O ser menor, rastejante, que nada tem a ensinar aos mais novos, que é incapaz de uma colocação inteligente além do telepromper. O indivíduo a serviço de uma conspiração vil, que o desnudou em horário nobre.
Reputação é caso sério. Eleições passam. Políticos se aposentam. Partidos reescrevem suas relações e coligações. Quem vai recuperar a imagem de William Bonner, que já não era um referância para novas gerações de profissionais? O que seus filhos irão encontrar como herança intelectual?
Em algum momento, em uma universidade, empresa, associação, ao fim de uma palestra, Bonner será obrigado a defender com unhas e dentes o papel que desempenhou no episódio. Ou pedir perdão, envergonhado, como fazem os criminosos acuados em público, quando utilizados como inocentes úteis de elevadas conspirações. Qualquer atitude não o livrará do limbo reservado aos medíocres, do vazio existencial, ao se descobrir solitário dentro de suas próprias convicções.
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