Segundo declarações dadas em Mimoso, no Estado do Mato Grosso, divulgadas pelo jornalista Jacques Gosch, do Rdnews,
do mesmo estado, o Comandante do Exército, General Eduardo Dias da
Costa Villas Bôas, declarou, nas comemorações do sesquicentenário do
nascimento do Marechal Cândido Rondon, que
os "manifestantes que reivindicam uma intervenção militar contra a
presidente Dilma Rousseff nas ruas ou nas redes sociais estão
completamente fora da realidade".
Segundo
o Comandante do Exército, "não é papel das Forças Armadas fiscalizar o
governo, derrubar o governo ou interferir na vida política do
país"..."os manifestantes que pedem intervenção militar precisam
compreender as normas da democracia brasileira antes de propor soluções
sem fundamentação legal."
"Isso
absolutamente não procede. Não tem nenhum fundamento. O Exército é uma
força de sustentação do Estado de Direito e deve obediência à Presidente
da República, que é nossa
Comandante-em-Chefe."
As
declarações do Comandante do Exército são didáticas e esclarecedoras, e
deveriam servir de exemplo para outras áreas da administração pública,
no sentido da orientação da população, muitas vezes manipulada pelos que
torcem pelo "quanto pior melhor", e adoram disseminar boatos e
desinformação, também a propósito das forças armadas, com táticas como a
"invenção" de militares que não existem e o uso não autorizado de
assinaturas de oficiais honrados da ativa e da reserva em manifestos de
araque.
Os
militares mais inteligentes e esclarecidos, não podem, como membros das
forças armadas, expressar, diretamente, juízo de valor político.
Mas
sentem - independentemente de sua posição política particular - que boa
parte da resistência - e problemas - que os governos do PT vêm
enfrentando, a ponto de o Brasil estar sendo reconhecidamente,
descaradamente, espionado por potências estrangeiras, advêm da adoção de
posições nacionalistas em áreas como a economia, as relações externas e
a defesa nacional.
Não
pode agradar àqueles que se consideram nossos tutores históricos ou
eternos - por suposto destino manifesto - o fato de o Brasil ter passado
da décima-quarta para a sétima economia do mundo, em apenas 12 anos,
saindo de 504 bilhões de dólares de PIB para 2 trilhões e 300 bilhões de
dólares agora, segundo o Banco Mundial.
Não
pode agradar a nossos concorrentes pela liderança continental, ou, pelo
menos, aos seus segmentos mais imperialistas e conservadores, que o
Brasil tenha estendido sua influência do Cone Sul ao Caribe, por meio de
instrumentos como o BNDES, o Mercosul, a CELAC, a UNASUL, e, sobretudo,
do Conselho de Segurança da América do Sul, que tem possibilitado
estreita cooperação entre as forças armadas da região, no sentido da
manutenção da paz e da colaboração no desenvolvimento de meios de defesa
contra potências extra regionais, com a compra de lanchas de patrulha
fluvial, pelo Brasil, em países como a Colômbia, a venda de aviões aqui
fabricados para diferentes países latino-americanos; e a participação de
países como a Argentina - antes considerados como nossos
arqui-inimigos - no desenvolvimento de projetos conjuntos como o avião
KC-390, da
Embraer.
Não
pode agradar a esses mesmos segmentos, que se expressam por meio de
editoriais em jornais conservadores estrangeiros, que o Brasil mantenha
uma postura independente e não alinhada na ONU e em outros fóruns
internacionais; que tenha pago sua dívida com o FMI; que pleiteie mais
poder nessa instituição e no Banco Mundial; que tenha estabelecido uma
aliança estratégica com alguns dos maiores países do mundo, entre eles
três potências espaciais e atômicas - China, Rússia, Índia, para
oferecer ao planeta alternativa política e econômica à tutela dos
Estados Unidos e da Europa, neste novo século; assim como nossa
aproximação, também no âmbito do BRICS, com a África do Sul, para o
estabelecimento de um eixo entre as duas maiores potências militares da
região, para fazer frente estratégica e
diplomaticamente à expansão da OTAN para o sul do Atlântico.
Assim
como não pode agradar a esses setores conservadores e imperialistas
estrangeiros, que o Brasil tenha voltado a produzir blindados, como os
Guarani; que ele tenha construído uma nova base de submersíveis, que ele
tenha montado uma fábrica própria e esteja construindo um submarino
atômico e mais quatro convencionais. Ou que tenha alcançado a
motorização própria de mísseis navais tipo Exocet; que esteja
desenvolvendo mísseis de cruzeiro como o AV-MT 300 Matador, com 300
quilômetros de alcance; ou voltado a fabricar e a exportar barcos
patrulha para países como a Namíbia; ou modernizado e voltado a
exportar sistemas de mísseis como o Astros 2020 da Avibras; ou, com a
participação de outros países,
jatos militares cargueiros capazes de transportar até tanques, como o
KC-390; radares como a família SABER da Bradar; a desenvolver caças de
última geração como o Gripen NG-BR, com a Suécia; e fabricar, pela
primeira vez, nossos próprios rifles de assalto, capazes de disparar até
600 tiros por minuto, como o IA-2, da IMBEL; ou mísseis Ar-Ar A-Darter
como os que estamos desenvolvendo com a África do Sul.
O
militar é o cidadão fardado. Ele é pai, ele é filho, ele é irmão. O
militar brasileiro preza o campo de manobras, a bandeira da Pátria
desfraldada ao sol, o avanço dos tanques e da infantaria, a
“Selva!”profunda da Amazônia, o vento que sustenta o corpo do
paraquedista em queda livre, que bate no rosto do marinheiro no convés
da embarcação, na pista do porta-aviões ou na
torre do submarino, ainda molhado, que acabou de emergir.
O
militar brasileiro honra seu uniforme, tem - desde a escola e a
academia - orgulho de se perfilar e desfilar com seus companheiros de
farda, mas não se sente diferente, nem superior. Ele toma sua cerveja,
gosta de assar uma carne, passeia com a família, frequenta a igreja, o
cinema, leva o filho ao futebol e, quando é o caso de que possa se
alistar como eleitor, comparece à sua Seção Eleitoral, exercendo, como
qualquer brasileiro – seu pai, seu irmão, seu sobrinho, seu avô - o
direito que tem de influenciar e decidir, pelo voto secreto e universal,
o destino de sua cidade, de seu estado e de seu país.
O
militar brasileiro preza o bom combate. A
disputa limpa, homem contra homem, guerreiro armado contra seu
oponente, o calor da luta, a vitória honrada, fruto da estratégia, do
esmerado preparo, da determinação. Ele tem orgulho de defender, contra o
eventual inimigo estrangeiro, as cores da Nação.
Os
heróis do Exército, da Marinha, da Aeronáutica, são aqueles, que, hoje,
em tempos de paz, estão participando, direta e indiretamente, do
desenvolvimento de nossas novas armas, e da proteção do país, assim como
heróis das nossas três forças, são os que pereceram na defesa das
costas brasileiras e na Campanha da Itália, que deram sua vida pela
liberdade e a democracia, nas águas do Atlântico e na montanha, em
lugares como Monte Castello, Castelnuovo, Montese, Collechio, Fornovodi
Taro - onde o Brasil fez quase
15.000 prisioneiros em uma única batalha , obtendo a rendição
incondicional do General OtttoFretter Pico, comandante da 148 Divisão
Wermacht, e do General Mario Carloni, comandante da Divisão
BersaglieriItalia, evitando que essa importante força escapasse para a
Alemanha, e capturando centenas de caminhões e veículos militares .
Os
brasileiros que caíram em nossa mais gloriosa guerra, o fizeram porque
estavam combatendo o nazismo. Um regime em que não havia voto e a
tortura e o assassinato eram moeda corrente. Os nossos pracinhas – cuja
memória nunca é demais reverenciar – lutaram para que os brasileiros
pudessem, um dia, votar diretamente em seu Presidente e livremente
expressar suas ideias.
Aos
macarthistas de plantão é preciso lembrar que o confronto entre as
nações, agora, se dá muito mais no campo geopolítico do que no
ideológico.
À
China, não interessa expandir o seu bem-sucedido modelo de "um país,
dois sistemas", que introduziu as modernas técnicas de produção
capitalista em um país comunista com uma economia amplamente, em mais de
80%, estatizada, para outras nações, até para não arranjar
concorrentes, como a maior base industrial do mundo.
Assim
como não interessa a Cuba - que acaba de reatar relações diplomáticas
com
os EUA - exportar sua "revolução" a não ser que sejam seus
“revolucionários” modelos de medicina tropical, de combate ao
analfabetismo e de fomento ao esporte, de que são testemunhas os mais de
3 milhões de turistas estrangeiros que recebe todos os anos.
E, muito menos interessa meter a mão em cumbuca à Coreia do Norte, totalmente isolada, que está muito mais para mentecaptomunista
do que para comunista, se formos considerar e dar ouvidos às notícias -
algumas absolutamente incríveis - que nos chegam pela imprensa
"ocidental" como a de que o Baby Doc às avessas que governa
aquele país teria mandado executar um general, o seu Ministro da Defesa,
por ter adormecido durante um desfile.
O
discurso anticomunista, hoje, serve ao que quase sempre serviu no
passado. Manter o status quo daqueles que não desejam perder seus
privilégios, dentro de cada país, e atacar e enfraquecer os governos,
nações, alianças e regiões que se oponham ao status quo consolidado, nos
últimos 200 anos, pela dominação dos Estados Unidos da América do
Norte, e, secundariamente, da Europa, sobre o resto do mundo, incluído o
Brasil, mesmo que muitos brasileiros adorem emular os EUA e ajam como
se já fôssemos de fato, e há tempos, uma colônia norte-americana.
Uma
das principais razões para o Brasil estar sendo atacado, nesse
contexto, é ter facilitado a aproximação, depois do balão de ensaio do
IBAS (a aliança estratégica que nos une à Índia e à África do Sul) de
potências que os conservadores norte-americanos - que usam o
discurso anticomunista como meio de defender seus interesses -
gostariam de manter afastadas e divididas, como a Índia, a China e a
Rússia.
Não
fazendo fronteira com nenhuma dessas nações, nem estando situado em sua
região de influência, o Brasil - até mesmo por não ter ambições
territoriais - tem atuado, desde o início da criação do BRICS, como um
algodão entre cristais, facilitando a relação e ajudando a dirimir
problemas no âmbito do grupo, e a viabilizar uma aliança contra a qual o
"ocidente" sempre torceu, a ponto da imprensa ocidental tentar
desancá-la, sabotá-la e desacreditá-la a todo momento, sempre que tem
uma oportunidade.
O
BRICS é perigoso para a hegemonia cultural, política,
econômica e militar anglo-saxã, não apenas como exemplo, mas,
principalmente, porque seus membros têm cacife para criar alternativas
viáveis para o desenvolvimento econômico e social dos países mais
pobres.
Alternativas
que não passam por instituições sob o controle dos EUA e da Europa,
como o FMI e o Banco Mundial, onde o poder e as cotas decisórias há
muito não correspondem à importância do Brasil, China, Rússia e Índia no
mundo atual.
Esta
é a razão que está por trás da criação do Banco do BRICS e do fundo de
reservas de seus países membros, para auxílio recíproco, aprovados pela
Comissão de Relações Externas da Câmara dos Deputados esta semana.
A
China é, hoje, o maior credor dos Estados Unidos. Pequim tem quase 4
trilhões de dólares em reservas internacionais. Nova Deli e Moscou têm
mais de 350 bilhões de dólares cada, e o Brasil, com 373 bilhões de
dólares (mais do que a Rússia ou a Índia, neste momento) acaba de voltar
à condição de, isoladamente, terceiro maior credor externo dos Estados
Unidos, segundo a página oficial do próprio tesouro
norte-americano: http://www.treasury.gov/ticdata/Publish/mfh.txt
Se
enganam, portanto, aqueles, que, na internet, ou nas ruas, acham que
aos militares brasileiros, como cidadãos, interessa voltar ao tempo em
que o Ministro das Relações Exteriores do Brasil tirava os sapatos no
aeroporto, nos Estados Unidos, para deixar ser revistado; ou que
devíamos 40 bilhões de dólares ao FMI; ou assinávamos voluntariamente
tratados que nos impediam de pesquisar ou desenvolver armamento atômico.
O
nacionalismo e o desenvolvimentismo, foram o esteio de governos
militares como os do general Ernesto Geisel, que enfrentou os radicais
das forças armadas e peitou os Estados Unidos, em episódios como o da
assinatura do acordo nuclear Brasil-Alemanha.
Só
o nacionalismo - que pode se projetar para um regionalismo integrativo
e pragmático na América do Sul - e o desenvolvimentismo podem conduzir o
Brasil ao lugar que merece, como o quinto maior país em território e
população e a sétima economia
do mundo; e os adversários do PT deveriam estar preocupados em criar
projeto nesse sentido que corrigisse os eventuais erros e omissões do
atual governo, no lugar de querer se contrapor a esse objetivo,
patriótico, permanente, nacional, com a defesa do neoliberalismo, da
desnacionalização do patrimônio público, da entrega das reservas do
présal - cuja lei de royalties deveria ser modificada para incluir
também parte dos gastos com defesa - e o desmonte do BNDES, que tem sido
essencial para a evolução da indústria bélica nacional.
Ao falar como falou - mesmo que o tenha feito fortuitamente, respondendo a
indagação eventual do repórter que o entrevistava - o Comandante do
Exército, General Eduardo Villas Bôas passou clara, serena e
inequívoca mensagem.
As
armas não têm coloração política. Não são socialistas, nem
anticomunistas, nem "capitalistas", nem fascistas, nem conservadoras.
Elas servem aos interesses permanentes da nacionalidade, que são o
engrandecimento e o fortalecimento da Pátria, e o fazem sob o mandato do
Povo Brasileiro, consubstanciado no Artigo Primeiro do texto
constitucional, que reza: "todo o poder emana do povo e em seu nome será
exercido" por representantes eleitos, começando por aquele que tenha
sido contemplado pela maioria dos votos como candidato à Presidente da
República, a quem cabe, entre outras atribuições, a de Comandante
Supremo das Forças Armadas.
Esse foi o recado das armas. Em defesa da Lei, da
Constituição e da Democracia. E é assim que ele deve ser entendido.
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